Enigma
A vida triste e cansada nada mais poderia lhe oferecer do que uma rotina sem sal onde tudo tende a se repetir na segunda feira seguinte. A mente dessa pessoa sempre sentiu uma inquietação, algo como uma coceira em alguma parte do corpo que, por mais que coçasse, jamais seria saciada.
Era esse eterno calafrio que o fazia buscar conhecimento de todas as maneiras que sua mente conseguisse assimilar.
No início eram as notícias, mas ele logo viu que elas não lhe proporcionavam a realidade do seu entorno. Ele precisava de algo que não temesse falar o que ele procurava.
Depois foram os boatos, conversas de pessoas a sua volta e mais ao longe. Ouviu pessoas de todos os cantos do mundo e com isso ele chegou a uma conclusão primária, uma verdade que todos sabiam que existia, mas que ninguém sozinho tinha a coragem de assumir.
"Eles existem!"
Com a verdade em sua mente ele passou a procurar desesperadamente alguma coisa mais concreta, alguém que pensassem minimamente como ele. Tinha de ter certeza que não estava enlouquecendo e ter um registro histórico seria o suficiente para que isso se provasse verdade.
Foi quando ele partiu para os livros.
Obras e mais obras, contemporâneas e antigas, de teologia a física nuclear e quântica. Todas elas possuíam fragmentos da verdade, todas tinham os resquícios daquilo que ele procurava, uma espécie de enigma que fora dividido na mente de inúmeras pessoas através do tempo. E a cada página lida ele se convencia que ele era o único ser vivente em toda a história que conseguia ver os indícios das escritas.
"As sombras"
"A cidade antes das cidades"
"A ganância do regente"
"Os homens das trevas"
"Os vasculhadores de estrelas"
"A explosão furiosa do guerreiro magoado"
Era como ver um filme que se tornava turvo a medida que o tempo passava e as capacidades de registro humano evoluíam.
"Eu não posso me dar ao luxo de esquecer nada!"
Tendo isso em mente ele passou a escrever todas as conclusões. Todo o saber que ele decodificou pelos anos passou a ser registrado em seu único lugar seguro, um lugar onde ele sabia que nenhum ser humano se atreveria a pisar, não enquanto ele estivesse ali para defendê-lo.
Após dias de trabalho intenso suas mãos cansaram de escrever, foi aí que, em seu desespero por registrar o que havia descoberto, ele usou os pés. E quando seus pés cansaram ele percebeu que não mais precisava de esforço físico para armazenar o saber descoberto, sua mente se encarregava de fazer as palavras surgirem a sua frente.
Paredes, chão, teto. Tudo foi preenchido pelas sentenças claras em sua língua mãe para que qualquer um à sua volta pudessem usufruir.
"Agora todos saberão tudo de vocês. Todos poderão estar preparados para sua chegada. Todos poderão finalmente se interligar antes de sua vinda."
Satisfeito ele vislumbrou seus esforços concluídos. Quinze livros, inúmeras instruções e símbolos energéticos espalhados. Ele havia se empolgado era verdade, mas se não fosse para ter aquele resultado ele sequer teria tido o esforço de ler uma única página antiga de um livro em uma linguagem esquecida.
"Agora é a hora de mostrar a todos a verdade, a teoria que só eu pude ver! A verdade que desde o começo esteve aqui!"
E pela primeira vez sentiu o alívio daquela coceira que o afligiu durante toda a vida, finalmente ele compreendeu o que ele sentia que não se encaixava no mundo. Mas algo ainda continuava igual... um padrão que só percebeu quando levou a mão até a maçaneta.
"Eles já me acharam..."
—Sempre estivemos com você em nossa mira...
A voz soou às suas costas.
— Ah, você realmente achou que iria passar pela porta e iria sair esperneando para os sete ventos sobre a nossa existência? Todos esses dias e você realmente não percebeu a temperatura baixa mesmo esse sendo um lugar abafado? — e a voz emendou aproximando-se do ouvido.— Você mesmo encontrou a resposta: O maior indício da vinda deles são as oscilações energéticas e termais
" Estava empolgado e não percebi."
— Pois é senhor curioso...— e estalou os dedos fazendo com que tudo ao redor se tornasse infinitamente escuro. — Sim nós existimos, alienígenas, fantasmas, demônios, anjos...Chame do jeito que quiser... — e se aproximou do ouvido novamente. — Mas dessa arena da alma, ou seja, dessa dimensão escura, você jamais sairá para contar a ninguém sobre nós...
E após algum tempo de silêncio profundo nas escuridão a voz emenda.
— Ah.. não se preocupe com o que você deixou para trás, eu já me certifiquei que ninguém jamais entenda exatamente o que você registrou.
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CONTOS: Histórias de universos em construção
Historia CortaOUÇA OS TEXTOS NARRADOS NO CANAL NO YOUTUBE: WWW.YOUTUBE.COM/facesdoheroibr Neste livro serão postados os contos que acabo criando durante viagens pelo infinito rio da imaginação. Algumas são relacionadas a livros que estou trabalhando, outras apen...