III

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A quinta-feira demorou a passar. Não somente por ser o dia repleto de aulas que John menos gostava, mas também pela ansiedade para a chegada da sexta-feira. Ele não sabia explicar bem, mas queria muito encontrar o novo colega e passar ainda mais tempo conversando.
No intervalo entre as aulas, sentou-se com os amigos de longa data. Molly conversava com Philip sobre alguma matéria que tiveram na primeira parte do dia e Sally acabara de se juntar ao trio.

- Ei, John! Como está sendo com a aberração? – Donovan deu uma mordida em sua maçã.
- Aberração? – ele não entendeu do que se tratava. Cogitou ser alguma piada interna dos amigos, pois Philip começou a rir.
- Sherlock. – o garoto explicou.
- Ele não é uma aberração! – a expressão do loiro era de chateação. Ele tinha constatado o quão interessante o moreno era e não entendia como aquelas pessoas não viam o mesmo.
- Vocês não deviam falar dele assim. – Molly adicionou, um pouco triste.
- Agora vocês dois vão ficar defendendo ele? – Anderson revirou os olhos e tomou a maçã de Sally. – É o fim do mundo, Donovan!
A menina balançou a cabeça, olhando Hooper e Watson com reprovação.
- Eu não entendo como vocês não acham ele estranho. – ela pegou de volta sua maçã, batendo no braço de Philip em punição.
Molly ofereceu um olhar solidário para John, mostrando que o entendia e que ele não deveria ligar para o que os outros dois diziam.

Seguiram o intervalo conversando sobre outros assuntos e rapidamente chegou o horário de voltarem para a sala. É necessário dizer que John enrolou um pouco mais que o normal, deixando que os amigos voltassem antes para a aula.
Ele queria, propositalmente, ficar para trás e ter alguma chance de cumprimentar Sherlock.

Quando avistou o menino se aproximando da porta da classe, correu um pouco e tocou seu braço. Aquilo foi um pequeno susto para o moreno, o que fez John rir.
- Ei, sou eu! – o sorriso de Watson acalmou Sherlock. – Tudo bem?
- Olá, Watson. Tudo bem. – ele nem ao menos devolveu a pergunta, mexeu os lábios em um sorriso fracionado e seguiu para sua cadeira.

Isso poderia fazer John sentir-se mal, porém, as poucas horas ao lado daquele garoto já lhe mostraram que ele não agia como os outros. Aquela tentativa de sorriso era prova suficiente de que ele não o odiava, nem o julgava extremamente idiota. Entretanto, mostrava que a relação dos dois era restrita às horas dentro da cafeteria. 

No momento, era algo a se comemorar. John sabia que precisava agir com calma, para não assustar o moreno. Ele estava acostumado a ficar sozinho e, de fato, muita proximidade seria estranho.

Enfim o dia de aulas acabou. O loiro acenou de longe para Holmes, que devolveu acenando com a cabeça. A volta para casa, acompanhado de Molly, rendeu as perguntas que já imaginava.
- Pelo que você falou no intervalo, você e Sherlock conseguiram se dar bem, não é? – ela calculava as palavras, não queria parecer desesperada.
- Acho que sim! Ontem fomos fazer a atividade de biologia e ele pareceu bem legal. – o garoto se controlava para não transparecer todo o seu entusiasmo. – Ele adivinhou várias coisas sobre mim!
- Deduziu. – ela corrigiu, dando uma risada breve em seguida. – Se você disser pra ele "adivinhou", não vai agradar em nada.
- Isso é verdade. Ele é bem criterioso. – ele também riu. – Vocês eram muito amigos?
- Tipo isso. – ela falou com certo pesar, mas logo quis mudar de assunto. – Você entendeu algo da aula de História? Não sei como a professora pôde passar tanto conteúdo.
John respondeu a pergunta e não retomou o assunto anterior. Sabia que com o tempo entenderia o que aconteceu para enfraquecer a amizade de Hooper e Holmes.

A sexta-feira conseguiu passar de forma mais arrastada que o dia anterior. Ao menos, o loiro conseguiu cumprimentar Holmes logo na primeira aula, mas sem receber nada mais que um "Bom dia, Watson" de volta.

Durante a aula de Literatura, perdeu-se imaginando o motivo de estar tão ansioso para a parte da tarde. Por mais que ele achasse interessante se aproximar de alguém tão diferente quanto Sherlock e amasse Biologia, não era de seu feitio sentir-se daquela forma. Divertiu-se em imaginar que, se sua namorada, Mary, estivesse por perto, ficaria até com ciúmes. Mas... Bem, ela teria motivos para sentir ciúmes?

John balançou a cabeça, espantando os pensamentos e focando na matéria que o professor passava. Claro, sem resistir em olhar de canto para o moreno de cabelos cacheados vez ou outra.

O horário tão esperado chegou. Antes mesmo das 15 horas, John já estava sentado no mesmo lugar em que o garoto estava na última vez em que se encontraram. Holmes foi pontual, abrindo a porta exatamente no horário em que dizia chegar na cafeteria.
- Watson? – ele se surpreendeu em ver o loiro por lá.
- Oi, Sherlock! – John sorriu e aconchegou-se no sofá, dando mais espaço para o outro.
Holmes deu mais um de seus sorrisos enigmáticos, que já eram o suficiente para confortar o loiro de qualquer insegurança. Sentou-se ao seu lado e começou a tirar o material necessário da mochila.

- Vai beber o mesmo chá da última vez? – Watson perguntou enquanto o moreno fechava a mochila.
- Hm, acho que sim. – ele disse desinteressado, mas algo o fez continuar. Não queria parecer tão rude para o outro. – E você? Vai experimentar algo diferente?
De fato, aquele não parecia ser o comportamento de Holmes. Mas John ignorou, afinal, não tinha como saber qual era o seu comportamento... Eles se conheciam há apenas dias!
- Eu não sei, eu gostei bastante desse que você indicou. – ele pensou um pouco e por fim, decidiu que continuaria com o mesmo.

Fizeram seus pedidos à garçonete que passou pela mesa e iniciaram a tarefa que o professor pediu horas atrás.
Como da última vez, terminaram rapidamente. Na verdade, até um pouco mais rápido. E, talvez, porque quisessem passar mais tempo conversando do que fazendo o trabalho.

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