"Decidida a começar a expurgar as minhas séries sucessivas de pecado usei meu antigo diário como forma de dar o primeiro passo em direção a libertação parcial de uma Garota Besta, (soa bonito isso não? Apesar de que a palavra libertação fosse um grande exagero) e o deixaria depois de pronto para que alguém o encontrasse e soubesse que por trás de toda dor do submundo também existiam algumas almas condenadas arrependidas, o que me parece difícil de acreditar mesmo quando falo por mim mesma, e se a compaixão ainda existir que possa ao menos senti-la diante de nós, mesmo que não sejamos mais capaz de tê-la novamente diante deles, isso facilita nossa vida, diminui nossa culpa quando a consciencia bate.
O que aprendi foi que a escuridão é dura, maltrata e de tanto ser relegado a ela você aprende a não ser mais indiferente as suas causas e efeitos, a lei de sobrevivência se aplica ao extremo nas noites e suas criaturas a fora, e se eu estava pronta para contar de tudo? (me perguntava agora olhando para o papel parcialmente em branco), não sei e dou de ombros, apenas me deixei levar como se ouvisse alguém contar relatos sobre seus pesadelos recorrentes e me conduzisse pela mão como expectadora na busca pelo paraíso perdido, que nessa altura eu já sabia ser literalmente e totalmente perdido para mim, porém, de forma muito relutante, queria aceitar ou ao menos compreender que este é meu castigo. Uma vida noturna, mortes ... Que garota sonha com isso? Eu só sei que eu nunca sonhei, e eu a tinha, numa forma sinistra de poder.
Não tinha mais volta, fui enganada e meu único lugar era pela noite numa floresta escura com meus "amigos" adquiridos com o decorrer dos fatos...
Nesse momento estou bem, sem maiores dores, acostumada a escuridão que envolve meus atos e ao que se transformou minha existência.
Uso um poema emprestado do Fera para resumir tudo antes de prosseguir.
(Acalme-se, os lamentos adolescentes estão por acabar... Antes leia o poema)
"Minha vida é lúgubre, relegada a pó e sombra. Nada tenho, nada sou capaz de ter.
Mal sai a lua, minha prisão é aberta.
E quando o sol vêm tomar seu lugar minha alma liberta se tranca novamente nos meus piores castigos.
A dor.
A solidão.
A fraqueza.
O medo.
Tudo o que eu provoco, eu recebo.
Porém. Somente a morte, essa que assusta os vivos mas traz descanso aos sofridos, essa nunca me pegará nos braços e me descansará enquanto eu ainda for capaz de semeá-la entre os meus queridos inimigos."
Esse foi um dos poemas feito por Clauss quando a solidão era sua única companhia em seus primeiros anos e agora entendo exatamente o porquê, pessoas como nós nunca terão o fim desejável que a maioria das pessoas querem, aposentados dormindo em sua rede até ouvir o chamado final.
Temos o que merecemos e o que merecemos nem sempre é bom."
...
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Garota Besta-Fera & Outros Contos Adaptados (Sob Revisão)
Short StoryUma nova versão dos grandes contos! E que tal começarmos com... "A Bela e A Fera?"