O devorador de fadas

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O devorador de fadas

Silencio.

A floresta escura se aquietou completamente ante a presença de um ser sombrio, sua energia vital teria feito com que todas as plantas, insetos e demais formas de vida perecessem. Mas aquele lugar todo era revestido de uma magia de preservação, o que impedia que qualquer agente externo maligno causasse qualquer tipo de dano.

O zunido de uma flecha cortou o espaço entre as árvores fazendo com que os pequenos animais se escondessem. Uma coruja, ao perceber que a árvore onde repousava foi acertada, bateu suas asas em retirada.

Poucos instantes depois, no mesmo galho abandonado pela ave, um ser pequeno de olhos grandes se posicionou. Ele carregava consigo um arco dourado fosco e encarava com satisfação a seta brilhante cravada na madeira.

— Eu vou jantar, eu vou jantar. Eu vou sim!

Segurando a arma com os dentes podres ele se prendeu no tronco. Comemorando a própria sorte ele cantarolava as palavras anteriores a medida que descia até a flecha.

— Ou, que azar você tem hehehehehe

E com uma única puxada desencravou o projétil brilhante.

A maioria dos seres que ali viviam não conseguiriam ver, mas na ponta daquela seta uma forma de vida translúcida agonizava.

Aquela era uma fada, uma personificação da magia empregada naquela floresta densa e que, dois segundos depois, foi totalmente engolida por aquele goblin sombrio.

— Delicioso.

Voltando para o alto da árvore, o diminuto começou a olhar em volta. Ele não estava com fome realmente até porque sua espécie não se alimentava de fadas, na realidade seus semelhantes nem sequer podiam vê-las. Entretanto, aquele goblin caçador havia nascido com um dom raro nos olhos, uma habilidade que o permitia ver concentrações de energias boas e más.

— Apagar vocês nunca fica chato.— riu comemorando a habilidade única.

A celebração se encerrou quando seus olhos viram outra luz piscando dentro de um tronco de oco.

— Com você são...— lambeu a ponta da seta antes de colocá-la no arco.— onze!

O zunido cortou o ar até que a seta perfurasse o tronco e acertasse a fada escondida, apagando assim seu brilho.

Cantarolando novamente a canção vitoriosa, ele saltou entre as árvores até recuperar o projétil. Porém, assim que o puxou, seus olhos foram ofuscados por um brilho incandescente como o sol.

A forma reluzente caminhava levemente corcunda pelo solo, parecia carregar algo pesado nas costas e não se importava com os perigos da mata. Seu tamanho era ligeiramente maior que o caçador, o que fez este sentir uma cobiça incalculável.

Apagar as luzes de pequenas fadas era maravilhoso, mas apagar a luminescência de um ser maior que ele mesmo? Ah, ele não podia resistir.

— Você é minha!

O goblin saltou da árvore, e em pleno ar, disparou cegamente em direção ao ser cintilante.

E o zunido foi ouvido novamente, mas, diferente de antes, ao invés de se apagar apenas parou de se mover.

— Drance, Drance. É um goblin.

A voz masculina sussurrava o alerta.

— É, eu vi.

O garoto jovem encarava a flecha brilhante que passara a centímetros de seu rosto.

— Vamos fugir.— a voz do homem adulto que era carregado em suas costas soou novamente.

— Não, ele pode ter outras dessas flechas mágicas, se eu correr vai ser pior. — Calmamente ele baixou e posicionou o colega sentado. — Deixa que eu resolvo.

O Goblin já havia se escondido atrás de uma árvore e esperava que sua presa fugisse, mas ao invés dos passos acelerados o que ele ouviu foi o cantar metálico de uma espada atravessando seu peito.

O goblin sentiu a própria vida se esvaindo e a claridade do jovem espadachim oscilar entre a luz e as trevas. A última visão que os olhos especiais daquele goblin conseguiram ver foi a silhueta do garoto a sua frente guardando a lâmina. E nos derradeiros segundos de sua vida ele soube que aquele era o ser sombrio que a tudo podia destruir.

— Você realmente atravessou a árvore para acertá-lo?— perguntou o carregado

— Uhum, ele era uma ameaça, tinha de fazê-lo.— respondeu o colocando nas costas. — Agora vamos, não estamos longe da cidade de Nat.

CONTOS: Histórias de universos em construçãoWhere stories live. Discover now