Sem Rumo

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Jemma a contemplou durante o que pareceu ser um longo minuto, sem demonstrar qualquer outra emoção que não fosse o choque ao perceber que Athena era real.

A mãe de Fitz foi cuidadosa em observá-la e tentar uma abordagem sutil.

— Quer segurá-la? – Perguntou com parcimônia, franzindo o cenho.

— Não! – Jemma respondeu de imediato, dando um passo para trás, como se houvesse levado um susto. Ao se dar conta de sua reação, tratou de se recompor e justificar seu comportamento – quero dizer... – recomeçou, levando uma mecha de cabelo para trás da orelha – eu não sou... Muito boa com isso.

A mãe de Fitz sorriu, divertida.

— Está enganada, Jemma. Você é ótima. Apenas não se lembra – ela desviou o olhar da nora e, aos poucos, seu sorriso foi se desfazendo, dando vez a um semblante preocupado e complacente. Jemma seguiu seu olhar, capturando de relance o movimento de Fitz se distanciando da porta.

— Leo... – Sua mãe o chamou tarde demais. Ele já havia se afastado.

Nenhuma delas havia percebido que ele estava lá, provavelmente encostado no batente, observado a cena. Jemma sentiu o coração afundar no peito quando se deu conta de que, possivelmente, Fitz havia interpretado errado a relutância dela em segurar a menina. Talvez Fitz houvesse entendido que aquele receio em tomá-la em seus braços – algo que Jemma sentia quando mais jovem, por ser totalmente inexperiente com crianças – se tratasse de rejeição. Uma nova onda de raiva atravessou todo o seu ser. Ela respirou fundo e contou até dez, evitando descarregar a fúria em quem não merecia. Mais tarde, teria uma conversa franca com seu marido.

Ela engoliu em seco. Ainda era estranho se referir a ele dessa maneira. Bem como era estranho saber que aquela garotinha frágil e sorridente era sua filha com ele.

— Sua cabeça deve estar uma bagunça. Sequer consigo imaginar – comentou a mãe de Fitz como se houvesse lido seus pensamentos.

Jemma baixou o olhar, procurando disfarçar toda a confusão de sentimentos que ameaçava engolfá-la com um sorriso retraído.

— O que há com Leo?

— Ele está frustrado... Assim como eu, mas no caso dele é diferente – ela pausou por um momento, reflexiva – Acha que estou decepcionada com... Essa nova realidade.

Sua sogra assentiu.

— Alguma ideia do porquê de ele estar se sentindo assim?

Jemma ergueu os ombros.

— Eu pensei que a senhora saberia – disse, recostando-se, despercebidamente, no berço e cruzando os braços – deve conhecer seu filho melhor do que eu.

— Não mesmo. Ninguém conhece o meu filho melhor do que você – ela concluiu enquanto se aproximava para colocar Athena no berço. A menina não estava mais sorrindo. Agora encarava Jemma com curiosidade.

A bioquímica riu sem um traço de humor.

— Até ela sabe que há algo de errado comigo.

— Não se preocupe – a mãe de Fitz procurou acalmá-la, tocando em seu ombro e olhando firmemente nos olhos da nora – tudo vai ficar bem. Logo, sua memória estará de volta.

Eu só espero que até lá, tudo isso não acabe por causar danos irreparáveis na minha vida. Jemma pensou consigo, mas não ousou verbalizar.

— Eu vou falar com Fitz.

Ela caminhou determinada pelo corredor que dava acesso aos quartos. Desejando, de repente, que não o tivesse feito... Jemma queria ter se preparado melhor para aquele momento. Hesitante e levemente desconcertada, ela entrou no quarto que, pela conclusão óbvia a que chegou, dividia com Fitz.

FragmentadaOnde histórias criam vida. Descubra agora