XVII

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John foi rapidamente para o apartamento, ainda anestesiado pelo momento com Sherlock. A sensação foi tão intensa quanto da vez em que ficaram próximos na Oxford Street! A diferença era que agora, o loiro já tinha ciência dos próprios sentimentos e estava prestes a declará-los de uma vez só... Prestes a beijar os lábios tão desejados.
Entretanto, sua mente era invadida pelo desconforto com a presença de Harry na cidade.

Quando crianças, os dois eram inseparáveis, mas quando a garota atingiu a adolescência a situação mudou.
A partir dessa fase, Harriet era considerada uma pessoa bastante problemática. Apesar de sua sexualidade ter sido compreendida e aceita gradualmente pela família Watson, suas atitudes eram energicamente repreendidas. Não tirava notas boas na escola pelo simples fato de preferir dedicar seu tempo a rondar pela cidade com seu grupo de amigos ao invés de estudar.

Aliás, em seus passeios pela cidade, não havia uma só vez em que Sr. e Sra. Watson não recebessem ligações dos vizinhos reclamando da conduta da garota e os amigos.
Eles costumavam beber, perturbar todos que passassem por eles, sujar as ruas... Em uma cidade pequena, era o tipo de coisa que em poucos minutos todos estavam comentando.

Mais tarde, quando sua mãe decidira se divorciar de seu pai e finalmente se ver livre do relacionamento abusivo de anos, Harriet deixou a casa.
Ela foi, inesperadamente, admitida para uma faculdade em Bristol e não passou por sua cabeça rejeitar a oportunidade. Não importava a situação pela qual sua mãe passava, nem seu irmão pequeno. Todavia, infelizmente, o desejo não era motivado pelas perspectivas de estudo, mas sim por querer se ver livre de sua família, vivendo por conta própria.

Embora fosse mais novo, John entendeu muito bem o que acontecia e passou a cultivar um ressentimento da irmã. Ele sempre quis o melhor para a sua mãe e tinha dificuldade em entender as atitudes da garota.

- Ei, John! – ela acenou assim que o viu.
Harriet era extremamente parecida com John, quase que sua versão feminina e um pouco mais velha. As roupas, entretanto, eram um ponto de grande diferença. A loira parecia ter saído dos anos 90, em seu estilo Grunge desleixado.
- Harry. – ele sorriu levemente.

Ela havia esperado ele chegar, sentada na escadaria do prédio em que ele morava com Greg. Uma expressão de estranheza passou pelo rosto do garoto, ao perceber uma mochila cheia nas costas da irmã e uma mala relativamente grande ao lado. Não parecia apenas uma visita para o final de semana.

- Quanto tempo, não é? – ela se levantou, sem saber se abraçaria ou não o irmão.
Por fim, ficaram apenas com acenos de cabeça, sem muita proximidade.

- Bastante. – ele concordou com a cabeça e se apressou para entrarem.
Não se viam desde o Natal, no qual ela fez uma visita surpresa. A mãe dos dois se emocionou ao vê-la, mas se decepcionou quando a garota ficou por apenas dois dias e nem ao menos se despediu.


Ao adentrarem o apartamento, John jogou sua mochila no canto do sofá e esperou que a irmã não precisasse de muitas cerimônias.
- Como está sendo morar em Londres? Você sempre quis tanto isso. – ela riu baixo, lembrando de como o garoto odiou sair da cidade quando menor.
- Muito bom até agora.

- Legal. – Harry sentou-se na poltrona próxima ao sofá, sabendo que a conversa encerraria ali.

John sentou-se no braço do sofá, mais afastado da garota. Ele tentou utilizar algumas das técnicas dedução aprendidas por Sherlock para saber o motivo daquela visita. Harriet não era do tipo sentimental, que apenas sentiu "saudades".

- Harry... – ele respirou fundo, sabia que suas palavras não agradariam. – É legal te ver, mas por que você está aqui? Você com certeza não veio só me visitar e, pelas malas, está de mudança.
As sobrancelhas da garota se ergueram por alguns instantes, tentando entender de onde viera toda aquela perspicácia do irmão. O sempre bondoso John não era tão direto e observador daquele jeito!

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