O que eu perdi?

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 – Eu... não estou entendendo - Fitz percebeu que era algo ridículo a se dizer no exato momento em que proferiu a sentença.

— Se estamos em 2018 como você diz - ela falava entre soluços - então... então eu não me lembro de nada dos últimos dez anos... Eu não...

Seu choro era convulsivo e desesperado. E se intensificava cada vez mais. Fitz se sentiu de mãos atadas, sem saber o que fazer. Era difícil pensar em algo para dizer quando o rosto dela estava coberto de lágrimas.

— Jemma... vai ficar tudo bem - nem ele mesmo conseguiu acreditar naquelas palavras.

Ela balançou a cabeça negativamente.

— Não... Não vai, não...

Depois disso, tudo aconteceu rápido demais. A porta se abriu de maneira abrupta e Coulson e Daisy entraram no quarto com semblantes preocupados, perguntando o que estava acontecendo. Fitz levantou-se de um salto, tentando argumentar para que eles saíssem.

— Não é uma boa hora, pessoal!

— Quem são essas pessoas? - Jemma indagou, assustada, até mesmo pela forma repentina com que eles entraram no quarto.

— Jemma... Somos nós! - Daisy tentou se aproximar, sem entender o que estava havendo, mas Coulson colocou o braço a sua frente, a impedindo de prosseguir.

— É melhor deixarmos os dois a sós.

— Mas...

— Vamos, Daisy! - Coulson foi categórico, puxando a inumana pelo braço para fora do quarto. Ela ainda deu uma última olhada por cima do ombro para sua amiga, antes de sair, notando que ela a fitava como se nunca a houvesse visto na vida.

Assim que deixaram o quarto, Jemma tornou a levar as mãos à cabeça, como se estivesse se esforçando para acordar de um pesadelo. Fitz não sabia o que fazer para acalmá-la. Jemma estava começando a entrar em pânico.

Pela parede de vidro do quarto, o engenheiro viu que o médico se aproximava rapidamente, provavelmente alertado por Coulson. Fitz abriu a porta, pedindo a ele que tomasse uma providência imediata.

— Ela perdeu a memória e entrou em desespero.

— Teremos que lhe dar um sedativo - o doutor afirmou.

— Não! Eu não quero! Eu não posso continuar dormindo.

Mesmo contra a sua vontade, o doutor injetou o medicamento em seu braço, enquanto Fitz a segurava para que ela não se debatesse.

Uma voz gritava em seu subconsciente ao mesmo tempo em que o mundo se tornava um borrão e Jemma apagava novamente. Ela sabia que não podia continuar dormindo. Já havia perdido uma parte significativa de si... Anos de sua vida. Tinha medo de dormir e se perder de vez de si mesma, de nunca mais se encontrar.

Precisava desesperadamente enfrentar a realidade acordada. E tentar entendê-la.

*

Seus olhos se abriram vagarosamente e foram se ajustando à luz do quarto. Seu corpo parecia pesado. Sentiu como se tivesse dormido por séculos. Então seu coração deu um sobressalto, lembrando-se dos últimos momentos acordada antes de lhe aplicarem um sedativo.

Esperava que não houvesse dormido por séculos. Já era demais ter se esquecido dos últimos dez anos...

Jemma sentou-se na cama, olhando em torno de si e sentindo, de repente, uma pontada na cabeça. Olhou para a mesa de cabeceira e encontrou um espelho. Imediatamente, esticou o braço para alcançá-lo.

FragmentadaOnde histórias criam vida. Descubra agora