Velhos amigos

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O quarto mergulhou em um silêncio desconcertante.

Nenhum deles se atreveu a falar no minuto seguinte à dedução de Jemma. Fitz permaneceu de cabeça baixa, enquanto ela encarava o vazio, tentando se situar na nova realidade à sua volta.

Então ela era casada com Fitz. Era isso o que o anel em seu dedo simbolizava...

Evitando olhar para ele, a bioquímica respirou bem fundo antes de recomeçar a falar.

— Isso é... Bem – ela riu, sem humor, no entanto – isso é o que se chama de plot twist...

— Decepcionada? – Fitz indagou em um tom inexpressivo.

Finalmente, ela tomou coragem de virar o rosto na direção dele e encará-lo. Não que ela estivesse preparada para isso, mas a pergunta foi tão impactante que ela não conseguiu evitar reagir dessa maneira.

— Não! – ela tentou assegurá-lo, o semblante grave. Mas a verdade é que Jemma estava incerta quanto àquela resposta. Não que estivesse realmente decepcionada. Só estava tendo dificuldades em encarar aquele fato. Parecia algo muito além de sua compreensão, da realidade que ela costumava viver aos 19 de anos de idade – não é isso – ela desviou novamente o rosto.

— Sei que, no ponto onde sua memória parou, você pensava que, bem... – ele ria nervosamente, sem de fato achar graça naquele raciocínio – poderia ter feito bem melhor do que isso...

— Não é isso, Fitz! – ela o cortou prontamente com um tom de voz severo – é só que... No ponto em que parei, você é meu melhor amigo – seu timbre atenuou e ela se atrapalhou na escolha das palavras que diria a seguir – e não consigo te imaginar como... Nada além... Eu não pensei... Jamais passou pela minha cabeça...

Ela parou de falar no exato instante em que se deu conta de que cada palavra sua assemelhava-se a um golpe violento no peito de Fitz. Os olhos dele pareceram diminutos, vazios, desprovidos de brilho. Ele não se atrevia a olhar para ela, encarando um ponto qualquer no chão. Jemma suspirou, cerrando os olhos.

— Me desculpe... Eu não quis dizer...

— Tudo bem, Jemma. Eu entendo – ele tentou dar um sorriso compreensivo, mas este soou triste – não tem motivos para pedir desculpas e nem se explicar. Ainda somos melhores amigos... De uma forma um pouco diferente, mas... Ainda é isso.

O quarto ficou novamente imerso em silêncio.

— Você vai me contar tudo? – interrogou Jemma após alguns segundos calada.

— Cada coisa ao seu tempo – ele praticamente murmurou.

Jemma lhe lançou um olhar inquisidor.

— Sem meias verdades, Fitz.

— Eu vou lhe contar tudo – ele assegurou, sacudindo a cabeça de um modo determinante – Mas aos poucos.

Ela tentou protestar, mas Fitz a silenciou com um dedo.

— Terá de confiar em mim. É melhor revelar aos poucos. Tudo o que vivemos na SHIELD... É uma loucura. Contar tudo de uma vez seria o equivalente a jogá-la em meio a um turbilhão. Vamos com calma.

A bioquímica inspirou, descontente, tornando o olhar na direção oposta de Fitz.

Ele tentou dizer algo, mas as palavras morreram em seus lábios. Ele engoliu em seco, profundamente triste, sem ideia do que fazer para melhorar a situação.

Jemma não estava brava com ele. Como poderia? Estava com raiva da situação em si. Com raiva de si mesma por não conseguir se lembrar de nada. Por tentar forçar a si mesma a se recordar e nenhuma lembrança retornar à sua mente.

FragmentadaOnde histórias criam vida. Descubra agora