Capítulo 5

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— Não acredito nisso, Lou.

Mamãe estava abatida. Pela primeira vez no dia eu a vi parar tudo o que estava fazendo. A chaleira apitava atrás dela no fogão, mas ela nem parecia notar. Apenas me olhava.

Eu acabei de contar tudo a ela. Falei sobre a minha demissão e o envelope com o dinheiro dos três meses de seguro estava na mesa em minha frente. Eu me esforçava para parecer tão frustrada quanto ela, exatamente como fiquei quando Frank falou comigo, mas neste momento eu estava absorta com o quase beijo de Will. Tudo no que eu pensava era em seu cheiro, no seu toque e na sua pergunta. O que eu estou fazendo com ele? Para mim, em todos os acasos em que nos encontramos, ele sempre foi muito formal e... Distante. Como se era com uma pessoa que nem conhecia.

O barulho da porta batendo na entrada fez-me pular. Voltei à realidade num ímpeto. Papai apareceu na cozinha, tirando o casaco, com um sorriso enorme no rosto.

— Adivinhem quem é o novo jardineiro do Castelo Stotfold?

— A entrevista não era somente amanhã? — mamãe perguntou, confusa.

— Parece que o meu outro concorrente desistiu. Deve ter sabido de que eu estaria lá e ficou com medo. — disse, sorrindo, todo orgulhoso.

Eu exalei o ar, completamente aliviada com a notícia. Bom, pelo menos não seriamos todos desempregados. Mamãe deu um sorriso de leve, um tanto aliviado, outro tanto preocupado, quando ele entregou um beijo em seu roso.

— Olá, minha querida — ele me deu um beijo no alto da testa, sentando-se ao meu lado. Jogou o casaco na cadeira da frente. — Quero comer alguma coisa para comemorar isso.

Mamãe virou-se de costas e recomeçou suas tarefas em silencio. Seus ombros estavam contraídos. O clima era tenso.

— O que aconteceu? — ele perguntou, olhando de mim para mamãe, consecutivamente.

Engoli em seco.

— Frank vai fechar a cafeteria. Já me pagou os três meses do seguro-desemprego. Hoje foi meu último dia.

Não tive coragem de olhar para ele e então ouvi seu suspiro cansado. Eu me sentia péssima e completamente inútil por estar desempregada — mesmo que isso não tenha sido culpa minha.

Não fiquei mais de muitos minutos ali. Não conseguia. Fui para meu quarto e agora estava deitada em minha cama. O barulho da televisão passando Bob Esponja no quarto da frente me dizia que Thom ainda estava acordado, então eu não podia chamar Treen para contar tudo a ela... Bom, pelo menos uma parte das coisas. Cruzei os braços na frente do meu corpo, encarando o teto. Poucos feixes de luz entravam pela minha janela com o anoitecer. Coloquei a mão dentro do bolso do macaquinho e senti o cartão de Will. Meu coração pulou forte. Era como se ali, no refugio do meu quarto, os meus pensamentos sobre ele era a única coisa capaz de me fazer esquecer de todo o resto. E isso era, em boa parte, reconfortante e, por outro lado, intrigante. Afinal, eu não o conhecia. O que eu sabia dele? Que seu nome era William Traynor. Nem mesmo sabia se ele tinha outro nome ou não. Eu conhecia seu pai, Steven Traynor, mas, ao todo, não falei mais do que dez minutos dele. E eu conheço seu cheiro, que é diferente e dominante. Poderia senti-lo pelo resto de minha vida. Agora tenho também seu numero de telefone, mas eu podia usa-lo somente se Patrick voltasse a me atormentar. E é isso. Não tenho nenhuma outra informação irrelevante que me dê algum motivo óbvio por estar assim tão... Fissurada nele.

— Isso é coisa da minha cabeça. — falei baixinho, tão baixinho que mal pude me escutar.

Não é não, meu inconsciente gritou. Merda. Eu preciso me controlar. Preciso me convencer de que eu estou apenas procurando outra figura masculina para me encantar. É apenas isso, não é mesmo?

Como eu era antes de você (Hot Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora