Capítulo 29

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Minha cabeça estava a mil por hora, afinal não era todo dia que uma coisa dessas acontecia com uma garota como eu, de qualquer forma mesmo que caísse um meteoro bem ao meu lado eu sequer notaria, estava muito ocupada com um certo garoto. Afinal de contas não era como se eu nunca tivesse sido beijada, na terceira série eu me lembro de um garoto de quem eu gostava, estávamos debaixo do pé de manga na educação física e ele me roubou um beijo assim, sem mais nem menos.

Tudo bem, talvez aquilo não tenha sido exatamente um beijo, foi mais como dois lábios se encostando e pronto, mas o fato é, eu nunca havia sido beijada assim. Era como se, como se... ah não sei explicar, era como se eu pudesse sentir tudo e ao mesmo tempo nada. Suas mãos impedindo minha queda, seu toque quente me causando uma combustão, seus lábios pressionados contra o meu enquanto eu tentava acompanhar seus movimentos. A sensação era maravilhosa, eu queria mais desse beijo, queria mais de Benjamin.

Mas, como sempre, nem tudo o que se quer é aquilo que se tem.

_Ai meu Deus! Vocês querem me causar um ataque cardíaco ou o quê? –Benjamin se separou de mim assim que Silvinha gritou, em compensação eu fiquei querendo mais porém a atenção dele agora era toda pra ela- O que vocês estavam ...ah, esqueçam, porque estão fora do quarto na madrugada? E ainda por cima juntos? 

_Bem, olha só Sil, acontece que... –Benjamin começou mas ela fez um sinal para que parasse

_Eu não quero saber, acho que já vi demais –disse puxando Benjamin pelo braço- você já pro seu quarto e a senhorita –seus olhos me analisavam ainda arregalados pelo choque- não deveria seguir as inconsequências impostas pelo sexo masculino, sei que adolescentes não controlam hormônios mas as garotas são mais evoluídas nesse quesito.

_A culpa foi toda minha –Benjamin disse categoricamente enquanto Silvinha fazia sinal para ele se calar

_É claro que a culpa é sua, não esperava nada diferente vindo de você, -dessa vez ela se virou rapidamente agarrando ele pelo braço outra vez- nós dois vamos ter uma conversa séria mas bem longe daqui e bem longe de Alexia que, -agora seus olhos ameaçadores se voltaram pra mim- deve estar devidamente acomodada na própria cama se não quiser conhecer as quatro paredes do quarto do castigo.

Não foi necessária nem mais uma palavra para que meu corpo se materializasse embaixo da coberta. Valentina estava dormindo como uma pedra quando entrei, sapatos em um canto, casaco em outro e uma garota desmaiada de bruços, amanhã ela ia acordar no mínimo cansada ou destruída, pelo menos era o que eu esperava se quisesse a certeza de sua humanidade, ninguém acordava bem depois de uma noite dessas né. Porém, ao contrário dela eu não conseguia pregar os olhos, a adrenalina da fuga, do desabafo, e da conclusão memorável que aquela noite teve me impediam de sequer pensar em dormir.

   Quando acordei –sem fazer a mínima ideia de como havia dormido- a única coisa que se passava pela minha cabeça era. Aquilo realmente tinha acontecido? Porque cá entre nós, a probabilidade de eu ter sonhado isso tudo é um milhão em um milhão, inclusive minha mãe sempre costuma falar que as vezes a gente quer tanto um coisa que passa a idealizá-la de uma forma que em um ponto parece real, eu não duvidaria se tivesse imaginado tudo isso. Mas alguma coisa, bem lá no fundo, -a mesma coisa que me causa ilusões amorosas- me dizia que pela primeira vez eu me sentiria feliz por não ter sonhado, e aquilo realmente aconteceu. Antes era difícil idealizar seu toque, seu sabor, a forma como ele beijava e principalmente a que eu sentia, isso é claro nunca foi impedimento pra mim, de forma alguma, mas agora tudo era diferente, não bastava só imaginar porque eu havia sentido. E queria sentir outra vez.

  Eu precisava falar com alguém sobre isso, eu precisava me abrir e pela primeira vez não guardaria nada só pra mim. Mas pra minha decepção a garota que sempre madruga estava rocando na cama ao lado, e se acorda-se ela nem sei o que poderia acontecer, nada de bom é claro. Foi então que me lembrei do inútil as vezes útil caderno que a Dra. Cris me deu, era pra mim fazer o que quisesse com ele, e se até agora eu só havia desabafado ia continuar assim.
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Minha geração problemaOnde histórias criam vida. Descubra agora