XIV

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    Sherlock receberia alta por volta das 20 horas e John pediu para ficar com o garoto até o horário. Greg resolveu ir para casa, pois a agitação do dia havia cansado mais que o esperado.
Watson aproveitou o tempo com Sherlock para saber sobre o caso.
- Então, me conte! O que disse aos policiais? – agora ele estava sentado em uma poltrona, colada à cama.
- Eu disse o óbvio, toda a resolução do caso. – deu de ombros. – Era bem mais simples do que eu pensei a princípio.

John permanecia o olhando, esperando por mais. Ele estava totalmente sem ideias e ansioso.
Holmes, por sua vez, sentiu um enorme conforto em poder vivenciar o momento. O medo que passou por sua mente quando estava no armazém, de nunca mais poder ver o loiro, tinha oficialmente passado.
- Bem, o homem que nos seguiu ontem foi percebido por nós após termos saído do restaurante, sendo que antes disso tínhamos feito perguntas na loja de antiguidades. Logo imaginei que se tratava de Jack Morello, sabendo que tínhamos conhecimento de seu envolvimento com o crime e estávamos o procurando. – ele se sentou completamente na cama, para discursar melhor. – Então, ele só pode ter obtido tais informações com a senhora da loja.

Algo iluminou o rosto de John, como se aquilo fizesse todo o sentido do mundo.
- A noite, revisei os fatos do caso e me lembrei do que Sammuel havia nos dito. Lembra-se que que o dono da cafeteria possuía uma mala marrom? Que atraiu a atenção de Sam justamente por não usarem mais hoje em dia?
John concordou, ainda sem entender qual a relevância da informação.

- Não consegue ver? – um sorriso animado surgiu em Sherlock, fascinando ainda mais o loiro. – Era, de fato, uma mala antiga. Vinda da loja de antiguidades que visitamos! Aliás, percebeu o quanto de poeira tinha naquele lugar?
- Foi péssimo para minha alergia. – John riu, lembrando-se dos espirros.
- Para qualquer um, John! A questão é que ninguém vai lá para comprar os artigos, é apenas fachada. Por isso a dona não faz questão de conservar os itens devidamente. – ele deu uma pausa, vendo que o amigo ligava as informações. – Ela está envolvida com a gangue que comentou para nós. Na verdade, ela é a líder.

Os olhos de Watson arregalaram. Aquela senhora tão sorridente quando entraram na loja não parecia estar envolvida com uma organização capaz de matar comerciantes locais!
- E por que mataram o dono da cafeteria? – John não conseguia entender o que o homem podia ter causado à senhora e a seus negócios ilegais.
- Esse ponto... Precisei apenas pesquisar a própria vítima!
A expressão de dúvida voltou a tomar conta do futuro médico.

- Ele foi contador de empresas por muitos anos, antes de abrir a cafeteria. Há algum tempo, o comércio dele teve problemas e a solução foi pegar dinheiro emprestado com a gangue, em troca de seus serviços. – Holmes sorriu ao notar que tudo começava a se ajeitar para o loiro. – Ele precisava fazer fraudar os balanços de todos os negócios sob controle da organização, como uma forma de lavar dinheiro. No dia do crime, pretendia entregar os papéis em seu poder e declarar que aquele fora seu último trabalho para eles. Entretanto...
- Eles não iam deixa-lo sair assim. Ele sabia muito. – John concluiu.
- Exato. – Sherlock concordou.
- Uau! Eu não consegui imaginar nem metade disso. Muito menos sobre a dona da loja de antiguidades! – o garoto estava desacreditado.
- Aparências enganam, John. – ele sorriu, divertindo-se com a surpresa do outro.


O loiro fez perguntas sobre os momentos do cacheado dentro do armazém e, depois, gastaram o tempo criticando os programas que passavam na televisão. Perto das 19 horas, alguém bateu a porta do quarto.

- Olá, Sherlock! John! – Mary adentrou devagar, sorrindo gentilmente.
- Olá, Mary. – Sherlock acenou com a cabeça.
- Mary! – John levantou da cadeira, indo diretamente até ela.
Os dois garotos estavam surpresos pela presença dela. Watson, especificamente, assustou-se em perceber que havia esquecido que deveria encontrar a garota! A bateria de seu celular acabara horas antes e a conversa com Holmes o distraíra.

- Me desculpe, a bateria do meu celular acabou! – ele disse nervoso.
- Está tudo bem, eu imaginei que fosse isso. – ela pegou nas mãos de John, tentando acalmá-lo. – Eu liguei para Greg e ele me contou tudo. Como você está, Sherlock?
- Estou bem, obrigado por perguntar. – ele deixou um sorriso aparecer pela preocupação genuína da garota. – Serei liberado daqui a uma hora.
- Que ótimo! – ela suspirou aliviada. – Eu preciso pegar o trem de volta para casa daqui a pouco... Posso conversar com você, John?
- Claro! – o loiro concordou, levando uma mão até a cintura da garota e a guiando em direção a porta.
- Foi bom conhece-lo, Sherlock! – ela acenou antes de sair.
- Igualmente, Mary. 


O casal já estava próximo a cafeteria do hospital, quando John resolveu quebrar o silêncio.
- Você quer beber alguma coisa? Um café?
- Não, obrigada. – ela parou de caminhar e se virou para olhá-lo. – Nós precisamos conversar sobre algumas coisas.
- Ontem à noite...
- Não só ontem à noite. – encolheu-se um pouco. – Nosso namoro em geral.

- Eu sei que a distância está tornando difícil. – ele concordou com cabeça, abaixando-a.
- Não é só a distância, John. – Morstan levou uma mão até seu queixo, fazendo-o voltar a olhar para ela. – Nós funcionamos muito bem como amigos, mas não como namorados.
- Mas... Eu gosto muito de você! De verdade! – John se apressou em explicar.
- Eu sei disso. – Mary suspirou e passou a segurar o rosto do garoto, alisando levemente. – A questão é que você gosta de mim como uma amiga. 

Ele pensou em negar, mas não queria continuar com as mentiras. Em algum ponto, sim, pensou estar apaixonado pela garota, entretanto, o tempo foi lhe mostrando que não era assim.
- Eu não estou chateada com você, eu só queria que você tivesse sido honesto desde o momento em que percebeu.
- Desculpa. – ele sussurrou. – Eu tentei falar diversas vezes, mas a ideia de magoá-la... Eu não podia.
Ela concordou com a cabeça e soltou seu rosto.
- Você é meu melhor amigo. Vai demorar, mas ficaremos bem. Eu vou ficar bem – ela dizia mais para si mesma do que para ele.
- Pensar que você está triste é horrível para mim! Eu espero que não demore tanto, mesmo. – John acrescentou.
- Eu também. – ela deu um sorriso leve. – O que me conforta é que agora você pode ir atrás do que realmente quer.

O cenho de Watson se franziu, fazendo a garota rir baixo.
- John, eu vi o modo como você e Sherlock se olham. – ela notou o quão corado o garoto ficou. – Eu sempre quis que você me olhasse daquele jeito... Então, por favor, não estrague isso!
- Ma-Mary... – ele gaguejou.
- Pare, John! – ela levou um dedo a seus lábios, rindo outra vez e o fazendo a acompanhar. – Eu preciso ir embora. Depois mando uma mensagem avisando que cheguei, tudo bem?
Ele assentiu com a cabeça e não hesitou em puxá-la para um abraço apertado.
Respirou fundo o perfume conhecido há tantos anos, buscando conforto.
- Eu te amo, Mary.

John temeu aquela conversa por tanto tempo e ao enfim enfrenta-la, fora totalmente diferente do imaginado.
- Eu te amo demais, John. E, por isso quero que seja feliz... Sua felicidade, de certa forma, já me faz feliz
Mary sempre foi extremamente inteligente, apenas demorou para tocar no assunto por conta dos próprios sentimentos. Ela era apaixonada pelo loiro e parte de si, queria acreditar que poderia dar certo. 

Entretanto, ver John e Sherlock juntos foi suficiente para perceber que o melhor amigo não estava feliz com ela e poderia ser com o moreno.
Era difícil tomar uma atitude como aquela, mas a garota sempre colocaria a felicidade do melhor amigo em primeiro lugar.

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