XIII

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    Sherlock possuía alguns lapsos de consciência e, na maior parte deles, preferia permanecer na inconsciência. A boca de seu estomago doía, devido a golpes recebidos na região horas antes, e seus lábios estavam completamente secos pela privação de água.
Sua mente buscava maneiras de escapar do cativeiro que havia arrumado para si mesmo, porém, estava sendo constantemente observado.

A ideia de investigar o terceiro endereço da investigação, durante a madrugada acreditando ter poucas pessoas no local, foi um fiasco. Ele foi descoberto pouco depois de chegar lá, levando uma série de golpes de homens enormes. Holmes percebeu que todos do armazém já estavam avisados sobre a possibilidade de sua visita e sabiam o que fazer caso o garoto aparecesse. Ele sabia coisas demais. 

Sherlock tinha noção disso e procurava aproveitar-se de tais informações para conseguir sua liberdade. Sua última retomada de consciência foi definitiva e permitiu que pudesse deduzir o que o ambiente lhe oferecia.
Cerca de dez homens estavam espalhados pelo grande armazém, sendo que três deles estavam sentados perto de Sherlock. O cacheado estava sentado e fora amarrado à uma das pilastras de sustentação, tendo suas mãos imobilizadas. Pela aparência de seus "guardas", tinha certeza de que estavam conectados à mesma gangue de Jack Morello.
Suas investigações pela cidade, no dia anterior, com certeza incomodaram aqueles homens.

Pela movimentação, imaginou que sairiam do lugar dentro de algumas horas. Esforçavam-se em guardar uma série de papeis em mochilas comuns, bem como alguns bolos de dinheiro. Sherlock teve certeza do quanto estavam preocupados com o que sua curiosidade podia lhes causar. 

O mesmo homem que perseguiu ele e Watson na tarde anterior acabara de entrar no armazém. Aparentou ser alguém importante dentro daquela organização, pois em poucos minutos recebeu uma maleta marrom de um dos outros homens.
Naquele momento, Holmes conseguiu encerrar todo o caso em sua mente.

O perseguidor, agora sem o capuz para escondê-lo, tinha características similares as de Jack Morello. Aquela mala, em suas mãos, também condizia com a mala vista com o dono da cafeteria, horas antes do crime.
Por pior que parecesse, aquele cativeiro foi capaz de oferecer todas os detalhes necessários. Ele não via a hora de poder contar tudo para John!
Entretanto, será que conseguiria? 

O cérebro humano tende a resistir à ideia da própria morte e com Sherlock não foi diferente.
O cenário era facilmente analisável: Ele não seria útil para a gangue, na verdade, tratava-se de uma grande ameaça aos negócios deles. O dono da cafeteria, dentro de sua teoria, passou pelo mesmo processo de inutilização e teve a vida extinguida. 

Holmes já havia passado por momentos difíceis, nos quais a própria existência era irrelevante, mas aquele não era um desses.
Há semanas estava se sentindo vívido, animado, curioso... Apaixonado. Por tais motivos, pela primeira vez em muito tempo, Sherlock não queria aquele fosse seu fim.
Se preocupava em continuar bem, estável; e, acima de tudo, tinha a necessidade de ver John Watson. Mesmo que fosse a última vez.

Precisou bloquear uma série de pensamentos que as pessoas costumam ter quando estão desiludidas.
Mas ele era Sherlock Holmes... Não podia desistir tão fácil!
Fazia questão de resolver aquele caso e manter-se são e salvo. Principalmente para poder admirar o olhar fascinado de Watson quando discorresse sobre todas as suas deduções.

Fechou os olhos e então, seus pedidos foram atendidos.

Uma equipe especial, formada por agentes do MI6, invadiu o armazém. A primeira ação foi inundar o local com gás lacrimogênio, utilizando a distração para entrarem rapidamente e renderem todos os homens armados. 

Sherlock pensou estar sofrendo de efeitos colaterais do gás, pois tinha lapsos de sanidade nos quais estava sendo carregado por duas pessoas para fora do armazém. Sendo que, um dos corpos que o sustentava, parecia pertencer a John Watson.
Tentou a todo custo manter a consciência, para se certificar de que o que via era real, entretanto, não resistiu.
Como seria possível o loiro estar ali? Será que... aquilo era apenas sua mente atendendo aos seus últimos pedidos?

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