XII

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    A campainha incessante acordou Greg Lestrade muito antes do que ele planejava.
- É muito cedo para acordar num Domingo! – O grisalho foi até a porta resmungando, abrindo sem nem olhar antes quem era.
- Sr. Watson? – um homem de terno, alto e com os cabelos moreno avermelhados falou.
- O que quer com meu primo? – o olhou da cabeça aos pés.
- Um assunto de extrema urgência. – O desconhecido forçou sua entrada na casa, empurrando a porta. 

Greg espantou-se, sem compreender o que estava acontecendo. Se não fosse os efeitos do álcool da noite anterior e a sonolência, teria expulsado aquele cara a força no mesmo momento.
- Greg, está tudo bem? – o loiro apareceu na sala, ainda esfregando os olhos.
Ao avistar o homem esguio parado no meio do ambiente, a adrenalina invadiu o sistema do loiro. Tinha algo familiar nele, porém não conseguia identificar prontamente. Será que estava metido em problemas?

- Sr. Watson? – o moreno repetiu, acreditando ter finalmente encontrado quem procurava.
- E-eu. – gaguejou, aproximando-se do homem.
- Preciso que me informe sobre a localização atual de Sherlock Holmes.
A pergunta foi inesperada e exigiu algum tempo para resposta.
- Eu não sei onde Sherlock está. – a dúvida em seu rosto surgiu.
Será que era Sherlock quem estava metido em problemas?

- Por favor, Sr. Watson... Sei que vocês vem se aproximando nas últimas semanas. Inclusive, estou ciente sobre o passeio que tiveram ontem. Se tratava de alguma das brilhantes investigações de Sherlock, certo? – o tom era de deboche ao final, porém, sem deixar a seriedade.
- Eu juro que não sei onde ele está! – o garoto começou a ficar afito. – Ele está bem? O que está acontecendo?
O moreno percebeu a alteração do loiro e respirou fundo. Ele era apenas um garoto, e pelo visto, estava no escuro sobre a personalidade impulsiva de Sherlock. John não podia ser culpado pelas inconsequências do cacheado.
- Bem... A situação é que meu irmão está desaparecido desde a madrugada de hoje. – disse passando uma mão pela nuca.

- Espera um pouco... Você é irmão do Sherlock? – Greg disse, se aproximando dos dois. Antes ele só observava de canto, pronto para assumir o controle a qualquer instante.
- Sim. Mycroft Holmes. – ele acenou com a cabeça, apresentando-se.
- Você não pode vir assim até a casa dos outros! Chegou aqui presumindo que meu primo tinha relação com o desaparecimento de Sherlock! – o grisalho se indignou.
- Eu não estou presumindo coisa alguma. Apenas acredito que John tenha pistas sobre o paradeiro dele. – Mycroft devolveu, olhando fixamente o policial.
No fundo, ambos estavam preocupados. Apesar de não se conhecerem, conheciam Sherlock e os problemas que seus desaparecimentos causaram no passado.

- Eu posso saber algo. – o loiro sussurrou, lembrando-se.
Correu para o quarto, deixando os dois homens da sala perdidos. Voltou com o aparelho celular em mãos, vasculhando o histórico de pesquisas.
- Desculpe, Greg... – ele olhou para o primo e logo se dirigiu à Holmes. – Ontem estávamos investigando um caso que surgiu na sexta-feira, o assassinato do dono da cafeteria que frequentamos.
- Vocês dois... – Lestrade se controlou para não lançar um sermão naquele momento.

- Conseguimos três endereços, no qual visitamos dois. O último resolvemos deixar para depois. – John respirou desanimado. – Ele deve ter ido sozinho nessa madrugada.
- Qual o endereço? – Mycroft ignorou todos os perigos contidos na aventura dos dois, querendo ir direto ao ponto.
- Eu só falo se eu puder ir junto. – ele mordeu os lábios, tentando se impor.

Holmes pensou em dizer o quão absurdo aquele pedido era, porém podia ver a preocupação nos olhos de Watson. E eles não podiam perder mais tempo.
- Vamos. – o homem concordou com a cabeça.
John correu para seu quarto, a fim de vestir a primeira roupa decente que encontrou. Greg fez o mesmo, pois não podia deixar seu primo arriscar-se desse jeito sem ele por perto.
Mycroft aguardou os dois com ansiedade, fazendo-os entrar rapidamente em seu carro.


- Vocês dois não tinham ideia da loucura que era se envolver em algo assim? Deviam ter me avisado imediatamente. – Greg disse assim que chegaram ao endereço.
- Sr... – Mycroft tentou se lembrar do nome do grisalho.
- Lestrade.
- Sr. Lestrade, terão bastante tempo para discutir suas regras de convivência. No momento, me importo em encontrar Sherlock.
- Talvez, se você discutisse "regras de convivência" com Sherlock, ele não estaria nessa situação. – retrucou irritado.

- Ei! Aquele era o cara que nos seguiu ontem! – John interrompeu os dois homens.
Ele havia contado com mais detalhes o dia que tivera com o Holmes mais novo, incluindo todas as pistas encontradas. Nem sequer deixou de fora o momento em que foram perseguidos, sendo este um dos maiores motivos para a irritação do primo.
- Ele faz parte da gangue que está reunida lá dentro do armazém. – Holmes mais velho falou sem muito interesse, enquanto teclava no celular.
- Você acha que Sherlock está lá dentro? Devemos entrar? – Watson perguntava, os olhos arregalados.
O carro de Mycroft estava estacionado a uma certa distância do armazém, pois o local era bem deserto e o automóvel chamaria atenção se estivesse mais próximo. 

O perseguidor foi identificado por John pelas roupas que usavam, as mesmas do dia anterior. Viu que o mesmo entrou no armazém.
- Creio que há uma chance de ele estar lá. – Greg comentou, analisando o local. – Aquele carro está parado bem próximo à porta, devem estar esperando para fazer o transporte de algo ou alguém.
- Pode ser ele! – a preocupação dominava a voz do loiro.
- Não se preocupem, uma equipe especializada está chegando. – Mycroft anunciou, surpreendendo os outros.
- Não podemos esperar. – John disse, já abrindo a porta do carro.
Greg esmurrou o banco do automóvel ao seu lado, irritado com a irresponsabilidade do primo. Agradeceu por ter decidido levar sua arma e saiu atrás do garoto. 

Mycroft esperou um pouco, revirou os olhos e soube que os seguir seria o moralmente certo.
Holmes não gostava desse tipo de aventura, diferente de seu irmão, mas optou em se juntar aos primos ao perceber quão despreparados os dois eram.
- Se vamos fazer isso, precisamos fazer certo. – Greg agarrou o braço do loiro, fazendo-o prestar atenção.
- Devemos saber o número aproximado de pessoas lá dentro. – Holmes adicionou, alcançando-os.
- E excluir as possibilidades de fuga. – John olhou diretamente para o carro próximo da porta.
- Eu cuido disso. – Mycroft disse e direcionou-se para o automóvel.

Certificou-se de que não havia câmeras ou pessoas vigiando o local. Poderia ter se considerado sortudo por ter conseguido chegar ao carro sem qualquer problema, mas não acreditava em sorte. Apenas considerou que todos naquele lugar eram completos idiotas.
Retirou um pequeno dispositivo de seu bolso, que se mostrou ser um canivete extremamente sofisticado. Utilizou-o para furar os quatro pneus do veículo.
- Vamos lá. – John puxou Greg para o encontro de Holmes.

Os três rodearam o perímetro com o máximo de discrição e silêncio possível, encontrando enfim uma escadaria de incêndio na parte posterior. Antes que qualquer um pudesse dizer algo, John iniciou a subida. Lestrade fez o mesmo, pois aquela era uma forma de espiarem o interior do armazém pelas janelas próximas ao teto.
Mycroft ofereceu-se para continuar no chão, para dar cobertura caso alguém aparecesse. Lestrade se sentiu mal em aceitar aquele auxilio, pois pensava estar deixando uma pessoa despreparada em uma função muito arriscada. Todavia, a impulsividade de John o fez parar de ponderar e apenas continuar a subir os degraus.   

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