Capítulo 23

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Liberdade. Esta é uma palavra que muitos sabem o significado, mas poucos conhecem seu verdadeiro sentido. Talvez seja pelo medo de conhecer o que realmente é liberdade. Eu tinha medo... Tinha medo até hoje. Até Will dar a partida na moto, fazendo o motor roncar alto em meus ouvidos, me deixando ficar assustada. Assim que entramos na trilha com chão de lama e árvores ao nosso redor, percebi o corpo de Will relaxar perto do meu, e percebi também que estava agarrada nele — talvez eu estivesse assim desde que a moto começou a andar, não sei. O veiculo foi ganhando velocidade e, em pouco tempo, estávamos há milhão, rápido, muito rápido, tão rápido que fazia as arvores ao meu redor não passarem apenas de borrões verdes. Ainda estava com medo, mas agora é diferente. É apenas um medo bobo, aqueles de preocupação necessária, mas, no fundo, eu estava curtindo o que estávamos fazendo. O vento bate forte contra nós, fazendo os poucos cabelos que estavam fora do meu capacete voarem loucamente, e algumas partes do meu corpo gelavam-se, mas a sensação é gostosa. Quando passamos por lombas altas que faziam a moto flutuar por alguns instantes, ouvia os gritos empolgados de Will, e os meus também, talvez fosse de medo, ou de pura ansiedade. E quando atolamos em uma parte da trilha que tinha mais lama do que qualquer outra coisa, eu gritei de felicidade vendo a lama voar e cair sobre nós, sujando-nos. Nunca tive essa sensação antes. Meu coração estava acelerado, mas não sabia ao certo se era porque eu estava empolgada, ou apavorada demais para conseguir respirar ou me manter tranquila. A adrenalina rolava a toda pelo meu corpo, deleitando-me.

Então, minutos depois, as coisas ao meu redor pararam de ser apenas coisas; era a natureza viva, bem ali, pertinho de mim. O vento que batia contra nós não era apenas vento; era o que provava que isto é real. A nossa fuga em direção à floresta imensa e verde que nos rodeava era empolgante e, ao mesmo tempo, prazerosa demais para ser ignorada. E, quando comecei a enxergar novamente o estacionamento da Docklands Riders, finalmente entendi o que Will falava sobre andar de moto. Entendi quando disse que isto é uma das poucas coisas que o relaxam.

— Por quanto tempo andamos? — gritei, feliz e histérica, quando a moto começou a andar devagar.

— Cinquenta minutos — disse, olhando-me pelo retrovisor, como ele faz a maior parte do passeio, e vi seus olhos se contraírem um pouquinho em um sorriso.

Will parou a moto no estacionamento e Rony saiu correndo da barraca de entrada para nos atender. Desci da moto, tirando o capacete, imitando os movimentos de Will. Olhei para baixo, para o meu corpo, e percebi que minhas pernas tremiam. Estou completamente suja de barro, mas eu não me importo com isto agora. Simplesmente não consigo esconder o sorriso feliz do meu rosto.

— Como foi à trilha, Sr. Traynor? — O moreno perguntou, risonho, fazendo uma expressão de "uau" quando viu nossas roupas.

— Foi maravilhosa, Rony, obrigada. — Então Will apontou para mim com o queixo. — Ela adorou.

Não soube o que dizer aos dois, apenas abri um sorriso maior do que já estava em meu rosto. Comecei a despir a roupa dos equipamentos, ainda sentindo a adrenalina latejar em minhas veias, pedindo mais. Eu não conhecia esta parte minha. Nunca soube o quanto eu seria capaz de gostar aventuras deste tipo, mas Will acabara de me mostrar que eu gosto do perigo. Gosto da sensação de estar ao ar livre, com a natureza em minha volta, e sendo guiada de forma tão perigosa por uma pessoa que eu confio, mesmo conhecendo pouco. Esta ultima sensação pode mesmo ser considerada? Não sei. Talvez, sim, porque pensar dessa forma fazia o momento ficar... Melhor.

Quando tirei toda a roupa, Will já havia feito isso muito antes e me esperava, de braços cruzados, enquanto, ao fundo, Nathan ligava o carro e se dirigia até nós. Rony teve que nos deixar à sós porque chegou outro cliente.

Como eu era antes de você (Hot Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora