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    Mary gostaria de encontrar John na mesma cafeteria em que os dois garotos se encontravam normalmente, porém, devido ao crime do dia anterior isso era impossível. Contentaram-se em ficar em uma outra, indicada por Sherlock.

Quando os garotos chegaram, Mary acenou discretamente. O sorriso aberto em seu rosto indicava a real felicidade em encontra-los. Ela se levantou e fez questão de abraçar Sherlock, antes mesmo de se dirigir ao namorado.

- É tão bom finalmente conhece-lo! John fala muito de você.
O rosto do loiro corou e um sorriso satisfeito invadiu o moreno.
- É bom conhece-la também. – Holmes devolveu a gentileza, finalmente se livrando do abraço.

Para John, ela ofereceu um abraço igualmente intenso, acrescentando um beijo ao final. O desconforto de Watson era evidente, porém, não era motivado pela falta de interesse na menina. A principal razão era saber que Sherlock estava assistindo àquilo.

 Finalmente todos se sentaram e a loira iniciou suas perguntas. Queria saber o que os garotos fizeram durante a manhã, os locais que costumavam visitar e o modo como se tornaram amigos.
- Sherlock não gostava de mim no início. – John comentou, rindo baixo.
- Eu nunca disse isso. – o moreno apenas o olhou de canto, contendo um sorriso.
- Precisava? Eu cheguei, querendo ser sua dupla, e você parecia estar tentando me afastar de todas as formas!
- Eu não estou acostumado com companhias, John.
O olhar dos dois se manteve por algum tempo e Mary estranhou, sem saber se ela ainda estava inserida na conversa.

 - John era minha dupla em todos os trabalhos! Me sinto totalmente abandonada. – ela resmungou em brincadeira.
- Você é uma aluna melhor que eu, Mary! Aposto que estão disputando você. – o loiro apertou uma das bochechas da namorada.
- Não é a mesma coisa! – ela deu de ombros. – Sherlock, John não é uma ótima dupla?
O cacheado sentiu uma inquietação no estômago ao receber tal pergunta, mas não hesitou em responder.
- A melhor. – ele lançou um breve olhar para Watson, constatando o quão corado o garoto estava.

 John sempre teve essa opinião sobre Holmes, mas constantemente pensava não ser recíproco. Desde o primeiro encontro na cafeteria, o loiro colocava Holmes em um pedestal. Era uma pessoa incrível, entretanto, isolada e intocável. Saber que aquele ser tão "especial" não o achava um idiota e o considerava como a melhor dupla era o que faltava para se sentir mais próximo.


Mary trouxe alguns outros assuntos para a mesa, conseguindo arrancar até, com sua espontaneidade, sorrisos de Sherlock. Era uma garota animada, cheia de vida e extremamente agradável. Observando tais pontos, o moreno conseguia entender o que levou à amizade entre ela e Watson, bem como o relacionamento amoroso. Compreendeu, inclusive, o medo do loiro em dizer a verdade para a menina. Ele não queria, de maneira alguma, perder aquela amizade tão bela.

 - John me contou que você tem umas habilidades fascinantes! – ela pontuou.
- Ele exagera às vezes. – o moreno deu de ombros.
Os três tomavam cafés e dividiam uma porção de aperitivos.
- Nesse ponto eu não exagerei não! – John disse diretamente para o outro, logo virando-se para a namorada. – Ele faz deduções inimagináveis!
- Oh! Eu quero! Faça deduções minhas? – ela se agitou em sua cadeira, sorridente.
- Não sei se é uma boa ideia... – ponderou Holmes.
John parou para pensar e concordou que pudesse ser um tanto desastroso. Como falaram em seu primeiro encontro, nem todas as pessoas gostavam de ter suas verdades expostas.
- Fale logo, por favor! – ela suplicou novamente.

 A insistência da loira fez com que a vaidade de Holmes ganhasse qualquer batalha interna de sua mente. Ele fechou os olhos e respirou fundo, reunindo tudo o que seu Palácio Mental havia registrado sobre a garota.
- Você não dormiu durante a noite anterior, incomodada com algum assunto relacionado a viagem que fez para cá. Sei disso devido às olheiras, parcialmente cobertas pela maquiagem, e pela quantidade de bocejos que deu durante nossa conversa. Seus dedos, batendo constantemente na mesa, assim como seu pé, no chão, mostram que o incomodo da madrugada persiste. – ele hesitou em continuar, decidindo se seu comportamento se basearia na presença de John ou na simples presença de Mary, alguém como qualquer outro. – E, bem, a forma como você se retorce na cadeira mostra que suas peças íntimas estão desconfortáveis. E tudo isso porque resolveu usar um modelo diferente para impressionar John essa noite.

 O rosto de Mary congelou. A boca se abriu por algumas vezes e os olhos estavam fixos no moreno. Todo o ar de seus pulmões sumiu e os lábios ficaram completamente secos.
- Vo-vocês... – ela engoliu a seco, encontrando forças para levantar da cadeira. – Vocês me dão licença?
Morstan saiu rápido em direção ao banheiro, transtornada com o momento embaraçoso pelo qual acabara de passar. Na mesa, os dois garotos não sabiam o que dizer e John estava envergonhado. Ele não imaginava que Mary apelaria para lingeries especiais como uma forma de impressioná-lo ou que Sherlock faria tal comentário para a mesma.

 - Eu te disse, a maioria das pessoas não gosta. – Holmes disse baixo, terminando de beber seu café.
- Algumas coisas são delicadas demais... – John sussurrou, ainda sem acreditar no comentário do outro.
- Algumas pessoas são delicadas demais. – Sherlock devolveu, ríspido.
Os dois fitaram-se por longos segundos, até que o moreno se levantou, colocando algumas notas na mesa proporcionais ao valor de seu café.
- Você já está indo? – o olhar do loiro foi de decepção.
- Nós dois percebemos que essa não foi uma boa ideia, Watson.
Watson... John sentiu-se mal por não ter sido chamado pelo primeiro nome. Ele estava tão feliz pelo avanço da amizade dos dois e agora, parecia que tinham voltado todos os estágios.

 - Não, Sherlock! Por favor, está tudo bem. Mary irá entender. – ele comprimiu os lábios, ansioso. – Eu gostaria que você ficasse.
Sherlock limpou a garganta, pego de surpresa pela declaração tão sincera do outro. Ele suspeitava de que John gostasse de sua companhia tanto quanto ele gostava da dele, porém, naquele momento, teve a certeza. Parte de si sofreu em silêncio, com medo do que aquela observação poderia causar. Ele deveria ignorar isso, não podia se deixar levar por sentimentos irracionais... Não de novo!
- Eu realmente acho melhor ir embora. – com pesar, levou uma mão até o ombro do baixinho. – Nos falamos mais tarde?
O conhecido arrepio tomou conta de Watson, fazendo-o entender que estava tudo relativamente bem entre os dois. A situação foi desagradável quando comparada a manhã tão boa que tiveram, mas nada desastroso da forma como imaginou. Ainda teria Sherlock por perto.
- Claro. Combinamos de ir ao terceiro endereço juntos, tudo bem? – o loiro olhava para a mão de Holmes, que logo foi afastada.
- Certo. – um sorriso de canto apareceu no rosto do moreno, junto a um aceno de cabeça positivo.

 Ao perceber que a garota voltava, Sherlock aproveitou para fazer sua saída. Ele se sentia péssimo em deixar John, especialmente após o garoto pedir que ele ficasse. Entretanto, o cacheado tinha plena consciência do quanto os dois precisariam conversar e do quanto Morstan odiaria sua permanência.
Seu violino seria a melhor opção para descontar todos os pensamentos e sensações do dia.

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