Capítulo I - Perda

324 30 7
                                    

    No ano de 2070 o planeta Terra está lentamente tendo sua revolução. Foram descobertas as curas para o câncer, criação de robôs com inteligência artificial, a descoberta de vida fora do planeta…

Valentina revirou os olhos, entediada.

Não acreditava nem um pouco na história de extraterrestres, vida fora da Terra, et's, etc…

Achava aquelas histórias um absurdo. "Quem vai acreditar nisso?" Pensava. Por fim, resolveu desligar a televisão e sair, respirar ar puro.

Por sorte deu de cara com seu vizinho, Eric. Ele tinha cabelos castanhos e olhos na mesma cor, com diversas pintinhas espalhadas pelo rosto. "Fofo!"

- Bom dia, Valentina! - Cumprimentou. - Não aguentou as reportagens que estão passando? Sobre os extraterrestres?

Ri. Éramos parecidos neste quesito, odiávamos assuntos como aquele.

- Pois é, meu caro. - Disse sorrindo para ele. - Ninguém merece ouvir sobre os et's!

Ele sorriu, mostrando-me suas fofas covinhas. "Talvez eu devesse ter me apaixonado por ele. Mas acho que sou burra demais pra isso!"

- Valentina? - Escutei minha irmã me chamar e revirei os olhos. Uma chata de carteirinha!

- Bom, tenho que entrar. Até a escola, Eric! - Ele acenou com a cabeça e eu entrei de volta em casa.

- Já estou aqui, Lily! - Gritei. Minha irmã desceu as escadas com uma expressão desesperada e lágrimas escorrendo por suas bochechas. - O que houve, Lilyan?

Ela puxou ar aos pulmões.

- O papai e a mamãe morreram num acidente de carro, Valentina. - Ela voltou a chorar, e eu fiquei perplexa. Eles saíram e me deram um abraço caloroso, eu ainda posso sentir…

- Não... - Isso escapou de meus lábios, e antes que eu pudesse segurar, lágrimas desciam sob meu rosto, deixando um rastro quente sobre minha pele gelada.

- Eles vão incinerar os corpos. - Disse Lily.

Essa era uma lei em Liandrya, todos os corpos deviam ser incinerados, para evitar vírus e bactérias. Com nossos pais não seria diferente…

- Eu vou para meu quarto. - Subi as escadas que levavam para um corredor e me encaminhei direto ao meu quarto. Entrei, tranquei a porta e me joguei na cama, cansada. Logo me permitir chorar.

***

Acordei 4 horas da manhã, sem ânimo algum para ir a escola. Lilyan já havia me avisado no meio da madrugada que trariam ás cinzas de nossos pais pela tarde, e logo após poderíamos enterrá-los.

Me levantei e fui para o banheiro, tomei um banho bem demorado e sai enrolada numa toalha. Escolhi uma camiseta de mangas longas na cor preta, uma jaqueta da mesma cor e uma calça jeans surrada, também preta. Acrescentei ao meu look de luto um All star preto e um óculos de sol.

Fui até a sala e encontrei Lily já pronta, o que era raro. Ela usava os cabelos negros presos num coque desleixado, um vestido de algodão na altura dos joelhos preto, meia-calça e uma sapatilha. Em seu rosto não havia resquício de maquiagem, somente a tristeza marcada em seus olhos azuis.

- Vamos para a escola, e depois ao cemitério. - Falou com voz fraca, e eu senti uma dor no coração.

Minha única família agora era ela.

***

As aulas passaram de maneira lenta, como se para me caçoar. Sai da última aula sendo acompanhada por Sophie, que tagarelava loucamente, e eu a ignorava.

- Valentina! - Estalou os dedos na minha frente, e eu acordei de meu problema mental. - O que houve? Está viajada desde o começo da aula.

- Ah, nada. - Menti. - Só uma dor de cabeça.

Voltei para casa, larguei minha mochila na sala e andei cerca de meia hora até o cemitério da cidade. Lá encontrei Lilyan e Eric, ambos com uma caixinha de madeira em mãos, e uma cova aberta no chão. Meus olhos lacrimejaram.

- Eu sinto muito, Tina. - Falou Eric baixo, ao me entregar a caixinha, onde se encontravam às cinzas de meu pai. Eu o abracei forte e enterrei minha cabeça na curva de seu pescoço, inalando seu doce cheiro, que me acalmava.

Enterramos às caixas e voltamos para casa no carro de Eric. Quando chegamos ele deu um rápido abraço em Lily, e me deu um mais longo, dizendo-me palavras reconfortantes.

Agora sei que somos só eu e Lily.

Mente de HackerOnde histórias criam vida. Descubra agora