Capítulo 38

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Eu me sinto estranha. Não sei descrever muito bem o que é. Mas sei lá, sinto-me mais disposta, autêntica.

Tomo um banho rápido para tirar a sujeira do corpo, e assim que termino me enrolo na toalha e vou até meu guarda-roupa. Abro-o e encaro todas aqueles vestidos pendurados nos cabides. Não consigo gostar de nehuma, isso é tão estranho. É como se essa transformação me deixasse uma pessoa completamente diferente. Sinto-me no dever de usar roupas escuras, não totalmente um dever, mas... Sei lá, agora acho bonito, combina mais.

Coloco uma calça preta que encontrei no fundo do guarda-roupa. Uso também uma blusa de mangas compridas também na cor preta e uma bota de couro salto alto. Olho-me no espelho e gosto do que vejo. Por fim ajeito o cabelo e saio do quarto.

Ao sair vejo Griffin encostado na parede com aos mãos nos bolsos da calça. Quando ele me vê, abre um sorriso. Suspiro, e me aproximo para lhe dar um abraço.

Me envolvo nos seus braços. Seu cheiro invade meu nariz fortemente, como se meu olfato ampliasse mil vezes mais. É estranho, mas não me importo. Não agora.

- Como se sente? - pergunta ao se afastar de mim.

- Um pouca estranha.

- É normal, você vai se acostumar.

Sorrimos e saímos de mãos dadas. Descemos as escadas e vamos até a sala. Encaro todos que estão presentes. Meus pais, meus tios e as cinco bruxas. Todos nos olham fixamente, só quando nos sentamos o clima ficou mais aliviado.

- Bom, o objetivo dessa conversa é esclarecer as coisas. Começando por você Aradia. Quero muito saber como você veio parar aqui na terra?

Aradia suspira.

- A rivalidade entre os vampiros e as bruxas estavam cada vez ficando pior. Nós sabíamos que uma hora ou outra haveria guerra. Para evitarmos isso, nós cinco e Sofia fizemos um feitiço para abrir um portal.

- Mas como eu não te vi aqui antes? Nem mesmo ouvi rumores sobre vocês, absolutamente nada.

- Por que nós não estávamos na America. Tínhamos que nos esconder e como vantagem da facilidade de encontrar objetos para feitiços, nos mudamos para a Índia.

- E enquanto a Sofia? Enquanto a mim?

- Aquela traiçoeira? Não mereceu mais do que a morte.

- Como pode falar assim dela? - me levanto furiosa.

- Eu falo mesmo! Temos uma regra. Bruxas e humanos não podem se relacionar, Sofia quebrou essa regra.

- Mas qual é problema? - questiono. Sinto uma raiva incontrolável.

- Qual é o problema? Um exemplo, olha no que deu.

- Ela não tinha como saber!

- Não interessa! Ela apenas deveria comprir seu dever e resistir aos prazeres.

Rosno de raiva.

- Suas ridículas! - grito.

- Você não deveria... - Aradia está prestes fazer algo, mas meu pai a impede.

- Já chega! Eu convoquei a todos aqui para uma conversa civilizada. Acho melhor vocês pararem!

Aradia e eu nos entreolhamos. Seus olhos flamejavam de ódio.

- Eu tenho uma dúvida desde ontem. - minha mãe fala atraindo nossos olhares a ela. - Minha filha é uma bruxa?

Aradia dá gargalhadas.

- Mas é lógico que não! Ela está morta, é impossível haver magia dentro dela.

Minha mãe suspirou. Mas um suspiro de alívio. Desde que acordei percebi em seus olhos que ela estava preocupada, algo a incomodava fora dos problemas centrais. Agora eu sei o que era.

- Agora eu acho melhor vocês irem. Com certeza muitos vampiros irão atrás de vocês.

- Sabemos disso. - uma das cinco responde rudemente.

Argh, bruxas são tão chatas!

***

Algumas horas depois todos foram embora.  Me tranquei no quarto e passei um tempo me olhando no espelho. Eu estou diferente. Eu sei que é repentino, mas eu me sinto outra pessoa. Não consigo enxergar aquela Eliza antiga, nada mais se parece com ela. Agora sou uma nova garota, não só na aparência... Mas também por dentro, anteriormente.

Enquanto eu estava me analisando no espelho incansavelmente, ouvi batidas na porta.

- Pode entrar. - autorizo.

Minha mãe entra sorrindo e me analisa de cima a baixo.

- Você está linda. - diz.

- Obrigada.

Ela continua sorrindo e senta na minha cama atrás de mim.

- Mãe... Estou me sentindo tão estranha. Não consigo mais usar vestido, o meu corte de cabelo está me encomodando. É como se eu tivesse uma Eliza obscura dentro de mim que só foi liberta agora. Isso parece loucura não é mesmo? Mas é como me sinto.

- É normal, eu passei pela mesma coisa. Você agora tem uma nova vida, alguns dos seus hábitos terão que mudar, e brevemente você irá se acostumar. É questão de tempo mesmo. E... Quando você quiser ir no shopping fazer compras... - ela ri. - Estarei disposta.

Me viro para ela e sorrio.

- Obrigada mãe.

Ela permanece me olhando com com um sorriso nos lábios, mas lentamente sua face  muda de expressão. Fico preocupada.

- Senta aqui, preciso conversar com você. - ela da leves batidas na cama.

Faço o que ela pede e sento-me ao seu lado. 

- Eliza, quero conversar sobre Sofia.

Suspiro.

- Desde que você me contou que ela é sua mãe biológica eu não parei de pensar nisso. Eliza, por que não me contou antes?

- Mãe, me desculpe. Eu não queria te preocupar.

- Mas isso não é assunto que se esconda de mim. Eliza, eu era a primeira que tinha que saber. Você achou que eu não iria aceitar? Foi isso que pensou?

- Sim.

- Filha, eu iria entender. É normal. Você sabe que eu sempre te apoiei, e não teria sido diferente. Poxa, quando você me contou aquilo eu fiquei em chão. Fiquei muito magoada. Eu senti como se eu não fosse capaz de te entender, confesso que me senti um pouco traída.

- Me perdoa mãe. Eu prometo que daqui para frente eu irei te contar tudo. É que... Não sei. Eu sempre fui bem criada por vocês, minha vida é boa e eu não queria que nada estragasse.

- Tudo bem meu amor. Só... Por favor, não tenha medo de me contar nada okay? Sou sua amiga e estarei aqui sempre.

- Eu sei. - sorrio.

Minha mãe me abraçou fortemente. Eu me senti mais aliviada enquanto a isso. Eu sabia que ela não estava bem, querendo ou não tinha um clima diferente ali, entre nós duas. Mas agora, esclarecer as coisas foi bom. E quando ela me abraçou, eu percebi no quanto eu precisava disso. Essas últimas horas foram exaustas. E em seus braços senti um conforto profundo.

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