VII

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    Sherlock estava perto da quadra do colégio, no horário do intervalo, no mesmo banco de sempre. John sorriu ao perceber que poderia perder os próximos minutos ao lado do cacheado, entretanto seu rosto se alterou ao ver que alguém já iria ocupar o seu lugar.

A estonteante Irene Adler sentou-se ao lado de Sherlock, com o já conhecido sorriso sedutor nos lábios. Como era sabido, todos a admiravam. Com aquele sorriso, seu poder apenas aumentava.

Um sentimento de dor inundou o interior de Watson, fazendo-o se sentir enjoado. Sua mente procurava maneiras de espantar a garota dali.

Mas qual era o problema? John nunca foi ciumento com seus amigos. Aliás, sabia que era uma coisa boa para Sherlock relacionar-se mais.

Logo tirou a ideia da cabeça, pois ao substituir mentalmente Irene por algum dos outros colegas de classe, não sentiu o mesmo incomodo. O problema era com a garota e especificamente com sua beleza e envolvência.

Seu problema com ela aumentou ao perceber que uma das mãos de Adler alisava a de Holmes, enquanto o moreno devolvia um sorriso doce e não a afastava. Os punhos do loiro se fecharam e ele estava prestes a ir até os dois e separá-los.

Ao tentar se mover, sentiu suas pernas fixas. Ele não conseguia se mexer e, inesperadamente, sua mão foi segurada por outra pessoa. Ao se virar, pôde identificar sua namorada, Mary.
Ele queria perguntar o que a garota fazia ali, mas seus olhos não conseguiram desgrudar do inusitado casal no banco. Agora, Irene levava a mão livre ao rosto do cacheado, o puxando para si.

Os lábios dos dois se tornaram perigosamente próximos, aumentando a aflição do loiro tão distante.
- Não! Parem! – John gritou.

- John?
Greg entrou no quarto do garoto, olhando um tanto desconfiado. O mais novo não costumava ter pesadelos ou falar durante o sono.
- Teve um pesadelo? Eu disse que foi maluquice você e Sherlock entrarem em uma cena de crime! – o grisalho se aproximou da beira da cama, fitando o primo.
- Não... – John sentava-se, mexendo em seus cabelos e olhando o quarto. Ainda sonolento, tentava se convencer de que toda a situação presenciada havia sido apenas um sonho. – Está tudo bem, foi um pesadelo relacionado ao colégio.
- Ao colégio? – Lestrade percebeu a sinceridade, mas não deixou de se preocupar. – Seu subconsciente deve estar pensando bastante no assunto. Algum problema lá?

John imediatamente balançou a cabeça em negação, tranquilizando o mais velho. Pouco depois, lembrou-se de todo o conteúdo do sonho. Realmente, por que seu subconsciente estava focado em Sherlock e Irene? Talvez tivesse sido a conversa que tiveram durante o intervalo do dia anterior. Mas por que ele se sentiu tão mal com aquilo?
- Eu estava começando a fazer o café, então venha comer alguma coisa. – Greg interrompeu seus pensamentos, dando leves tapinhas em suas costas.
Resolveu dar tempo para o garoto se recuperar e foi até a cozinha, prosseguir suas atividades.

Após beber um pouco de água, presente em um copo no criado-mudo, John levantou da cama. Foi até a janela, deixando a luz do sol entrar. Não era um sábado ensolarado, mas já podia comemorar por não estar chovendo.
Antes de sair do quarto, atrás do café, lembrou-se de checar o celular. Um sorriso entusiasmado iluminou seu rosto ao ver que havia uma mensagem de Sherlock.


Sherlock Holmes

                                               
                                               Encontre-me em frente a National Portrait Gallery, às 11h00.

                                               SH

John logo buscou o relógio no visor do aparelho, suspirando aliviado ao ver que ainda eram 9h26. Teria tempo de se arrumar adequadamente para encontrar o amigo e inventar uma desculpa para Greg. De maneira alguma iria dizer que estava encontrando Holmes para investigarem o caso do dia anterior!

- Quais os planos pra hoje? – Greg perguntou, antes de morder uma torrada.
- Ah... Eu vou encontrar com Sherlock. Vamos fazer o trabalho de biologia. – John tentou não chamar muita atenção, sem demonstrar muito interesse.
- Eu pensei que vocês tivessem feito ontem. – o olhar do grisalho fixou no loiro, que se controlou para não corar. Odiava mentir para os outros.
- Fizemos só metade. Toda aquela história da cafeteria nos deixou mal... – ele apelou para o sentimentalismo do primo.
- Claro, claro. – o objetivo foi alcançado, Lestrade não faria mais perguntas. – Trabalhando como policial, sei como essas coisas podem afetar alguém.
- Nós vamos também a National Portrait Gallery. – o loiro olhava para o outro de canto, enquanto bebericava seu café.
- Bom, muito bom. Assim se distraem!
- Com certeza. – assentiu com a cabeça e logo quis mudar de assunto. – E você, quais os planos?
- Ah, vou ficar aqui em casa a maior parte do dia. E a noite vou pro aniversário de um amigo, num pub em Notting Hill. Aliás, algum problema pra você? Não vou demorar muito, creio que vou voltar lá pela meia noite.
- Greg! Claro que tudo bem. – o loiro riu. – Eu não sou um bebê, pode aproveitar sua noite. Você está precisando!
- Precisando? Ei! – ele fingiu indignação, parando até de mastigar.
- Está sim! – John deu de ombros. – Há quanto tempo não sai com alguém?
- Bem... – o grisalho tentou lembrar, mas antes de responder, foi interrompido.
- Está precisando. – o mais novo reiterou.
Lestrade fez um bico, resignado. Os dois riram e continuaram a manhã conversando sobre assuntos triviais, até a hora em que Watson precisou sair.

Ainda era 10h57 quando John encontrava-se encostado a uma das grades da galeria. Batia um dos pés no chão constantemente, enquanto tentava espantar os pensamentos sobre o sonho daquela manhã.
- Você é pontual. – a voz firme de Sherlock tirou John dos devaneios.

- Se Mary escutasse você, acharia que está falando de outra pessoa! – ele riu, as preocupações de momentos antes ia se dissipando. – Eu sempre me atrasava quando nos encontrávamos!
- Então porque é sempre tão pontual comigo? 

A pergunta de Holmes fez o rosto do mais baixo corar. Ele também fazia a pergunta a si mesmo, junto com várias outras.
- Bom... É... – ele molhou os lábios, tentando ganhar tempo. – Ah, você parece ser o tipo de pessoal que odeia esperar!
O moreno sabia que a dificuldade para responder a pergunta indicava algo. Ele poderia muito bem pressioná-lo e fazer deduções mais conclusivas, porém dois itens o impediam. Primeiro, não queria perder muito tempo da sua investigação. Segundo, ter alguém como Watson em sua vida parecia ser sorte demais. Embora não acreditasse nesse tipo de coisa, sabia o que as pessoas costumam dizer... Não se deve brincar com a sorte. Portanto, todo o cuidado possível para não o afastar era necessário.

- Você está certo. E eu não quero esperar para resolvermos nosso caso atual! – uma vivacidade atingiu o rosto do cacheado, alterando naturalmente o rumo da conversa.
- O que vamos fazer hoje? Alguma pista na galeria? – o mesmo sentimento contagiou o loiro.
- Para ser mais específico, nem precisaremos entrar na galeria.

O rosto de Watson se contraiu inteiro para expressar dúvida. Sherlock apenas meneou com a cabeça, para um local mais afastado da grade em que John estava encostado.
Um homem com cerca de vinte e oito anos era ignorado por todos que passavam pela via. Ele era claramente um morador de rua, sentado em um lençol e esperando a boa vontade de alguém em lhe dar alguns trocados.
Sherlock iniciou os passos até ele e, hesitante, John o seguiu.

- Sherlock! Como está? – o homem disse para o moreno.
- Bem. Está com as informações? – Holmes entregou a ele algumas notas de dinheiro e o morador de rua assentiu.
- Está tudo aqui. – entregou um papel branco dobrado.

O loiro assistiu à cena com os olhos arregalados. Não entendia como os dois se conheciam, como se comunicavam e como o homem podia ter informações úteis a eles. Ainda assim, não disse uma palavra sequer.

Quando Holmes começou a se afastar, novamente, John o imitou.
- Tenho uma rede de informantes, os moradores de rua. – o moreno disse, como se tivesse lido a mente do loiro. – Sempre que preciso de informações, eles conseguem. Eles são invisíveis para a maioria das pessoas, então mesmo os criminosos esquecem-se desse pequeno detalhe.
- Isso faz muito sentido. – o olhar maravilhado do mais baixo estava lá.
Aquilo com certeza era inspirador para Holmes. John o compreendia e admirava! Por vezes perguntava-se se o loiro era mesmo real.

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