Capítulo 23

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  _Já haviam se passado três semanas desde o dia do temporal, eu havia me recuperado bem e voltado pra casa em seguida -voltei a me se sentar enquanto Alexia acompanhava meu gesto- você se lembra da história que te contei certo? -ela assentiu como se dissesse que nunca esqueceria- Tudo havia voltado ao normal, eu, Ana, vovó, bem, nem tudo havia voltado ao normal, mas eu ainda não sabia.

[...]

_Antônia, você pode, por favor, se sentar enquanto come -vovó pediu a mamãe que passava pela sala de um lado para o outro levando consigo uma xícara de café. Eu achava isso engraçado, quando vovó brigava com mamãe, me fazia lembrar que elas eram mãe e filha e que mesmo crescida mamãe recebia puxões de orelha assim como eu 

_Eu não tenho tempo pra isso mãe, terá que se contentar com minha caminhada matinal -sorriu com um olhar travesso, ela adorava ver a vovó incomodada com coisas tão simples 

_Comer em pé faz mal, senta logo menina -vovó tornou a repetir empurrando uma cadeira pra que mamãe se sentasse, ela o fez 

_Me passa o mel Ben -Ana que estava do outro lado da mesa me pediu, era tradição comer panquecas de banana com mel no café e ela adorava

_Não coloca muito porque mel também é açúcar e ainda é cedo pra comer tanto -murmurou vovó enquanto Ana afogava as panquecas 

_Deixa ela mãe, mel faz bem e é saudável -mamãe disse piscando para Ana que sorriu em resposta 

_Você mima muito as crianças, é capaz de les pedirem o céu e você trazer -reclamou 

_Dona Olga, se eu pudesse eu traria muito mais que isso, você sabe -vovó fez uma careta enquanto mamãe se levantava outra vez- se eu não for mimar meus amores mimarei a quem hã? -indagou dando um beijo estalado na bochecha da velhinha mal humorada- Tenho que ir agora, estou atrasa... -ela se virou enquanto tinha uma crise de tosse- atrasada, e não posso perder meu emprego -completou 

_Antônia você ainda não melhorou dessa gripe? Já te falei para procurar um medico, um analgésico vai te fazer bem -vovó olhou para ela preocupada 

_Não se preocupe mãe, é só uma gripe, eu vou assim que der -falou enquanto recolhia sua bolsa e se despedia de mim e de Ana

_Antônia, por favor... -suplicou

_Eu prometo, tá tudo bem, não é nada -disse tentando acalmar vovó com um dos sorrisos que eu recebia quando estava com medo do escuro 

[...]

_Mas pela primeira vez ela estava enganada, não era nada como ela havia dito -murmurei enquanto Alexia se remexia procurando uma posição melhor para escutar- e minha mãe era sempre tão ocupada e desencanada com si própria que nem percebeu, e se percebeu não deu a devida importância.

[...]

_Pneumonia? -vovó perguntou chocada, depois de semanas insistindo mamãe acabou cedendo e foi ao médico, ela percebeu que era algo sério quando a gripe, adquirida no dia da minha fuga, não passava, e as tosses só aumentavam junto com o cansaço e as febres 

_Sim, digamos que eu não tenha cuidado muito bem da minha gripe, o que facilitou tudo -ela disse  baixando os ombros diante do olhar reprovador de vovó- mas não se preocupe, é só tomar uns remédios que melhora.

_Foi justamente por não tomar os remédios direito que você está nessa -acrescentou enquanto mamãe revirava os olhos 

_O que é pneumonia mamãe? -perguntei enquanto ela se virava pra mim 

_É tipo uma gripe meu amor, só que mais forte -me explicou se abaixando para ficar da minha altura 

_A senhora está doente? -Ana perguntou abraçando seu urso de pelúcia com mais força, já era tarde e estávamos ambos de pijama prontos para ir pra cama 

Minha geração problemaOnde histórias criam vida. Descubra agora