Com todo o cuidado necessário, Sherlock virou o rosto para trás tentando verificar a situação. De fato, um homem de casaco preto e capuz estava a alguns passos de distância, colando os olhos nos adolescentes a cada direção nova que tomavam.
- Precisamos encontrar um local mais movimentado, para conseguirmos despistá-lo. – John dizia e acelerava gradualmente os passos.
- Sei para onde devemos ir.
Sherlock assumiu o controle sobre a direção para a qual seguiriam, apenas tentando acompanhar a velocidade ditada por Watson.O moreno consultava o mapa mental que possuía de Londres, encontrando a rota mais rápida até a Oxford Street. Essa era uma das ruas mais movimentadas da cidade, não muito longe de onde estavam.
Quando o loiro percebeu o destino, sorriu em aprovação.
- Ótima ideia, Sherlock. Para variar. – riu baixo, forçando-se a não esquecer a gravidade da situação.
- Você me surpreendeu. – Sherlock devolveu.
- Sou filho de um militar e primo de um policial da Scotland Yard... Sei algumas coisas sobre segurança.A adrenalina daquela "fuga", junto à proximidade dos dois, estava sendo irresistível para ambos.
Chegaram à rua e puderam respirar aliviados. A quantidade de pessoas era assustadora e, provavelmente, o perseguidor perceberia o fato e desistiria da caçada. Infelizmente, não foi o que aconteceu. Com maestria, o homem conseguiu se aproximar ainda mais dos garotos e estes voltaram a acelerar os passos. Empurravam quem fosse necessário e atravessavam de um lado para o outro da via, independente do tráfego.
- Tenho uma ideia. – Sherlock disse ofegante.
Antes mesmo que o loiro pudesse responder algo, tirou o próprio sobretudo e puxou o mais baixo para o recuo da fachada de uma das lojas. Aproveitando o espaço, fez com que John encostasse na parede e se colocou em sua frente, pressionando os corpos.Os olhos de Watson estavam arregalados e sua mente se confundia com a imensidão de pensamentos que o invadiram. Sherlock jogou o sobretudo no chão, e abaixou o rosto até que pudesse deixar a testa encostada na do loiro.
- Desculpe, John. – disse em um sussurro, olhando fixamente para o outro.
- Uma roupa diferente... – Watson reuniu todas as forças para tentar aparentar normalidade. – Por isso tirou o sobretudo. E dessa forma que estamos, ele pensará se tratar apenas de um casal aleatório e continuará nos procurando ao longo da rua.
- Exato. – o sorriso de Sherlock foi contagiante.A situação fez com que ambos sentissem uma eletricidade em seus corpos fora do comum, não querendo se mover. Diferentemente das outras vezes em que estiveram tão próximos, sentiram-se a vontade para continuar daquela forma por tempo indeterminado.
Volta e meia Holmes mordia os lábios, para controlar o impulso de aproximar mais seu rosto. Os traços do loiro eram hipnotizantes e o faziam querer voltar à erros do passado.John, por sua vez, fechava os olhos e respirava fundo o perfume do moreno. Imaginava-se agarrando os cachos à sua frente, alisando o pescoço alvo tão próximo de si...
- Consegue vê-lo em algum lugar? – Sherlock interrompeu, descendo levemente o rosto para dar visibilidade.
Como consequência, John precisou de uma boa dose de ar. Sentir a respiração do cacheado perto de seu próprio pescoço fez com que sua sanidade fosse colocada a prova.
Ele varreu a rua com os olhos, procurando por qualquer pessoa suspeita.
- Hm. – ele limpou a garganta, buscando se concentrar. – Não. Ele foi embora.Com certa relutância, Holmes se afastou. Um olhar desapontado passou pelo rosto de Watson por alguns segundos, recompondo-se assim que percebeu a loucura dos sentimentos que acabou de vivenciar.
O moreno recolheu o sobretudo do chão, dando batidinhas para retirar toda a poeira.
Sem precisarem dizer nada, começaram a caminhar para longe da movimentada rua. Apenas quando a multidão foi se dissipando, os dois começaram a perceber o quanto ignoraram todo o resto do mundo quando estavam colados um ao outro. A única pessoa que vinha em suas mentes era o perseguidor e, mesmo assim, apenas em raros lapsos de consciência.E o rosto ainda corado de John e os lábios excessivamente mordidos de Sherlock foram suficientes para fazê-los permanecer em silêncio ao longo da caminhada.
Quando o celular de John tocou, ele se sentiu salvo. A ligação poderia inserir algum assunto diferente do acontecimento de minutos atrás e, então, todo o embaraço desapareceria. Nem ao menos olhou o visor do aparelho, apenas atendeu.- John? – uma voz feminina foi escutada.
- Mary? – John chegou a parar os passos.Apesar de ter agradecido pela ligação, saber que a pessoa do outro lado da linha era sua namorada não foi nada agradável. Principalmente após o ocorrido com Sherlock. Parecia que, de alguma forma, ela o flagrou.
- Onde você está? – a garota perguntou.
John pensou antes de responder, dividido entre mentir ou não. Decidiu que era paranoia acreditar que a garota soubesse de algo e deveria ser sincero.- Estou fora de casa, vim dar uma volta com Sherlock. – falou o nome do amigo em um sussurro. Percebeu que ainda estava envergonhado.
Os garotos retomaram os passos, mesmo que sem um destino específico. Holmes observava em silêncio a conversa do loiro, analisando todo os traços de insegurança. Torcia para não estar transparecendo o mesmo, mantendo sua pose sempre inabalável.
- Bem, então eu tenho uma ótima surpresa! – Ela disse animada. – Vou encontrar vocês! Estou aqui em Londres.A respiração funda de Watson denunciou a frase que acabara de ouvir. Por pior que fosse, o moreno se divertiu com a cena.
- Co-Como assim? – ele gaguejou, sem saber o que dizer.
- Isso mesmo, amor. Eu cheguei há uma hora, deixei minhas coisas na casa da minha tia. Fico feliz de ter a chance poder conhecer um amigo seu! Sherlock é aquele de Biologia, não é? – as palavras saíram rápidas pela empolgação.
- Ah, sim, sim! – ele piscou os olhos algumas vezes. – Sherlock é minha dupla de biologia.
- Onde posso encontrar vocês? – Mary perguntou, louca para que o encontro fosse rápido.John e a namorada não se viam há mais de duas semanas, quando o loiro fez uma visita à sua mãe, no interior. Justamente nessa visita, ele pretendia encontrar Mary Morstan e conversar sobre a loucura que o relacionamento a distância estava sendo. Entretanto, todos os anos de amizade com a loira o fizeram hesitar
Os dois se conheciam desde que John se mudou com a família para a cidade. Ela foi sua melhor amiga, seu primeiro beijo... Era a pessoa que mais o conhecia em todo o mundo! Iniciaram o namoro pouco antes dele decidir se mudar para Londres, uma ideia majoritariamente dela. A mínima chance de magoar Morstan fazia o bondoso Watson recuar e aceitar estar em um relacionamento que definitivamente não o agradava.
De certa forma, utilizou-se de Mary para quebrar a tensão entre ele e Sherlock. Disse que a garota estava na cidade e que queria conhece-lo, pedindo também mil desculpas pela interrupção ao caso. Holmes compreendeu e aceitou permanecer para o encontro com a loira.
Parte do moreno estava com raiva por Morstan ter aparecido pouco depois do episódio entre os dois. E algo o dizia que a raiva não era apenas por isso...Durante todos os encontros que os garotos tiveram para fazer os trabalhos de biologia, a jovem não parava de mandar mensagens. Irritava-o ver John concordando com aquela situação, mesmo insatisfeito. Incomodava também imaginar o tipo de intimidade que tinham. Principalmente após a proximidade na Oxford Street.
A outra parte mal conseguia se aguentar de curiosidade. Precisaria apenas de alguns segundos por perto para deduzir tudo o que fosse necessário e, quem sabe,usaria as informações essas para fascinar John.
Era um bom plano.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Wonderwall
أدب الهواةSherlock BBC | Teen!lock | Johnlock Após anos, John Watson volta a morar em Londres, para cursar o último ano de seu ensino médio. E a partir disso, o começo das várias mudanças de sua vida será com um dos garotos mais inacessíveis de sua classe, S...