Fitz só voltava para casa tarde da noite. E somente para dormir. Às vezes, encontrava Jemma folheando seus antigos cadernos ou lendo suas memórias e confissões no tablet e notebook. Ele evitava passar muito tempo no apartamento, mas ligava o dia todo para saber de Athena. Quando chegava, passava um tempo com a filha e depois se dirigia ao quarto, onde dormia no divã, sem muito conversar com Jemma, apenas perguntando se ela estava bem e como tinha passado o dia. Ele queria lhe dar espaço.
Jemma não o julgava. Nem ela mesma sabia como conversar com ele, como tentar uma aproximação...
Ele já havia lhe contado tudo o que ela havia esquecido.
E eles também já haviam discutido o suficiente por uma vida... Era fato.
Sempre que tentavam se comunicar, a conversa culminava em Fitz sentindo-se extremamente culpado pela atual condição dela e menosprezando a si mesmo por ter em mente que Jemma estava decepcionada com o rumo que sua vida havia tomado.
Em sua mentalidade de 19 anos, Jemma não conseguia aceitar aquele cenário: Não conseguir travar um diálogo com Fitz sem sentir como se estivesse pisando em ovos; discutir constantemente com seu melhor amigo.
O melhor amigo que havia se tornado seu marido.
Ela ainda não havia processado aquela informação em sua totalidade. Mas, à medida que os dias passavam, Jemma não só se acostumava com a ideia, como pensava se tratar de uma progressão natural de seu relacionamento. Era como se, no fundo, mesmo que relutasse, ela soubesse, desde sempre, que era assim que eles iriam terminar.
Ela não podia imaginar seu futuro ao lado de mais ninguém, afinal.
Às vezes, ela o encarava na penumbra do quarto, dormindo sobre o divã... Quando perdia o sono, passava horas lhe fitando, pensando a respeito de como deveria ser outrora... No curioso fato de que, na verdade, ele dividia uma cama com ela e dormia ao seu lado todas as noites antes de Jemma perder a memória.
Certa noite – mais propriamente dizendo, no quarto dia desde que retornaram ao apartamento – como de costume, Fitz levantou-se ao ouvir Athena chorar. Ela sempre chorava no meio da noite, como toda criança de sua idade. Porém, daquela vez, seu choro parecera diferente à Jemma. De modo que, pouco depois que Fitz saiu do quarto, ela o seguiu, nas pontas dos pés, e os espreitou sutilmente pela porta entreaberta do quarto de Athena, tomando muito cuidado para que eles não a vissem.
O engenheiro estava sentado em uma poltrona com Athena em seu colo.
— Mã... Dói? – a garotinha balbuciou.
— Sim, a mamãe está meio doente por isso ela não tem te levado para passear. Mas logo ela irá melhorar.
Jemma tinha dificuldades em compreender o que Athena dizia em sua complicada e quase incompreensível língua de bebê. Mas Fitz fazia aquilo parecer tão fácil...
— Amo! – a menina falou, jogando os pequenos braços em torno do pescoço do pai, o abraçando.
— Eu também te amo.
Jemma fechou os olhos, sentindo seu peito latejar. Era como se seu coração estivesse se estilhaçando.
Ela voltou para o quarto, novamente na ponta dos pés, as lágrimas ameaçando deslizar pelo seu rosto, mas procurou ser forte e não deixá-las cair. Deitou-se na cama em posição fetal, sentindo-se inútil.
Sua filha precisava dela e sentia sua falta. Mas ela sequer havia conseguindo segurá-la nos últimos dias. A garotinha a encarava, sempre curiosa ou entristecida dos braços da mãe de Fitz, com quem ela ficava durante à tarde. Apesar dos esforços de sua sogra, Jemma sentia receio em tomá-la em seus braços, achando que não saberia como fazer aquilo direito, com medo de machucá-la. Ela já havia segurado crianças aos 19 anos. Mesmo que de maneira um tanto desajeitada. Mas Athena se tratava de sua filha.
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Fragmentada
FanfictionUm recorte de sua vida se apaga. Há alguns poucos fragmentos a serem reunidos de modo a dar sentido à sua história. E alguém para tentar, dia após dia, reconquistá-la. *** Como eu sempre digo: não possuo nada, a não ser uma extensa coleção de quadri...