Folheando seus antigos cadernos – que ela já concluíra se tratarem de tentativas infrutíferas de manter diários – Jemma encontrou uma lista de lugares e momentos especiais.
A noite avançava e a bioquímica se encontrava sozinha no quarto que dividia com Fitz. Ele ainda estava com Athena, possivelmente experimentando todos os métodos que estivessem ao seu alcance para fazê-la dormir. Desde contar histórias até cantarolar canções de ninar. E, pelo visto, por enquanto, nenhum deles havia surtido efeito. Era como se a menina quisesse passar o maior tempo que pudesse ao lado do pai depois do pesadelo que tivera pela manhã.
Ela leu atentamente a lista em sua caligrafia cuidadosa. A Caldeira na Academia da SHIELD era certamente um lugar especial até onde ela se lembrava. Perthshire, que havia conhecido com seu pais séculos atrás, quando ainda era pequena durante uma viagem para a Escócia em um feriado qualquer. O Planetário Nagoya, no Japão... Ela mal acreditava que já tinha colocado os pés lá. Era um sonho de infância que havia realizado e do qual não se lembrava. O que era frustrante. Virando a página, ela se deparou com um lugar especial em destaque: um hotel em Budapeste. Não passou despercebido o adendo disposto entre parênteses que dizia primeira vez com Fitz. Seu coração disparou de repente, ela respirou fundo, piscando os olhos continuamente.
Jemma era de poucas palavras. Ela apenas escrevia de maneira objetiva, sem se ater a detalhes, sem floreios, sem expressar muitos sentimentos. E, naquele momento, lamentou ser uma cientista racional e não uma aspirante a escritora. Ela queria saber mais acerca dos momentos dos quais não se lembrava. Como era ser tocada por alguém. Ser tocada por Fitz...
Ela largou os cadernos sobre a cama e levou as mãos à cabeça. Por mais que não se lembrasse, sentia falta daquilo de que não se lembrava. Fosse dos momentos que Fitz havia mostrado a ela por intermédio de fotografias, fosse do calor dele... Seu corpo sentia, inexplicavelmente, falta de seu toque. Afinal, eles eram casados e ela deveria estar acostumada a isso. Seu corpo havia se acostumado à sensação de dormir ao seu lado, em seus braços, todas as noites. Bem, não era apenas questão de costume. Havia sentimento. Eles se amavam, afinal... Entre eles havia amor, paixão, desejo... E uma intimidade que fora evoluindo gradativamente no decorrer dos anos.
Lembrou-se, repentinamente, de ter lido qualquer coisa acerca da primeira vez em que se relacionou sexualmente com alguém. Ela havia mencionado em um dos cadernos antigos, em uma lista de primeiras vezes que continha seu primeiro beijo, sua primeira nota A, seu primeiro bichinho de estimação, a primeira viagem que fez sozinha, a primeira relação sexual... Havia sido aos 19 anos. Provavelmente depois do ponto onde sua memória havia parado, uma vez que ela não conseguia se lembrar. Jemma sempre fora precoce em diversos aspectos, só não no sexo. Era uma curiosa, mas seletiva, de modo que demorou a se sentir pronta para explorar sua sexualidade.
Portanto, não sabia bem o que fazer. O que era estranho quando havia tido namorados, era casada e tinha até mesmo uma filha. Mas sabia que uma vez nos braços de Fitz, seria guiada precisamente pelas sensações. Seu corpo seria o responsável por guiá-la... De repente, se deu conta: estava considerando mesmo a possibilidade de fazer isso com Fitz?
Ela se jogou para trás, o impacto de seu corpo sendo absorvido pela maciez do colchão e dos travesseiros, enquanto tentava organizar seus pensamentos. Sentou-se novamente, de um sobressalto, quando a porta do quarto se abriu revelando a figura do engenheiro. Ele passou a mão pelo rosto, parecendo exausto. Seus olhos detiveram-se em Jemma.
- Algo errado?
- Não... Não há nada de errado – ela afirmou, procurando disfarçar a tensão, mas soou como uma mentira até mesmo para os seus próprios ouvidos – por que a pergunta?
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Fragmentada
Fiksi PenggemarUm recorte de sua vida se apaga. Há alguns poucos fragmentos a serem reunidos de modo a dar sentido à sua história. E alguém para tentar, dia após dia, reconquistá-la. *** Como eu sempre digo: não possuo nada, a não ser uma extensa coleção de quadri...