Lado a lado

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Mais tarde, no quarto, Simmons ensaiou suas palavras diversas vezes antes que Fitz saísse do banho. Athena já se encontrava dormindo em seu berço e aquela era a oportunidade perfeita para ela expressar o que sentia... Mas a verdade é que nem ela mesma sabia o que estava sentindo...

Seu coração estava agitado dentro do peito, uma sensação absurda de ansiedade crescia dentro de si...

Assim que ele adentrou o quarto, pronto para dormir outra noite no divã a alguns metros de distância da cama, Jemma o encarou com um olhar que Fitz não conseguiu decifrar. Ela estava sentada em posição de lótus sobre a cama e sustentava uma expressão estranha, como a de uma criança que tinha acabado de fazer algo muito errado.

— Está tudo bem? – ele tomou coragem em perguntar, ainda parado próximo à porta, trajando a camiseta branca e o moletom casual que usava para dormir.

— Sim... Por que a pergunta? – Jemma soou extremamente nervosa aos próprios ouvidos. O fato de estar tamborilando seus dedos sobre o joelho não ajudava a passar uma impressão diferente.

— Você parece... Inquieta.

Ela desviou o olhar do dele por um momento, inspirando profundamente, antes de prosseguir.

— Venha até aqui – ela pediu com suavidade, olhando novamente em sua direção.

Fitz hesitou a princípio, incerto se deveria fazer o que ela lhe pedia. Entretanto, seguiu até a cama, com passos vacilantes.

— Sente-se – ela disse, dando leves batidas em um espaço ao seu lado no colchão, apontando para onde ele deveria se sentar.

O engenheiro sentou-se, sentindo-se repentinamente desconfortável. Seus ombros permaneceram tensos, era impossível relaxar.

— Fitz, eu... – igualmente tensa, ela recomeçou a falar, reunindo todos os poucos resquícios de coragem que lhe sobravam a fim de se aproximar mais dele – isso pode parecer estranho, mas... Eu sinto sua falta.

Ele a encarou, confuso.

— Eu estou aqui. Sempre – tornou com simplicidade.

Jemma sacudiu a cabeça, sentindo que já havia vivido uma cena similar àquela.

— Eu acho que estou tendo um déjà vu.

— É claro que está – ele respondeu com um sorriso fácil e enviesado, como se partilhasse uma piada interna consigo mesmo, a qual ela simplesmente desconhecia o sentido.

— Deixa pra lá... O fato é que... Eu queria te pedir uma coisa.

— E o que seria?

Ela torceu levemente os lábios.

— Você vai fazer se eu pedir, não é?

— Se estiver ao meu alcance...

— Durma aqui esta noite – ela o cortou, antes que vacilasse em seu propósito – quero dizer, ao meu lado... Na cama.

Era como se uma nuvem de borboletas estivesse agitando-se em seu estômago. Ele a encarou, atordoado, dando graças por não estar de pé naquele momento.

— Eu... Eu não poderia.

— Por que não? – ela perguntou como se a recusa dele fosse algo inconcebível.

— Porque não é certo...

— Tecnicamente, é o certo, já que somos casados.

— Sim, mas você não se lembra...

— E você acha que isso seria se aproveitar da minha amnésia?

— Sim... Bem, não... Eu não sei... – respondeu, sentindo-se completamente confuso – eu não consigo entender o contexto...

— Então pare de tentar entender e apenas aceite o meu pedido...

Eles falavam aos sussurros. A tensão gerada pela proximidade entre eles era quase palpável.

— Está bem – ele concordou, ainda inseguro de sua decisão.

Eles dormiram lado a lado. Mantendo uma distância segura e singela. Sem se tocarem.

Mas não foi assim que acordaram.

Na manhã seguinte, Jemma despertou sentindo braços familiares em torno de si. Ela demorou a abrir inteiramente os olhos, recusando-se a abandonar a letargia e aceitar a realidade. Então, sua consciência a atingiu repentinamente.

Os braços de Fitz a envolveram enquanto ela dormia. E ela havia sido receptiva a isso, uma vez que suas mãos estavam pousadas sobre as dele, como se quisesse evitar que ele se afastasse. Aparentemente, havia se sentido extremamente confortável nos braços de Fitz.

Aos poucos, ele foi despertando também, o queixo encostando levemente no ombro de Jemma. Ao se dar conta da proximidade entre seus corpos, ele abriu bem os olhos, deparando-se de imediato com o rosto de Jemma bem perto do seu.

— Bom dia – ela disse com um sorriso tímido.

— Hey... Me desculpe – o engenheiro falou meio sem jeito, mas sem afastar os braços dela – Não foi intencional, foi...

— Instintivo, eu sei – ela tornou em um sussurro.

Houve um segundo de silêncio entre eles que rapidamente foi rompido pela bioquímica.

— Você foi ver Athena no meio da noite? Eu não a ouvi chorar...

— Sim. Você dormiu tão profundamente... Eu não quis acordá-la.

Ficaram novamente calados, encarando um ao outro na penumbra do quarto. Há tempos seus rostos, seus corpos não ficavam tão próximos. Ambos estavam inteiramente conscientes daquele momento. Dos braços dele a envolvendo, da respiração dela misturando-se a dele, de que estavam inalando o perfume um do outro, da praticamente nula distância entre seus lábios...

E que parecia se extinguir cada vez mais, conforme seus rostos iam se aproximando...

— Alguém em casa? – a mãe de Fitz gritou da sala.

Eles se afastaram repentinamente. O engenheiro encarou, por cima do ombro, o relógio digital em sua mesa de cabeceira. Ao ver o horário, saltou da cama, dirigindo-se apressadamente para o guarda-roupa a fim de pegar algo para vestir.

— Que inferno! Eu já deveria estar na estrada.

Jemma sentou-se no colchão, ainda um tanto desorientada.

— Precisa mesmo ir?

Fitz parou o que estava fazendo e a encarou por um breve instante.

— Você sabe que sim... Há muitas coisas para resolver.

— Ok, eu sei... Me desculpe por perguntar – ela cerrou os olhos, suspirando.

— Eu queria poder ficar. De verdade – ele tornou, sincero – eu te vejo mais tarde – completou, saindo pela porta com o casaco e as demais peças de roupa que, certamente, vestiria em outro cômodo.

Visivelmente contrariada, ela se jogou para trás na cama, tendo o impacto absorvido pelos travesseiros. Ela adorava a mãe de Fitz, mas estava frustrada que ela tivesse atrapalhado aquele momento.

Intimamente, Jemma se perguntou o quanto seria capaz de avançar com Fitz se aquele beijo houvesse se concretizado. Ela fechou os olhos, não se preocupando em refrear ou ignorar o desejo que, aos poucos, ameaçava invadi-la.

FragmentadaOnde histórias criam vida. Descubra agora