IV

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Cerca de três semanas se passaram dessa forma. John e Sherlock encontravam-se duas vezes por semana na cafeteria, às quartas e sextas-feiras. Durante o período no colégio, trocavam apenas "Bom dia".

No dia em que precisaram apresentar seu seminário mensal, Watson aproveitou para obter a mesma proximidade da cafeteria no ambiente escolar.
Utilizou-se do fato da última aula ser a de biologia e livrou-se dos amigos, dizendo que precisava conversar com Sherlock durante o intervalo, para acertar os últimos detalhes da apresentação.

- Foi difícil te encontrar! – John sorriu ao finalmente ver o moreno.
Ele não costumava passar o intervalo na área do refeitório, mas sim perto da quadra de esportes. Algumas outras pessoas tinham o mesmo hábito, pois ali havia um gramado bastante confortável para passar o tempo.
- Nunca tinha vindo para cá? – Sherlock, que estava sentado em um banco, movimentou-se para dar espaço ao outro.
- Eu não sabia que podíamos ficar aqui no intervalo. É um ótimo lugar. – ele sorriu, esticando as pernas e aproveitando o sol.
- Só por favor, não traga Anderson para cá. – Holmes disse sério, logo completou. – Aposto que gostará de passar os intervalos aqui, mas por favor, não estrague os meus.

John conseguiu apenas rir. Sherlock implicava bastante com Philip, mas ficando ao lado do garoto durante a manhã inteira, Watson sabia que não era sem motivos. Anderson costumava falar besteiras absurdas, sendo essas constantemente alvo de piadas de Sally.
- Se eu for passar meus intervalos aqui, será só com você, Sherlock. – a frase saiu naturalmente após a risada.

Um silêncio se seguiu. Holmes escondeu um sorriso que quis brotar, afinal, ninguém parecia gostar de sua companhia tanto quanto Watson. E este, por sua vez, corou ao perceber o que havia dito. Ele percebia o quanto apreciava estar ao lado do moreno, mas parte de si não achava aquilo normal. Se em sua mente aquilo já era confuso, imagina ao verbalizar?

- Está nervoso para o seminário? – o loiro se apressou para alterar o assunto.
Sherlock demorou um pouco para responder, pensando se torturaria ou não o colega pela frase dita anteriormente. Resolveu não brincar com a sorte. Por mais que não admitisse, adorava os momentos que passavam juntos e não queria correr risco de perde-los.
- Não. Nosso trabalho será o melhor.
- Um pouco confiante demais, não? – John não olhava diretamente para o outro, ainda se recuperando da vermelhidão do rosto.
- É algo óbvio, Watson. A maioria das pessoas em nossa sala são idiotas.

- A maioria? Achei que todos fossem idiotas. – o mais baixo estranhou que houvesse exceções. Sherlock era muito categórico diminuindo a humanidade.
- Alguns se salvam.
- Quem, por exemplo? – ele estava interessado. A opinião do cacheado era sempre importante.
- Molly Hooper, Irene Adler... E você. – disse desinteressado. Ou pelo menos, tentando parecer. Principalmente ao se referir ao parceiro de biologia.
John molhou os lábios, tentando ter tempo de pensar no que dizer.

Ele? Ouvir aquilo foi como música para os ouvidos. Estar na lista de "não idiotas" de Sherlock era sensacional. Mas por que toda aquela alegria? Não. Não queria falar sobre si mesmo com o garoto. Já bastava o momento constrangedor de minutos atrás.
Focou em Molly Hooper. Ela devia receber crédito por terem sido muito amigos, embora ele não saiba bem qual seja a história por trás do rompimento dessa relação.
E Irene Adler? Ele não era cego e podia ver o quanto a garota era estonteante. Todas as garotas e garotos do colégio não resistiam aos seus encantos e ela parecia ser do tipo de pessoa que consegue absolutamente tudo o que deseja.

- Irene? Por quê?
- Admiro-a muito. – Holmes deu de ombros.
Aquela resposta irritou profundamente John. Ele mal sabia o motivo! Todos admiravam Adler, qual a novidade? Bem, a novidade era que ele tinha Sherlock como alguém diferente de todos.
- Imagino. – ele sussurrou, contrariado.
- Oh! Não! – o moreno deu uma risada descontraída, que atraiu a atenção do futuro médico. – Eu não a admiro dessa forma, que todos vocês fazem.

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