Meias verdades

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Ainda era difícil de assimilar. Era como se ela houvesse acordado em um universo paralelo.

Cansada de ficar naquele quarto, encarando as paredes de vidro, e sendo observada com curiosidade pelos agentes que ali passavam (sentindo-se um animalzinho preso em uma jaula no zoológico), ela decidiu levantar-se e sair para dar uma volta na base.

Fitz conversava com outro agente em um dos corredores quando a avistou dando um passeio.

— Jemma, o que está fazendo? – ele perguntou, preocupado, deixando seu interlocutor para trás e caminhando na direção dela.

— Eu já falei que estou bem – Jemma parou diante dele, com os braços cruzados e uma postura altiva – não há motivos para continuar me mantendo naquele quarto como se eu fosse uma enferma. Eu perdi a memória, mas sou fisicamente capaz de fazer qualquer coisa.

Fitz abriu a boca para replicar, mas nada lhe veio à mente. Ela estava certa afinal.

— E tem outra coisa: eu quero saber exatamente qual é a minha posição na hierarquia da SHIELD.

O engenheiro ponderou por alguns momentos antes de responder.

— Você é a diretora.

Ela revirou os olhos, ainda de braços cruzados.

— Estou falando sério, Fitz!

— Hey, Diretora Simmons! – outra agente se aproximou, dirigindo-se a ela – é bom ver que está de pé e o tiro não causou danos mais graves. Com licença, senhora – e com aquela sentença, a agente se afastou.

Jemma ficou sem reação por um instante, encarando as costas da agente que se distanciava, então tornou a olhar para Fitz que ostentava um sorriso quase infantil em seu rosto.

— Por que está me revelando a verdade em doses homeopáticas?

As feições de Fitz se alteraram bruscamente, seu rosto nublou-se. Não era aquilo que ele esperava ouvir.

— Jemma...

— Não! Sabe qual é a minha impressão? Que você não quer que eu saiba. Que prefere que eu fique no escuro até minha memória voltar novamente!

— Jemma – ele disse novamente, as mãos a frente do corpo, como se clamasse por calma – eu entendo que está com raiva, mas isso não é motivo para... Bem, pra que você fique... – ele não conseguiu completar a frase, mas Simmons entendeu onde ele queria chegar. Fitz baixou o olhar, sentindo-se insuportavelmente angustiado – eu não quero esconder nada de você. É só que é tão difícil escolher as palavras certas para te contar... Assim como é difícil pra você compreender.

Ele estava certo. A bioquímica fechou os olhos, repreendendo a si mesma mentalmente, enquanto tocava a ferida ocasionada pela bala que passou de raspão pelo lado esquerdo da cabeça.

— Me perdoe... – ela disse com sinceridade – acho que estou com transtorno de stress pós-traumático. Tenho rompantes de raiva... Está sendo difícil de controlar.

O engenheiro a encarou com um semblante complacente, mas, ao mesmo tempo, atormentado.

Ambos desviaram o olhar um do outro no instante que se seguiu, até que uma ideia cintilou na mente de Fitz.

— Eu vou te mostrar uma coisa – ele disse sorrindo e a puxando pela mão. Jemma encarou a mão dele na sua. Provavelmente foi um gesto involuntário. Nem ele havia se dado conta, até pela maneira casual com que a tocava e a guiava pela mão.

Quando Jemma deu por si, estava em um laboratório. Um laboratório que lhe parecia estranhamente familiar como todo o resto.

— Este é o nosso laboratório.

FragmentadaOnde histórias criam vida. Descubra agora