Prioridade

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- Ok... Mãe! Eu não estou entendendo... Respire fundo e me diga o que houve... Por favor, fale mais devagar – ele andou de um lado para o outro no laboratório, tentando absorver as palavras de sua mãe.

- Athena! – ela disse do outro lado da linha.

- O que houve com ela? – Fitz perguntou, exasperado, a mão que segurava o celular apertou o aparelho com mais força.

- Desde que acordou, ela não quer comer nada. Estava muito quieta, aborrecida e agora está ficando com febre.

Fitz respirou fundo, levando a mão à cabeça.

- Filho, é melhor que você venha pra casa.

- Eu já estou indo – garantiu antes de encerrar a ligação.

Ele deu alguns passos na direção de Elena que percebeu o quanto ele estava perturbado.

- Algum problema com Athena? – ela perguntou com seu sotaque carregado.

- Sinto muito, YoYo – disse, desfazendo-se de seu jaleco – eu sei que prometi fazer os reparos necessários em seus braços mecânicos, mas... Eu creio que Athena esteja doente.

- É muito grave? – ela perguntou, soando preocupada.

- Ainda não sei... Mas espero que não.

A inumana sorriu, compreensiva e amistosa.

- Vá ver sua filha, Fitz. Isso pode esperar.

- Tem certeza?

- Claro, sua família em primeiro lugar.

- Ela tem razão, Fitz – disse Coulson – nós podemos sobreviver um dia sem você – acrescentou com certo gracejo para desanuviar o clima e dissipar a tensão existente – eu duvido que iremos encarar alguma missão no momento então, por ora, YoYo consegue se virar sem os reparos, certo?

Ela assentiu com segurança.

- No momento, nosso maior problema é o Stark. É com isso que temos de nos preocupar por aqui.

- Senhor, tem certeza que não há a mínima possibilidade de...

- Não, Fitz. Ele não me ouviria. Stark e os demais Vingadores ainda estão transtornados e ressentidos por eu ter demorado tanto tempo a revelar que estava vivo. E com razão. Minha pretensa morte pareceu parte de uma estratégia friamente calculada. Eu não o culpo por pensar assim. Pensaria o mesmo em seu lugar.

Fitz concordou com a cabeça.

- Você pode ir. Como eu disse, nos viramos por aqui.

O engenheiro não tardou a abandonar o laboratório e seguir rumo à saída da base a passos acelerados.

*

Ele encontrou Athena nos braços de Jemma quando chegou ao apartamento. A bioquímica parecia exausta e alarmada. Sua filha estava com os olhos vermelhos, o rosto molhado pelas lágrimas. Fitz tocou em sua testa, notando que sua temperatura estava alta.

- Vocês chamaram um médico? – indagou, o semblante aflito enquanto a tirava dos braços de Jemma. Athena imediatamente enroscou os braços no pescoço do pai, afundando a cabeça em seu peito, choramingando baixinho.

- Não... – sua mãe respondeu, titubeante.

- Como assim, não? – ele inquiriu, alteando a voz.

- Porque eu creio que seja psicológico – ela afirmou.

- O que quer dizer com isso?

Jemma se adiantou para explicar

- Ela acordou assustada. Provavelmente teve um pesadelo... Ela perguntou de você várias vezes – sua voz era um misto de preocupação e angústia – Onde estava, se ia voltar logo... De repente, começou a ficar com febre...

- Leo, deveria passar mais tempo com sua filha. Ela está sentindo sua falta.

Fitz abriu a boca para dizer alguma coisa, porém, desistiu. Olhou para Athena em seus braços, agarrada a ele com tanta força que parecia que jamais iria soltá-lo.

- Está bem – ele disse após um momento de silêncio e reflexão – eu vou ligar para o Coulson.

No momento em que Fitz tentou entregar Athena para Jemma, a menina recomeçou a chorar, desesperada, recusando-se a sair do colo do pai.

- Pode deixar, eu ligo pra ele – a mãe de Fitz se ofereceu, tirando o celular do bolso do casaco do engenheiro e se distanciando para telefonar.

- É melhor que ela fique no seu colo, por enquanto. Ela ainda está assustada.

O tom de voz de Jemma era baixo e deprimido. Ela tocou levemente a cabeça de Athena. As lágrimas da garotinha molhavam a camisa que Fitz usava. O engenheiro reparou que Jemma também estava abatida, o que era compreensível após todas as tentativas mal sucedidas em fazer Athena parar de chorar.

- Ok, descanse um pouco. Eu vou ficar com ela até que se acalme.

Athena permaneceu no colo do pai durante o dia todo. Para qualquer canto do apartamento que ele fosse, tinha de levá-la junto. Aos poucos, após um banho morno, a febre foi cedendo, sem o auxílio de medicamentos, o que apenas comprovava a tese da mãe de Fitz, sobre ser psicológico. Mesmo assim, não havia quem conseguisse tirá-la dos braços dele.

À tarde, ele conseguiu fazer com que Athena brincasse sentada sobre o tapete de seu quarto, mas ele tinha de permanecer por perto. Quando sua mãe se preparava para ir embora, o engenheiro se ofereceu para acompanhá-la até à porta. Crendo que Athena estava suficientemente distraída com seus brinquedos, ele levantou-se e caminhou ao lado da mãe até à saída. Assim que ela se despediu, Fitz ouviu o choro de sua filha logo atrás de si. Ela tinha andado, aos tropeços, com passinhos vacilantes, do quarto até ali e, agora, se agarrava às pernas do pai. Fitz compreendeu imediatamente que a garotinha temia que ele deixasse o apartamento, portanto, fechou a porta e a trancou para que não restassem dúvidas.

Ele se inclinou para tomá-la nos braços no exato instante em que Jemma adentrava o recinto.

- Não se preocupe. Eu não vou a lugar nenhum, macaquinha.

Jemma franziu o cenho ao ouvir aquela sentença.

- Você a chamou do que eu acho que chamou? – ela perguntou, surpreendendo Fitz que, até então, não havia notado sua presença.

- Ela gosta, não é mesmo? – disse, dirigindo-se a Athena.

A garotinha gargalhou em seu colo. Jemma, por sua vez, cruzou os braços, censurando o marido com o olhar.

- Ok, mas eu não sou mãe de macaco.

O engenheiro riu.

- É o que você costuma dizer.

- Bem, então quer dizer que a Jemma que lembra e a que não lembra concordam nisso e você deveria parar de chamá-la assim.

Ao invés de contrariado, o semblante que Fitz exibia era plácido, sereno...

- Me pergunto em que mais a Jemma que lembra e a que não lembra concordam.

Um pequeno e retraído sorriso crispou os lábios da bioquímica.

- Certamente concordamos que você é um ótimo pai.

Fitz devolveu seu sorriso e Jemma poderia jurar que havia um novo brilho em seu olhar. E não poderia estar mais certa. O engenheiro não conseguia esconder a satisfação e o regozijo diante da constatação de que havia naturalidade, espontaneidade na vida doméstica que partilhavam agora... Era como se nada houvesse mudado, como se a tragédia não houvesse existido. Mesmo a perda de memória de Jemma, que a fizera esquecer de um recorte fundamental de sua vida, não fora o suficiente para apagar a chama que existia entre eles. Ela era muito forte para se extinguir.

FragmentadaOnde histórias criam vida. Descubra agora