Os murmúrios e risadas provenientes da sala a despertaram naquela manhã. Ela levantou-se vagarosamente da cama e seguiu na direção em que vinham vozes.
– Mais um, Athena! Venha – Fitz a encorajou, ajoelhado no centro da sala.
Com um amplo sorriso e um passo desajeitado, Athena chegou aos braços do pai que prontamente a segurou antes que ela se desequilibrasse.
– Muito bem! – ele disse a abraçando. Fitz soava genuinamente orgulhoso. As risadas de Athena, por sua vez, indicavam que ela estava se divertindo muito.
Enfim, o engenheiro avistou Jemma os observando da entrada do corredor.
– Ah.... Jemma! Athena estava ensaiando seus primeiros passos.
Um sorriso contido curvou os cantos dos lábios da bioquímica. Timidamente, ela foi se aproximando de ambos.
– Vamos tentar de novo? – ele perguntou à garotinha que assentiu levemente – agora, você vai naquela direção – a instruiu, apontando para onde Jemma estava.
Athena foi ainda melhor dessa vez. Procurando manter o equilíbrio, ela deu quatro passos na direção de Simmons. Quando estava próxima o suficiente, agarrou a mão da mãe, procurando por apoio.
O sorriso de Jemma se ampliou. Então, ela sentiu que Athena a puxava pela mão. Ela seguiu a menina ao mesmo tempo em que a amparava para não cair. Ao chegar perto de Fitz, Athena levou a mão de Jemma à do engenheiro, fazendo com que eles se tocassem.
Um silêncio constrangedor se abateu sobre eles por um instante. Ambos ficaram sem reação, sem conseguir ignorar o calor daquele toque, inseguros em intensificar o aperto de suas mãos, mas recusando-se a romper o contato. Acidentalmente, seus olhares se encontraram. De imediato, suas mãos ficaram trêmulas, vacilantes...
Athena, de pé, bateu palma uma vez antes de cair sentada. Ela não chorou, nem sequer havia se machucado. Apenas pareceu assustada; surpresa devido à queda repentina.
Tudo aconteceu em questão de um minuto. Do momento em que eles tocaram suas mãos até à queda de Athena.
– Opa! – Fitz disse, soltando a mão de Jemma e abaixando-se para pegar a filha do chão – Está indo bem. Logo, estará correndo pela casa – ele pausou de súbito, o sorriso com que encarava a filha em seus braços, cedendo espaço a uma expressão séria ao desviar o olhar para Jemma – Bem... Minha mãe vai chegar daqui a pouco para ficar com vocês duas.
A confusão estampou o rosto da bioquímica.
– Eu pensei ter ouvido sua mãe dizer que hoje era seu dia de folga.
– Era pra ser, mas houve uma mudança de planos... Coulson me ligou hoje de manhã, solicitando minha presença.
– Oh – ela abaixou a cabeça, se sentindo frustrada de repente. Aquela seria uma nova chance para tentar conversar com ele. Mas, agora, havia se perdido – o que está acontecendo na base?
– É... Complicado – respondeu com certa hesitação.
Simmons sabia que, o que quer que fosse que estivesse acontecendo, exigiria uma extensa explicação. E Fitz não dispunha de tempo para explanar a situação para ela.
– Assim que eu puder, eu te explico o que há... Mas não se preocupe. Não é nada que não possamos contornar.
Jemma suspirou, angustiada.
– É horrível saber que sou a diretora e não posso ajudar em um momento difícil...
– Não é sua culpa – ele pausou por um momento, refletindo, antes de prosseguir – e falando nisso... Eu queria pedir desculpas pelo que disse ontem.
Jemma tornou a olhar para ele. O semblante de Fitz transparecia sinceridade.
– Você não merecia ouvir aquelas palavras... Eu estava frustrado e com raiva. Mas não justifica. Não havia motivos para descarregar minha frustração... Você não tem culpa de nada.
Ela assentiu, mordendo a parte interna dos lábios, nervosamente.
– Sabe, Fitz... – Ela chegou mais perto do marido e da filha que se encontrava no colo dele – você tem o direito de sentir raiva tanto quanto eu.
– Sim, mas... Foi errado meu modo de expressá-la. E a situação é bem mais complicada pra você. Não devo ser egoísta.
– E eu não acho justo relativizar sua dor e seu sentimento. A situação pode parecer mais difícil pra mim, mas nem posso imaginar como é pra você. São... Apenas diferentes perspectivas – ela concluiu como se estivesse fazendo uma análise científica, arqueando levemente as sobrancelhas, e Fitz não pode evitar sorrir. Quando ela falava daquele modo, se parecia muito com a Jemma que ele conhecia tão bem.
O engenheiro colocou Athena no chão, dando um beijo no alto de sua cabeça.
– Comporte-se, meu amor! – e então virou-se para Jemma, um tanto sem jeito – nos vemos mais tarde... Você pode me ligar se precisar de qualquer coisa.
A bioquímica assentiu, levando uma mecha de cabelo para trás da orelha desajeitadamente e evitando olhá-lo nos olhos. De esguelha, ela percebeu que Athena engatinhava em sua direção.
Inconscientemente, Simmons sabia que ele deveria lhe dar um beijo de despedida sempre que deixava o apartamento. Naquele primeiro dia, ele havia lhe beijado na testa. Mas hoje, não se atreveria a fazer o mesmo. E daí vinha o breve clima de desconforto que se instalara entre eles antes de Fitz sair.
Sem mais cerimônias, ele deu meia-volta, dirigindo-se à porta, dando uma última olhada em ambas antes de fechá-la, sem dizer mais nenhuma palavra.
Jemma ainda encarou o vazio por alguns segundos, antes de sentir as mãozinhas insistentes de Athena agarrarem sua perna.
– Mã... – ela balbuciou, apontando para a porta por onde seu pai havia acabado de sair.
Resignada, Simmons suspirou.
– Eu sei... Eu também não queria que ele fosse – disse, antes de se curvar a fim de tomar Athena em seus braços. Ela sentou-se em uma poltrona com a filha em seu colo, virada de frente para ela – o que faremos enquanto sua avó não aparece?
A garotinha sorriu e apontou para o macaco de pelúcia sobre uma mesa de canto ao lado do sofá. A bioquímica deu uma risada baixa, estendendo o braço para alcançá-lo.
– Tenho certeza de que isso é um presente do seu pai.
Como de costume, Athena o abraçou, debruçando-se sobre o bichinho de pelúcia. Quando ela sorria daquele jeito, Jemma não sabia explicar o turbilhão de sensações que tomavam conta dela inteiramente. Seu coração se aquecia, seu mundo parecia se iluminar, seu peito se enchia de uma imensa alegria que ela não sabia explicar a procedência a despeito de seus dois PhD's, seus olhos se inundavam de lágrimas.
– Eu mal posso acreditar, sabia? Às vezes parece incrível... – comentou, passando suavemente a ponta dos dedos pelo cabelo da menina – A sua existência, o fato de você ser uma combinação perfeita de nós dois...
A garota continuava sorrindo e brincando com seu macaco de pelúcia, alheia às palavras da mãe e aonde ela queria chegar com aquele monólogo reflexivo.
– Athena... – Jemma prosseguiu, contemplando sua filha com Fitz – você é o resultado de treze anos de história... Da evolução do nosso relacionamento... Do nosso amor – ela sussurrou, absorta em suas próprias palavras, em seus pensamentos e no sorriso de sua filha.
De repente, Athena parou de sorrir, distraída pelo ferimento na testa de Jemma, ocasionado pela bala que passara de raspão por ali. Ela levantou a mão, tão pequena, a fim de tocar suavemente aquela região.
– Oh, isso? – ela procurou sorrir de modo a tranquilizar a menina – Já está melhorando...
Por fora, pelo menos... Foi o pensamento que passou pela cabeça de Jemma. Internamente, ela ainda tentava se encontrar.
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Fragmentada
FanfictionUm recorte de sua vida se apaga. Há alguns poucos fragmentos a serem reunidos de modo a dar sentido à sua história. E alguém para tentar, dia após dia, reconquistá-la. *** Como eu sempre digo: não possuo nada, a não ser uma extensa coleção de quadri...