XXII

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Após falar com o irmão, Harriet decidiu que ainda não queria voltar para dentro da casa, sentando-se no primeiro banco do jardim que avistou. Após minutos sentindo a brisa da madrugada que se iniciava, percebeu conhecer a garota sentada a seu lado desde o início.

- Molly, não é? – Harry abaixou o rosto, para olhá-la.
Hooper tinha uma expressão de completo desânimo, destoando da atitude que possuía quando as duas se conheceram.
Harriet não ouviu resposta e hesitou em seguir a conversa ou não. Será que aquela noite não era sobre ela se divertir, mas sim ficar consolando os outros?

- Sei que isso não é da minha conta, mas... Você está bem?

A estudante fitava o jardim inexpressivamente.
- Eu só fui idiota outra vez. Não sei porque insisto em pensar que vou gostar de alguém e isso será recíproco. – Molly deu de ombros.
- Ei! Não fala assim! – Harry respirou fundo, ganhando tempo para pensar nas coisas certas a se dizer. – Quem te fez pensar isso? Talvez você esteja enganada.

Enfim a mais nova passou a fitar Watson, sorrindo ironicamente ao olhar para os lábios da garota.

- Não estou enganada. – balançou a cabeça, apontando para a boca manchada de batom de Harriet. – Até porque você era a loira que Irene estava beijando.
A loira levou uma mão até a nuca, alisando-a sem saber o que fazer.

Ela de fato havia ficado com uma garota, pouco antes de encontrar com o irmão, do lado de fora da festa. Entretanto nem ao menos se lembrava do nome dito! Apenas que era uma "pirralha" bastante animada, propondo coisas consideradas indecentes até por Harry.

- Ok. – ela se apressou em limpar os lábios, removendo os restos de batom de Adler. – Então você gosta da dona da casa? Por isso veio mais cedo ajudar?
Hooper concordou, suspirando ainda mais decepcionada. Prestou-se até ao ridículo de ajudar Adler com a festa, acreditando que a aproximação entre elas significasse algo!
- Hoje eu estou dando mais conselhos do que eu deveria, mas... Essa Irene não é pra você.
A estudante estranhou a frase. Harry estava sendo ciumenta em relação a Irene? Elas haviam estado juntas apenas uma vez, não foi?

- Não! Não estou falando isso por estar interessada nela! – se apressou em explicar assim que percebeu a ideia que podia ter passado, seu rosto assustado. – Eu falei isso porque você parece ser uma ótima garota e ela é... – mordeu o lábio, pensando no melhor termo. - Bem, ela é intensa.
A expressão de Harry ao descrever a anfitriã da festa como "intensa" fez Molly rir. Ela tinha uma noção do que o adjetivo queria dizer, mas percebeu ser mais grave quando Watson falou.
- Você ainda é muito nova pra ficar mal assim por alguém. Ou se achando idiota por isso. – as duas se olhavam agora.

Molly sentia-se mais leve, o que era bem estranho. Ela estava conversando justamente com a menina que ficou com Adler minutos atrás!
- Como se você fosse super velha para dar conselhos. – um sorriso divertido ameaçou aparecer nos lábios de Molly, fazendo Harry gargalhar.
- Pode ter certeza que já passei por merdas suficientes para uma vida. – ela se aconchegou ao banco, passando a fitar as outras pessoas pelo jardim. – E também conheci muitas pessoas como Irene para saber que não valem a pena.

O silêncio, até que confortável, preencheu o espaço entre as duas. Por incrível que parecesse, Harry se sentia bem ali.

Ficou feliz em perceber que Molly, da mesma forma que Sherlock, pareciam definitivamente melhores que Sally e Anderson. Torcia para nunca mais precisar ficar perto deles dois de novo.

- Pra ser sincera, eu nem gosto tanto assim dela. – Hooper quebrou o silêncio, despertando o interesse da loira.
- Sério?
- Sim. – ela assentiu com a cabeça, voltando a olhar para Watson. – Eu gostava da sensação de ter alguém interessado em mim. Mas agora, acho que estou frustrada por ter sido apenas...
- Provocação. – Harriet completou, recebendo um sorrisinho da outra. – Eu percebi que ela é desse tipo de pessoa. Provocadora.

- Você fala tão bem que suspeito que seja assim também.

- Talvez... – as duas riram, a loira analisava a garota ao seu lado. – Por isso sei que você vai despertar o interesse de pessoas bem melhores que ela. Você parece ser boa demais.
A mais nova sentiu o rosto avermelhar no momento em que ouviu as palavras de Watson.

- Quanto você bebeu? – sussurrou Molly, ainda envergonhada.
- Nenhuma gota. – Harry sorriu vitoriosa. – Não é necessário álcool para elogiar você, Molly.
Hooper enrubesceu novamente, dessa vez, acrescentando um riso de nervoso.

Watson se viu observando a outra por mais tempo que o normal, sorrindo confortável em ter conseguido melhorar o humor da adolescente.

- E quer saber? – a loira adicionou. – Irene nem é tão incrível quanto devem imaginar.
Os olhos de Molly se arregalaram, sem acreditar que alguém estava falando "mal" da estonteante Irene Adler. Harriet não conteve a risada ao ver a expressão da estudante, fazendo-a acompanhar.

Hooper não sabia se Harry disse aquilo apenas para agradá-la, mas se fosse essa a intenção, com certeza havia conseguido.

A loira teve o mágico poder de fazê-la se sentir bem dentro de minutos.

~

- Você só aceitou vir aqui porque estava morrendo de vontade de comer isso, né? – Greg olhava divertido o entusiasmo de Mycroft com o congelado.
Enquanto comiam o sanduíche de biscoito recheado com sorvete, bebiam um vinho barato que Lestrade encontrou na geladeira do apartamento.

- De certa forma. – Mycroft esticou a taça para receber mais bebida. – Posso dizer que o vinho é outro grande atrativo.
Greg o serviu e voltou a se sentar ao seu lado, no sofá.
- Mas você não sabia sobre o vinho até chegar aqui. – o grisalho observava o outro.
- Eu posso ter deduzido. – Holmes se ajeitou no sofá, a fim de devolver a observação.

Os olhares fixados os mantiveram em silêncio, apenas apreciando a companhia. Desde o caminho até o apartamento, não deixaram de conversar durante um só minuto e boa parte da comunicação era impulsionada pelo álcool.

- Eu acho melhor ir embora, logo Sherlock chegará em casa... – disse sem mexer um músculo.
- Fique. – os olhos de Greg analisavam todo o rosto de Mycroft. – Se John não chegou, eles ainda devem estar pela festa.
- Você disse que eu deveria cuidar melhor de Sherlock e agora quer que eu faça o contrário? – Holmes mais velho sorriu, logo bebendo mais alguns goles do vinho.

- Você já está fazendo um bom trabalho. Pode tirar essa noite de folga.

Mycroft respirou fundo, pousando a taça sobre sua coxa, sem tirar os olhos do homem ao seu lado. De fato, passar mais algum tempo ali não faria mal.
- Você me convenceu. – fez uma careta, derrotado.
- Até que foi mais fácil do que eu imaginava. – o grisalho riu baixo, aconchegando-se devagar para estar mais próximo do outro. – Será que posso convencê-lo de mais coisas?

Dessa vez, o suspiro mais fundo de Holmes foi motivado pela falta de ar causada pelas palavras de Lestrade. Ele não estava acostumado a se envolver com as pessoas daquela forma, mas ainda assim, sentia-se confortável ao lado do policial... O suficiente para entender e corresponder às suas intenções.
- De onde veio toda essa ousadia? – o moreno decidiu devolver as provocações.
- Álcool, logicamente. – levantou a taça de vinho, bebendo mais um gole.
- Então, também culpando o álcool, permito que me convença de mais coisas. – Holmes disse com um leve sorriso nos lábios.

Greg retirou a taça das mãos de Mycroft, esticou os braços para leva-la, junto com a sua, até a mesa de centro. Com as mãos livres, levou uma ao rosto do moreno e outra à sua cintura, causando-lhe arrepios.
Os olhares estavam fixos e os rostos se aproximavam de maneira torturante. Mycroft aproveitou para guiar suas próprias mãos até as costas do grisalho, acelerando a aproximação dos dois.

Havia um tempo que Lestrade não se aproximava de alguém assim, pois não encontrava pessoas que o atraíssem. Ele próprio se surpreendeu ao perceber o interesse por Holmes, um homem que fora tão rude à primeira vista! Todavia, o pedido de desculpas e o encontro inusitado neutralizaram a má impressão inicial, transformando-o em algo diferente. Algo interessante.

Finalmente seus lábios se tocaram e nenhum dos dois sentiu vergonha em aprofundar o beijo em seus segundos iniciais. Inconscientemente, aquela noite havia sido repleta de flertes discretos que fizeram a vontade de um pelo outro crescer aos poucos.

Não sabiam se seria um relacionamento de apenas uma noite, mas definitivamente esse era o último pensamento que passava por suas mentes. Queriam aproveitar o momento, tão deliciosamente agradável.

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