A gaivota imortal...

32 5 0
                                    



A gaivota imortal...

Você não sabe o que é planar pelo céu. Você não pode, nem de longe, imaginar qual é a sensação de ver o mundo de cima, sentir o vento em suas asas e o cansaço de percorrer distâncias incríveis.

Eu já vi muita coisa desde que nasci e posso assegurar, foram muitas coisas. Tenho mais de sete séculos de história nessas asas brancas e pés amarelos. Eu não sei quando comecei a me questionar das ações humanas, porém sei que eles merecem ser os donos do planeta. Sua capacidade de se moldar aos problemas, de transformar a natureza os diferenciaram e os tiraram da cadeia alimentar.

Eu sou um pássaro, uma gaivota para ser mais exato. Eu não sei se deveria me rotular por um nome, não sei. Nunca fui ouvido pelos meus companheiros, acho que sou o único pássaro que pensa nesse mundo. Sempre costuma voar pela cidades mais movimentadas, gostava de ver aqueles pequenos monstros mudando tudo o que seus olhos viam.

— Doutora! — Eu não tenho uma voz, mas sempre gostei de imaginar uma comunicação com os outros seres.

Eu chamei sua atenção com o bater do meu bico em sua janela. A mulher humana logo me atendeu erguendo o vidro de seu consultório. Eu tinha muito apreço por ela, não só pelo fato dela ela ser uma humana que aparentemente me compreendia.

— Oi Sticks, Cumprimentou-me enquanto passei minha cabeça por suas mãos macias. — eu estava comendo, quer um pouco? — Eu gostava dela porque sempre me chamava para comer.

Já rodei por todas as partes habitáveis desse planeta, mas nunca vi uma mulher tão gentil quanto Sabine Thalberg. A doutora me dava de comer, conversava comigo por horas a fio, e ainda dizia-me coisas que ela acreditava sobre seu mundo.

— Isso aqui é batata frita? Você ama mesmo essa coisa salgada e mole ein... — Eu a encarei quanto beliscava a iguaria em sua mão.

— Sabe Sticks, eu fico me perguntando o que vai acontecer com a minha vida no dia seguinte. — Em suas mãos ela tinha um punhado dos pequenos bastões salgados e moles. Eu não sabia se era realmente para ter aquele aspecto molenga ou se ela preferia assim, mas o que eu queria mesmo era comer ao seu lado. — Você pode não estar aqui na minha janela, eu posso não conseguir chegar ao trabalho. O país inteiro pode pegar fogo.

Vi que ela observava um imenso cartaz vermelho com um simbolo estranho gravado em seu centro.

— O füher é um condutor, alguém que lidera pessoas a um bom futuro. Espero que o dia de amanhã seja melhor. — Sabine sempre se debruçava em sua janela para observar a rua. O movimento em Berlim era alto porém organizado. Não só aquela cidade, mas todo o país tinha um sentimento de tristeza, de derrota. A doutora estendeu mais uma batata para mim. — Tenho recebido muitos pacientes nos últimos tempos, parece que os alemães estão enlouquecendo com mais facilidade.

— Não, na verdade é sua natureza evolucionista querer sobreviver. Quando a situação fica difícil demais vocês começam a perder o rumo e a pirar. — Biquei um novo pedaço. — Precisava ver os navegadores que iam para a América do sul no inicio. Ficaram louquinhos quando perceberam que estavam sem comida.

— Deve ser as dúvidas sobre esse tal "Partido nazista".

— Nazista? — Meu olho direito se encontrou com seu foco, não sei se telepatia existe, mas sei que ela conseguiu me entender perfeitamente.

— É Sticks, nazista. — A doutora se virou para o interior de seu consultório.

Nunca tinha parado para admirar o lugar onde ela passava boa parte de seus dias. La dentro uma cadeira grande, onde o paciente ficava, além de uma mesa branca e mais três cadeiras, sendo uma delas a da doutora. — Eu não sei o que pensar desse grupo. Por um lado eu acredito que eles realmente querem o nosso bem, mas algo em mim não se sente tão segura.

CONTOS: Histórias de universos em construçãoWhere stories live. Discover now