XXI

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- Vocês sabem que isso é um absurdo, certo? Parar de oferecer um produto assim, sem qualquer aviso aos clientes! – Mycroft discutia com o funcionário de um mercado.
- Senhor, nós não paramos de oferecer o produto, apenas escolhemos permanecer com um só tipo de embalagem. – o atendente devia ter uns trinta anos, olhava Holmes sem ânimo e torcia para que se convencesse logo. - Entre a embalagem menor e a maior, a maioria das pessoas prefere a maior.
- Continua sendo um absurdo. – sua indignação permanecia.
- Algum problema? – uma terceira voz adentrou a conversa.

O mercado era pequeno e estava vazio, sendo fácil para qualquer um que entrasse escutar a discussão.
Greg resolveu adentrar o comércio em busca de alguns alimentos, pois Harry e John acabaram com o pouco que restara no apartamento. Apesar da leve embriaguez, resultado da reunião com seus colegas policiais, seu instinto de proteger os demais aflorou ao escutar o cliente alterado.

Sua surpresa, e também do tal cliente, foi grande ao se reconhecerem. Greg nunca imaginaria encontrar Mycroft Holmes naquele mercadinho, num sábado à noite, discutindo com o funcionário.
- O único problema é a incompetência desse lugar. – Holmes suspirou arrogante.

Greg sorriu levemente, já conhecendo o comportamento irritante do homem. Fez um sinal com a cabeça para que o funcionário não se importasse e voltasse para suas atividades, ficando a sós com o irmão de Sherlock.
- Qual tipo de incompetência, Mycroft? – Lestrade já havia relaxado, não tinha perigo ali.
- Eles são um dos poucos mercados da cidade que vendem isso. – ele apontou para a geladeira de congelados, apontando uns sanduíches de biscoito, recheados com sorvete. - E sempre houve dois tipos de embalagem: grande e pequena. De repente, deixaram de encomendar a pequena!

O cenho do policial se franziu e ele duvidou de sua sobriedade. Ele realmente estava ouvindo aquele tipo de reclamação vinda de Mycroft Holmes? Um homem com um ar sempre importante estava discutindo com um funcionário de mercado por conta de uma embalagem de congelado?
- Por que você... – Greg começou a dizer, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Não, eu não quero a embalagem grande. – respondeu antes mesmo que ouvisse o resto da pergunta. – Eu não pretendo comer tudo isso e se sobrar, Sherlock verá e irá me importunar.
- Isso é realmente sério? – o sorriso divertido surgiu no rosto do policial. – Porque seu irmão iria fazer isso?
- Sherlock gosta de usar inúmeros detalhes para me importunar, essa é a verdade. Principalmente quando se relaciona a comida e meu peso. – disse dando de ombros.

O silêncio surgiu entre os dois, nenhum sabia bem como prosseguir a conversa. Greg gostaria de pontuar o quão absurdo era Mycroft dar ouvidos a comentários de um adolescente, ainda mais com seu corpo estando tão em forma... Mas esse era o tipo de coisa que os dois não tinham intimidade para conversar. Enfim, pareceu ter uma ideia sensata e que ajudaria o outro.

- Por que nós não dividimos? Eu como o resto e Sherlock nem saberá!
- O quê? – Mycroft passou a analisar melhor o homem a sua frente. – Você está ligeiramente bêbado...
- Bêbado não, apenas um pouco alterado. – disse prontamente, rindo leve em seguida. – Eu estou com fome e você parece gostar bastante desse doce a ponto de discutir com um funcionário de mercado a essa hora da noite. Vantagem para os dois.
- É realmente muito bom. – Holmes passou a fitar fixamente a prateleira com os congelados.

O policial não esperou mais palavras; entrou na frente de Mycroft, abriu a geladeira e pegou uma caixa do produto. Holmes mais velho estava surpreso, mas satisfeito o suficiente com a atitude. Gostava de pessoas assim...
Seguiu Lestrade pelos corredores, observando os itens que ele também iria levar.

- Sem comida em casa? – perguntou sem graça em entrar em assuntos tão causais.
- Meus primos atacaram o pouco que tinha sobrado. Preciso levar algumas coisas se quiser sobreviver. – Greg riu, rumando ao caixa.
- John está na festa, não é? – Mycroft pegou sua carteira e puxou a caixa de seu doce, demonstrando que iria pagá-lo. – Estou de olho em Sherlock, sei exatamente onde está.
- Eu deveria pagar metade disso. – apontou para a caixa recém tomada. Ao ver que o outro ignorou, riu balançando a cabeça. – De qualquer forma, é bom que esteja mudando com seu irmão.
- Mudança é uma palavra muito forte, mas estou tentando melhorar a situação.

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