Vinte e um anos de diversão...

17 2 0
                                    

Vinte e um anos...

Em vinte e um anos muitas coisas podem acontecer; regimes podem cair, impérios podem desmoronar, alianças podem se fortalecer.

Isso sem contar os acontecimentos nas vidas de maneira individual.

Quantas crianças podem ter nascido nesse período? Quantos casais se formaram e se desfizeram?

Estas são pequenas perguntas que mostram como esse tempo, apesar de efêmero se comparado com a idade do universo, pode comportar uma imensidão de acontecimentos marcantes.

E é justamente de um deles que vou falar agora...

Em um dia qualquer uma pequena criança recebeu um presente que mudou sua vida...

(mostrar um playstation 1)

Sim, era um aparelho que servia apenas para diversão, um brinquedo bastante caro que seus pais se esforçaram muito para lhe dar.

Essa criança, devido seu medo e por também saber que era bastante desastrada, demorou um tempo considerável até ligá-lo pela primeira vez, mas quando isso ocorreu sua felicidade nunca mais diminuiu.

Na sua frente, em um televisor pequeno, aparecia a imagem de um marsupial saltitante que tinha apenas um objetivo.

(Mostrar o crash morrendo)

Chegar inteiro até o final dos obstáculos.

Mas o objetivo ser simples não é o mesmo que ser fácil alcançá-lo.

Quem controlava os movimentos daquele simpático, porém insano, Bandicoot, era justamente aquela criança. Para se ter uma noção, no primeiro dia foram mais de vinte e uma horas dedicadas inteiramente a tentar passar de um número bem limitado de fases.

Vinte e uma horas...

Um tempo bem menor do que vinte e um anos, não é mesmo?

Mas assim como no período de anos, em um dia muita coisa também aconteceu, mas para aquela criança nada disso tinha importância. Afinal de contas, aquela maldita fase da ponte não lhe dava trégua e a criança sabia que só prosseguiria se conseguisse atravessá-la.

Após muito treino, controles engordurados e olhos cansados, finalmente conseguiu passar do desafio imposto. Perder era frustrante, é verdade, mas a derrota lhe dava mais motivação para continuar tentando, tentando, até que finalmente conseguisse concluir aquele jogo.

O desafio estava completo, era a primeira vez que realmente concluíra algo, e aquela sensação era sublime. Sair vitorioso de uma empreitada tornou-se seu dever, dali em diante se lembraria do esforço empregado e jamais desistiria de um objetivo, mesmo que suas forças acabassem, mesmo que todos lhe dissessem que era impossível.

Todavia, sua jornada não acabaria com a subida dos créditos que trazem os nomes dos desenvolvedores. Aquele era só o primeiro desafio de muitos.

As coisas se complicaram, e isso não foi só no âmbito daquele jogo, mas aos poucos a mente da criança amadureceu e com isso se adaptou melhor as novas empreitadas que ela, e o marsupial, deveriam enfrentar.

Saltos longos, lugares apertados, fugas alucinadas de um ser que deseja a todo custo te devorar...Era no mínimo irônico ver como a vida da criança se assemelhava as aventuras de seu herói insano.

A criança cresceu e com isso novas coisas vieram, sua atenção passou a abranger o mundo a sua volta e o que nele acontecia. Seu tempo para diversão com seu lendário marsupial louco, diminuiu, todavia, ele jamais deixou de dedicar ao menos alguns minutos por semana para aquela diversão.

Vinte e um anos...

Essa era a idade daquela pessoa que não mais era uma criança e, coincidentemente, também era a idade do jogo que trouxera ao mundo seu herói favorito.

Naquela altura muitos já haviam esquecido do nome daquele personagem, alguns até mesmo negavam um dia ter se divertido com ele por ser considerado infantil demais...

Mas aquela "criança adulta" não era assim, para ela aquela imensidão de códigos e gráficos toscos tinha um valor incrível. Por isso, ao saber que aquele jogo retornaria melhor e mais bonito, não pôde controlar sua emoção.

E hoje, vinte e um anos depois do lançamento a criança adulta pode comprar seu próprio brinquedo caro. Vinte e um anos depois ela sabe que os desafios não eram tão absurdos quanto imaginava, até mesmo aquela ponte desgraçada que não levava a lugar nenhum, tornou-se um desafio fácil.

Após vinte e um anos de diversão, o herói lendário retornou para resgatar a todos, sejam aqueles que se esqueceram da felicidade de se divertir com um jogo, os que sequer haviam nascido quando ele viera pela primeira vez, ou mesmo os que jamais o esqueceram.

CONTOS: Histórias de universos em construçãoWhere stories live. Discover now