Reencontro

575 49 29
                                    

Point's of view Lauren

Dormir às 8:00pm. Acordar às 6:00am. Café da manhã às 07:30am. Almoço às 10:30am. Banho às 5:00pm. Jantar às 7:00pm e tudo de volta outra vez. Essa era a minha rotina há quatro anos e meio, desde o dia em que fui condenada a cumprir quinze anos de detenção em regime fechado por tráfico de drogas. Duas vezes na semana, nas segundas e nas quintas, nós tínhamos banho de sol no pátio amplo e coberto por gramado. No inverno ficávamos em uma espécie de quadra, mas ela não tinha arquibancada, nem jogos ou qualquer coisa que me recordasse o que era felicidade ou ter uma vida normal. Os sábados eram os dias de visita, porém elas aconteciam apenas duas vezes no mês, ou seja, sábado sim sábado não e esse era definitivamente o pior dia da semana para mim, pois mesmo tendo se passado quatro anos desde a minha prisão, eu nunca aceitei que meus pais ou meus irmãos fossem me visitar, mas eles iam mesmo assim e eu sempre me sentia imunda, envergonhada por todas as escolhas erradas que fiz na vida e o pior, culpada por todas as lágrimas de saudade que eu via a minha família soltar a cada visita onde uma mesa de ferro e um par de algemas nos separavam e me mantinha ainda mais aprisionada do que antes. Aprisionada nas minhas próprias mágoas, dores, remorsos e culpa.

Hoje era um dia de sábado, estávamos em pleno verão e por conta disso agora as visitas podiam ser feitas no pátio, mas eu não estava recebendo a visita da minha família há pelo menos três semanas, tudo isso graças à um pedido meu de não me visitarem por um tempo e depois de muito choro eles me entenderam, prometendo que respeitariam a minha decisão. Hoje era o último sábado de visitas do mês e eu permaneci deitada na minha cama sabendo que não teriam visitas para mim enquanto a voz rude e exageradamente alta de uma das carcereiras chamava o nome das detentas que receberiam visita.

- Detenta 0727 - franzi o cenho quando ouvi a minha sequência favorita de números e estiquei a cabeça para fora da cama, dando de cara com a carcereira que deveria ter dois metros de altura e era com certeza a mais mal humorada de todas - Está surda detenta? Pátio!

Me levantei antes que ela resolvesse me puxar pelos cabelos, que agora estavam na altura dos seios e da cor natural castanha e passei pela mulher, mas não sem antes sentir o seu olhar sobre mim e uma leve apalpada na minha bunda. Toda vez, mesma coisa.

- Isso mesmo detenta, caladinha.

Neguei com a cabeça e revirei os olhos. Eu posso estar presa e arrependida dos meus erros, mas eu juro que se tivesse uma arma e essa mulher de frente para mim em um beco escuro, ela nunca mais iria apertar a minha bunda ou de qualquer outra mulher na vida. Segui meu caminho até a fila já quase totalmente formada de detentas e quando o enorme portão abriu nós fomos encaminhadas para o pátio, fechei meus olhos fortemente quando senti a claridade do sol queimar minhas retinas.

Famílias se encontrando. Detentas chorando. Filhos pequenos sendo pegados no colo e namoradas ou namorados se agarrando loucamente até serem repreendidos pelos guardas que cuidavam da segurança da visitação, era sempre assim todas as vezes que as visitas aconteciam no pátio, já que na sala de visitação o contato físico não é permitido.

Olhei ao redor procurando pela minha família, mas todos os núcleos familiares que estavam ali não se pareciam em nada com o meu. Nenhum cara enorme e rechonchudo para chamar de pai, nenhuma loira dos olhos verdes inchados e molhados para chamar de mãe, nenhum irmão e irmã implicante dizendo que eu deveria deixar de ser dramática e aceitar a visita deles porque eles me amavam.

Estava me preparando para dar meia volta e entrar dentro do pavilhão carcereiro novamente quando de lado vi o seu perfil. Meu coração parou no mesmo instante.

Seu olhar estava perdido, seus lábios tinham um suave bico enquanto o seu cenho estava franzido e ela observava o local, seus olhos cerrados e suas mãos nervosamente mexendo na barra da blusa de seda que ela usava. Seu cabelo estava lindamente solto, grande e volumoso como sempre foi, seu rosto um pouco mais maduro do que eu me lembrava e o seu corpo bem mais esbelto e cheio de curvas do que já foi um dia.

InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora