LÁGRIMAS DE GELO

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A neve cai sob os cavalos em Portugal, a Bretanha desapareceu do mapa. A Irlanda caiu após o último guerreiro de barba ruiva ter sido eliminado. Eles foram loucos, completamente insanos; lutaram sem medo, sem arrependimento, sem pudor.

Mas o inimigo era pior que qualquer fúria proveniente de algum espírito ancestral irlandês.

As crianças do front Português tremem ao ver a imensa quantidade de homens a avançar e emergir das águas. Todos aqueles indivíduos vinham da ilha da madeira, seu último entreposto, que já fora completamente destruído, antes de pisarem de fato no continente.

As pobres crianças não sabiam dizer, mas em suas frágeis mentes infantis a pergunta vinha:

De onde tantos inimigos haveriam de surgir?

Por que os habitantes do outro continente se transformaram em guerreiros sem alma?

Como não se cansam, como não temem a morte e como não sentem o mínimo remorso?

É uma guerra de todos, homens, mulheres e crianças. Não há espaço para ninguém ser poupado, pois o inimigo apenas distingue duas coisas: Quem é, ou não, de seu exército.

Todos tremem e temem pelo seu não futuro.

O mundo que a um século se dividiu em três grandes alianças, agora se desfaz em sangue, fogo e almas corrompidas.

O ano é 2012, a Aliança do Norte, munida de seu exército de homens sem alma, marcha pelo solo da Eurásia. Cada passo que dão praia adentro significa uma diminuição nas chances de sobrevivência de todos.

E eles não cansam, não sentem dor, fome ou sede.

O líder da Aliança do Norte, ou seja, dos EUA, atacou pessoalmente a cidade de São Paulo com uma ogiva nuclear. Tudo que sobrou da metrópole mais rica da América do Sul foi apenas as milhões de almas a implorar pela morte.

Mas ele tinha uma justificativa:

"O Assassino de aluguel ainda vivia e era uma ameaça a todas as nações do planeta. "

Foi o que seu porta-voz disse...

Quatro milhões de mortos e outras dezenas de milhões feridos e corrompidos, tudo por um criminoso que supostamente não morreu em uma operação dada como bem-sucedida sete anos antes.

É ano de olimpíadas, a Inglaterra seria a sede dos jogos, uma incrível festa em Liverpool e Manchester foi armada, uma confraternização que jamais conseguiu dar alegria a ninguém, pois ambas as cidades agora ardem em chamas e tiros, bem como as demais à medida que o exército inimigo avança.

***

Longe do front ocidental, uma mulher chora silenciosamente.

Projétil lançado de Washington, tempo até o impacto... dois minutos.

A voz masculina e desprovida de emoção ressoa pelas paredes do imenso palácio. A casa da Rainha de gelo, a líder absoluta e unificadora da Eurásia, pela primeira vez ouve o choro copioso de sua dona.

O momento considerado "sem volta" chegou.

Victória Skatkauski sabe o que deve fazer, os últimos vinte anos serviram justamente para isso, mesmo que negasse veementemente. Não está preparada, nunca estaria, mas tinha de fazer.

Seus olhos deslizam e fitam um grande berço branco adornado de cristais translúcidos, em seu interior uma pequena vida se move inocentemente.

E a rainha chora ainda incrédula.

CONTOS: Histórias de universos em construçãoWhere stories live. Discover now