O PRECIOSO ALVO

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19/06/2001 Sorriso verdadeiro

Um convidado indesejado havia entrado naquela casa, um intruso que trouxe consigo o fim da calmaria. Sua figura, agora claramente humana e masculina, aos poucos foi se tornando turva. Afinal quem era ele? Por que havia invadido a casa e ceifado a vida de toda a família?

A vítima não sabia dizer.

Eram seus últimos instantes e nem de perto imaginou que a última coisa que veria seria aquilo. Um rosto branco, sem pálpebras, com um sorriso aterrador, bizarramente largo e infindavelmente vermelho e feliz.

— Vá dormir!

Sentiu sua vida escapar pelo ferimento após a lâmina ser puxada para fora de suas entranhas. Um sono gostoso, aliado a uma leve pressão na cabeça, embalava a ida do alvo para outro mundo, quase como se estivesse sendo banhado por águas quentes e reconfortantes.

Seus olhos arregalados gritavam desesperadamente por socorro, a boca aberta e os dentes cerrados aos poucos perderam a tensão e o último suspiro finalmente foi dado. A energia dentro do corpo se apagou, como uma fogueira extinta pelas águas da chuva. Ao mesmo tempo, dentro do assassino, um incêndio de sensações explodia em um fulgor trepidante. Nenhuma outra vida ali mais brilhava, a casa se tornara inteiramente sua.

O sorriso se manteve inabalável mas a respiração acelerada pela adrenalina logo retornou ao normal.

O térreo e o mezanino, antes impecáveis, não passavam agora de dois verdadeiros desastres caóticos. As manchas e ferimentos, que iam do vermelho vinho até o marrom acobreado, revelavam que os corpos jogados não tiveram seu fim ao mesmo tempo, muito pelo contrário, era claro o quão diferente fora o sofrimento de cada um.

E para aquele homem, se é que poderia ser considerado um, era exatamente assim que tudo deveria ser.

Jeff sabia que ninguém nas redondezas escutou o que havia acontecido ali, afinal sempre agia assim, silencioso e preciso tal qual o fio de sua faca. Ser sorrateiro habitualmente lhe proporcionava boas experiências, principalmente quando tinha de silenciar mais de uma pessoa em um mesmo ambiente. Fora tão eficiente em não fazer barulho, que os vizinhos só notariam algo de errado quando o processo de decomposição dos corpos já estivesse muito avançado.

De modo geral, pensar em sua eficiência ao ceifar vidas em silêncio o deixava feliz e até mesmo excitado, mas naquele dia aquilo apenas diminuiu o brilho que ardia dentro de seu corpo.

Faca, água sanitária, álcool e outros itens...

O procedimento sempre era o mesmo:

Primeiro mudava as roupas dos caídos, depois os posicionava sentados em torno de uma mesa, os banhava com água sanitária e permitia que o fogo os beijasse levemente.

Isso por sí só já seria um ritual bastante excêntrico e trabalhoso para um criminoso realizar, mas ainda existia um requinte de crueldade, um toque final que ele executava ainda com o fogo a arder.

Com a mesma lâmina usada anteriormente, Jeff removia grandes pedaços de pele dos lábios e bochechas dos abatidos, talhando assim um sorriso largo de dentes que ia de um lado a outro da maxila.

Não foi tarefa fácil levar os corpos para a mesa de jantar, somavam cinco no total, sendo eles três adultos uma adolescente e um menino. Demorou quase quinze minutos até ter todos posicionados em seus respectivos lugares, para só então, depois de mais meia hora, ficarem realmente "apresentáveis" como ele queria.

CONTOS: Histórias de universos em construçãoWhere stories live. Discover now