— Nós temos mesmo um chalé em Perthshire? – ela perguntou, lançando um olhar cético ao marido.
Fitz arqueou as sobrancelhas com um sorriso desafiador no rosto diante da notória descrença no tom de voz de Jemma.
— Acha que é uma montagem ou o quê?
— Não – ela ergueu ligeiramente os ombros – é só que... Parece surreal.
Já era manhã e eles estavam sobre a cama, agora inteiramente vestidos. Haviam passado a última hora vendo fotos de suas viagens e de momentos em família. Fitz observava com certo fascínio as reações de Jemma diante daquelas fotos. Ela estava tão surpresa quanto deslumbrada. Era como se estivesse vivendo pela primeira vez todos aqueles momentos de que não se lembrava através dos registros fotográficos; lutando e vencendo uma guerra particular contra sua amnésia, fazendo proveito dos escassos recursos que possuía.
— Você vai me levar até lá? – Perguntou, relanceando um olhar cobiçoso a Fitz, diante do qual ele jamais poderia se negar a fazer o que quer que ela viesse a pedir.
— Se você quiser... – ele respondeu, ainda sorrindo.
Jemma aproximou-se para beijá-lo, breve e carinhosamente, então tornou a olhar a galeria de fotos no tablet. Havia tantos momentos dos quais ela gostaria de se lembrar urgentemente. Mas, por ora, podia se conformar com aquela realidade de vê-los registrados em fotografias ao lado de Fitz. De alguma forma, era como recuperar alguns pedaços de sua vida que foram arrancados de si com aquele tiro.
Bem como havia sido horas atrás, partilhando um momento de total e intensa intimidade com Fitz. Entregar-se àquele desvario não despertou nenhuma de suas memórias adormecidas – ela nem mesmo teve um déjà-vu de outras vezes em que ele a tocou – mas, ainda assim, foi como se ela, perdida, houvesse se encontrado novamente nos braços dele. Jemma recordava-se do arrepio que percorrera toda a sua pele, como ela se viu imersa em êxtase, o corpo todo envolto por um prazer profundo e absoluto, a sensação delirante de arrebatamento que a dominou. Nada, definitivamente, poderia se comparar ao deleite de ter Fitz dentro de si, de alcançar picos de prazer intensos e subsequentes com ele, de sentir-se tão plena e satisfeita.
Fitz não foi nada menos do que ela esperava. Perfeitamente gentil, terno e afetuoso, preocupando-se com o que ela sentia, com o quanto ela estava desfrutando daquele momento, mas também impetuoso quando as circunstâncias exigiram, respondendo aos seus instintos e atendendo aos anseios de Jemma. Quando, enfim, terminaram, ele encostou a testa na dela e olhou profundamente em seus olhos, perguntando se ela estava bem. Jemma achou a pergunta dispensável, visto que não poderia estar melhor e havia feito questão de expressar isso com todos os suspiros e sussurros que deixou escapar, bem como com sua linguagem corporal, sendo receptiva e recíproca ao seu toque. Mas ela compreendeu. Aquele se tratava de Fitz. E ele era excessivamente atencioso.
Recobrando-se do segundo de torpor que a acometeu por conta das lembranças que invadiram sua mente, ela deslizou o dedo pela tela do tablet a fim de continuar vendo as fotos. Deparou-se com imagens de seu próprio casamento e as fitou emocionada. Fitz limitou-se a permanecer em silêncio enquanto ela as admirava, sabendo que aquele era um momento íntimo e particular de Jemma com as lembranças que ela havia esquecido. A bioquímica desejava capturá-las em seu coração, uma vez que haviam escapado de sua memória. E assim mantê-las cativas e vivas em algum lugar dentro de si.
— Se algum dia a ideia de me casar passou pela cabeça em 19 anos... – ela começou a falar, depois de tanto tempo calada – creio que foi exatamente assim. Algo simples e romântico – completou sem conseguir conter uma lágrima fortuita que escapou de seu olho. De súbito, sentiu o dedo do engenheiro secar a lágrima que escorria por sua face. Ela aproximou-se mais de Fitz, descansando a cabeça em seu ombro. Os braços dele foram afáveis e acolhedores como sempre, acomodando-a contra seu corpo. Ele corria suavemente as pontas dos dedos pelo braço direito de Jemma que ainda segurava o tablet, agora vendo as fotos de sua lua de mel em Seychelles.
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Fragmentada
FanfictionUm recorte de sua vida se apaga. Há alguns poucos fragmentos a serem reunidos de modo a dar sentido à sua história. E alguém para tentar, dia após dia, reconquistá-la. *** Como eu sempre digo: não possuo nada, a não ser uma extensa coleção de quadri...