Athena

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— Então... - ela começou a falar, hesitante - nós temos um filho - as palavras saíram baixas, como se Jemma estivesse afirmando para si mesma, se certificando de que aquela informação era mesmo real.

— Uma filha, na verdade - Fitz corrigiu em um tom inexpressivo de voz, tirando o celular da mão dela e deslizando o dedo pela tela de modo a passar as fotos. Agora, a tela exibia uma foto de uma criança sorridente com um discreto laço na cabeça. Não havia como negar os traços similares aos seus e aos de Fitz. Jemma conseguiu identificar de imediato os contornos que comprovavam que a menina era o resultado da combinação de seus DNAs.

Ela fechou os olhos, tentando engolir aquele sentimento estranho que parecia fechar sua garganta, fazendo um esforço sobre-humano para impedir que as lágrimas, ocasionadas pela confusão, pela revolta diante daquela situação e pela tristeza de não se lembrar da própria filha, se projetassem para fora de seus olhos. Ela as manteve internamente, sufocando sua alma e seu coração. Sentiu-se, de súbito, impotente, de mãos atadas, sem saber o que fazer. Era como seu houvesse perdido o controle de sua vida, seu rumo, sua direção...

Jemma levou um tempo para falar novamente – para ponderar as palavras que diria a seguir e evitar que sua voz quebrasse em meio à sentença. Fitz, por sua vez, permanecia impassível, olhando para a foto em seu celular de uma maneira intensa e penetrante.

— Quanto tempo ela tem? - Simmons finalmente perguntou com uma voz frágil e incerta.

— Fez um ano na semana passada - ele respondeu de maneira casual.

— Ela... Parece tão pequena...

— Essas fotos são mais antigas - Fitz novamente deslizou o dedo pela tela - essa é mais atual - disse, entregando o aparelho para Jemma mais uma vez, ainda sem olhar para ela.

A imagem trazia Jemma com a menina em seu colo. Ambas sorriam. A cientista exibia um sorriso tão exultante e vivaz na foto que fez seu coração se aquecer e latejar ao mesmo tempo. Sentimentos contraditórios tomaram conta de si. Ao mesmo tempo em que sentia uma pontada irreprimível de genuína alegria ao ver aquela imagem, uma dor intensa parecia dilacerar seu peito. Era tudo muito confuso.

Era horrível simplesmente não saber mais quem ela era...

— Qual é o nome dela? - Jemma indagou, sem saber mais como dar prosseguimento àquela conversa.

— Athena.

Ela não conseguiu evitar um sorriso e um leve arquear de sobrancelhas.

— Curioso - comentou, pela primeira vez tornando o rosto na direção de Fitz. Ele devolveu seu olhar sem pensar e ambos ficaram desconcertados. Eles tinham um grau tão elevado de intimidade e, naquele momento, era como se não conhecessem tão bem assim - Quero dizer... Nunca pensei que daria o nome de uma deusa para minha filha... Quando tivesse uma - ela completou, desviando o olhar novamente.

— Achamos que faria sentido, dado o nosso histórico na SHIELD. Isto é, ela é a deusa da sabedoria, estratégia, justiça, inspiração e da matemática. É uma excelente mistura do racional e do mítico. Durante nossa trajetória na SHIELD, nos deparamos com fenômenos que desafiavam a lógica, mas sempre tentamos explicá-los por um viés científico. Por mais conflitantes e incoerentes que as duas coisas soassem. Athena parecia um modo de unir esses dois universos e torná-los familiares um ao outro.

Jemma deu um sorriso contido, devolvendo o celular para Fitz.

— Muito inteligente e perspicaz - ela disse, distraída por aquele pensamento - não poderia esperar outra coisa vinda de... Nós.

Fitz riu baixinho.

Tomando fôlego e coragem, ela se virou para ele no sofá, encarando-o inteiramente.

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