De volta para casa

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Ela tamborilava os dedos no próprio joelho, de maneira impaciente. O rosto virado na direção de uma das pequenas janelas do jato que os transportava até Perthshire. Embora estivesse com os olhos pregados nas nuvens lá fora, não estava lhes prestando a mínima atenção. Sua cabeça estava em outro lugar. Estava inquieta e nem mesmo conseguia identificar a origem e a razão de todo aquele nervosismo.

— Jemma...? – ela sentiu a mão afável de Fitz sobre a sua, fazendo-a parar imediatamente de mover os dedos – você está bem?

Ela tornou o olhar na direção do marido e era como se houvesse despertado de um transe.

— Estou... – respondeu, procurando sorrir, mas sua voz saiu ansiosa – estou nervosa. Não sei explicar...

— Deve estar cheia de expectativas. Afinal, é como se estivesse indo para lá pela primeira vez – comentou Fitz com um sorriso, procurando deixá-la mais calma.

Athena dormia profundamente no colo do engenheiro. Jemma levou uma mão à cabeça da filha, acariciando-a, e deu um longo suspiro. Ela queria acreditar em Fitz quando este dizia que ela estava nervosa por conta da expectativa. Mas a verdade é que Jemma tinha um pressentimento de que a propriedade em Perthshire lhe traria mais surpresas do que ela poderia imaginar. Como se aquela viagem pudesse ter um papel decisivo em sua vida. O que quer que fosse, parecia contrastar a níveis insanos com certo vazio que sentia agora... Com lacunas não preenchidas de sua vida. Era horrível sentir-se assim, fragmentada, como se estivesse tentando remontar sua história através de pedaços escassos e dos quais nem mesmo se lembrava.

Tudo o que Jemma queria, era sua vida de volta. Suas lembranças, tudo aquilo que a fazia ser quem era agora. Tudo que corroborou na sua construção e evolução como mulher, profissional, esposa e mãe... Mesmo que estivesse ao lado daqueles que amava, partindo para um lugar mágico, e agora triunfante após a reunião com Stark, era inevitável sentir aquele vazio, sentir-se incompleta, como se algo de suma importância lhe faltasse. Ela só desejava recuperar a si mesma da escuridão em que se encontrava.

*

— Estão entregues – disse Mack com um sorriso estampado no rosto. Ele havia se oferecido para pilotar o jato a fim de levá-los até Perthshire.

Ambos agradeceram ao amigo lhe desejando um bom retorno à base da SHIELD, enquanto este os aconselhava a aproveitar bem a estadia em Perthshire, uma vez que não era fácil conseguir tirar férias daquele trabalho.

O entusiasmo e a ansiedade tornavam a respiração de Jemma alta e irregular. E ela não conseguiu controlar sua emoção quando avistou o chalé de seus sonhos; seus olhos lacrimejaram e um sorriso pleno se desenhou em seu rosto. Fitz se aproximou por trás dela, afagando seus ombros.

— Vamos entrar? – ele sussurrou próximo ao seu ouvido.

Jemma simplesmente assentiu. Emocionada demais para proferir qualquer palavra.

Agora, Athena estava bem desperta e, pela primeira vez, entrou no chalé caminhando com seus próprios pés, dando a mão ao pai apenas para subir os degraus de entrada.

Fitz permitiu que Jemma tivesse seu momento de apreciação e possível reconhecimento em silêncio. De modo que parou na porta e a contemplou, caminhar devagar por aquele espaço, procurando absorver tudo à sua volta, tocando os móveis, olhando os retratos sobre a lareira, deslizando os dedos por pequenos objetos como um relógio de mesa vintage e a pequena réplica de uma cabine telefônica britânica. Ela espreitou uma coleção de livros de Isaac Asimov impecavelmente organizada em uma modesta estante. Observou as janelas, a pintura das paredes, os móveis rústicos. Sentiu o aroma de madeira nova.

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