Despertando

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Suas pálpebras se abriram bem lentamente.

Acordou com a impressão de que havia dormido por séculos.

E pela expressão no rosto do homem que estava ao lado de sua cama – e que ela conseguiu capturar mesmo com os olhos semicerrados – não duvidava de que houvesse se passado pelo menos alguns anos desde a última vez em que esteve desperta.

O rosto de Fitz era um misto de surpresa, alívio e consternação.

– Jemma? – ele sussurrou. E sua voz pareceu mais doce do que ela se lembrava e extremamente bem-vinda aos seus ouvidos.

Ela procurou sorrir, mas aquela simples ação parecia demandar um esforço sobre-humano.

– Fitz... – Ela murmurou. Nunca sua voz havia soado tão frágil – o que houve?

– Um acidente – ele fez uma pausa e então prosseguiu aos sussurros – mas depois falamos sobre isso. Como você está se sentindo?

Um som lamurioso, ainda que baixinho, se desprendeu da garganta dela.

– Com dor... Um pouco de dor de cabeça.

Fitz afastou uma mecha do cabelo dela que caía pela testa e pareceu examinar a região por um momento. Então, suspirou e acariciou sua cabeça suavemente, correndo os dedos por entre os fios de cabelo. Aquela sensação reconfortou Jemma.

Os olhos dela permaneciam entreabertos, mas mesmo assim ela conseguiu perceber que havia algo diferente em Fitz.

– Você parece... Parece mais velho – ela disse, as palavras se arrastando.

Fitz deu uma risada contida.

– Eu devo ter envelhecido bastante nos últimos dias...

– Por quanto tempo eu dormi? – quis saber, o cortando repentinamente.

Ele permaneceu calado por um longo segundo antes de responder.

– Seis dias.

Uau! Era bastante tempo. Mas não tanto quanto Jemma supunha e receava.

– Oh, eu tive medo que você dissesse que foram dez anos...

Fitz riu novamente.

– Bom saber. Eu não perdi a regeneração do Doctor, certo? Continua o mesmo?

– Sim, não se preocupe – um sorriso curvou os cantos de seus lábios e devolveu o brilho ao seu olhar – ainda é o mesmo Capaldi.

– Oh, Fitz. Eu tenho certeza que o nome dele não é esse – comentou Jemma, agora fechando totalmente os olhos. Suas pálpebras estavam preguiçosas e não respondiam aos seus esforços de mantê-las abertas.

Fitz franziu o cenho, confuso.

– Você ainda deve estar um pouco desorientada – comentou com uma voz baixa e acalentadora – é melhor descansar um pouco mais.

– Mas eu já descansei tanto... – o volume de sua voz caiu nas últimas sílabas. Sentindo uma das mãos de Fitz em seu cabelo, ela tornou a adormecer.

*

Despertou horas depois e, desta vez, seus olhos estavam bem abertos. Deu uma boa olhada ao seu redor, inspirando fundo, e constatando que não estava em um hospital comum.

– Que lugar é esse? – perguntou em um sussurro para si mesma.

Do lado de fora das paredes de vidro, pessoas caminhavam para lá e para cá em um corredor. Nenhuma delas olhou para dentro do quarto em que ela se encontrava, provavelmente por já saberem que estava fora de perigo e apenas dormindo nas últimas horas.

Jemma sentou-se na cama, sentindo-se um tanto quanto perdida. Especialmente quando estendeu as mãos à frente, pousando-as no próprio colo.

Avaliou-as com cuidado.

O dedo anelar da mão esquerda apresentava uma argola nem um pouco familiar...

Um movimento súbito na porta a despertou do transe. Fitz havia entrado no quarto. Só podia ser ele...

... Mesmo que não fosse o Fitz de que ela se lembrava.

– Não era impressão, você está mesmo mais velho – foram as primeiras palavras que disse a ele, o encarando com certo assombro.

Fitz não soube explicar o que mais o preocupou. Se as palavras dela ou o semblante com que ela o fitava.

– Jemma... – ele começou, se aproximando.

Ela ergueu a palma da mão na direção dele, sinalizando para que parasse. Fitz imediatamente deteve seus passos.

– Como você disse que é o nome do Doctor?

Ele engoliu em seco, confuso, ponderando se deveria responder. Algo lhe dizia que nada de bom viria após aquele diálogo sem sentido.

– Peter Capaldi.

Jemma desviou o olhar dele, como se procurasse as respostas pelo chão.

– Ele veio depois do David Tennant?

Fitz negou com a cabeça.

– Não, depois do Matt Smith.

Ela não se recordava daquele nome. Tinha certeza que nunca havia ouvido falar...

– Em que ano estamos? – ela indagou, desesperançosa.

Após um longo suspiro, Fitz enfim respondeu:

– 2018.

Jemma apertou os olhos com força, levando as duas mãos à cabeça.

– Não pode ser.

Fitz se aproximou, sentando-se ao seu lado, na beirada da cama.

– Jemma – disse, tirando as mãos dela da frente do rosto e deparando-se com seus olhos turvos devido às lágrimas que escorriam sem parar – me diga o que há com você...

– Eu não me lembro. Não me lembro de nada, Fitz...

O semblante interrogativo dele exigia uma resposta mais precisa.

– Eu não consigo me lembrar de nada dos últimos dez anos – ela concluiu com a voz alterada devido ao pranto e uma expressão de desalento em seu rosto.

Fitz, por sua vez, estacou, sem reação. O chão pareceu fugir sob seus pés. O mundo pareceu desabar ao seu redor.

*

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