Capítulo vinte e um

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@WesterosLaw para @Lucasdisse LUCAS, TIRE ESSA FOTO IMEDIATAMENTE.
@WesterosLaw para @Lucasdisse Eu vou ser um juiz respeitável no futuro. A INTERNET NÃO PRECISA SABER DESSES MOMENTOS.
@MacacoLoucocompartilhou a foto de @Lucasdisse A nova geração de juízes chora quando assiste Rei Leão. #EsseAno


Oh-oh.

Ninguém apenas "conversa" com Lucas. Nunca. Nunca. Nunca. "Conversas" com Lucas equivaliam a confissões com padres, depois de décadas vivendo em pecado.

- Está tudo bem? - perguntei, sentando-me ao seu lado sem me mexer demais. Não apenas porque meu corpo doía, mas porque não queria perturbá-lo.

- Eu estou tentando fingir que está tudo bem, mas vocês estão atrapalhando minha performance. - A voz de Lucas não era tanto de repreensão quanto de cansaço, o que me fez sentir mal imediatamente. Para declarar que "precisa conversar", ele já devia ter ensaiado mentalmente essa conversa uma tonelada de vezes.

Lucas deixou o corpo cair na cama e estudou o teto demoradamente. Ele passou as mãos pelo cabelo, respirou fundou, abriu a boca, mas suas cordas vocais não produziram som algum. Deitei ao seu lado, imitando sua posição. Talvez se eu não olhasse para ele, conseguiríamos começar a conversa.

- Todo mundo sabe da história entre você e Henrique - disse Lucas monotonamente, fazendo todos os machucados em meu rosto doerem. - Mas nem todo mundo sabe do que está acontecendo agora.

Eu não precisava perguntar quem era "todo mundo". Ele se referia a todo mundo que importava. Meu estômago se revirou, imaginando o rumo da conversa.

- Fui eu quem encontrei Henrique saindo do banheiro enquanto você tomava banho, mas poderia muito bem ter sido Flávio ou Rafael. - Como não havia não além de preocupação na voz de Lucas, minha ansiedade dobrou de tamanho. - Eu sei que vocês ainda gostam um do outro...

- Lucas... - tentei interrompê-lo, mas não tive palavras para argumentar. Mentir para ele seria inútil.

- Eu sei que você ainda gosta dele e ele ainda gosta de você - continuou -, mas preciso pedir que não cometam os mesmos erros de antes.

Lucas pausou como se fosse preciso me dar tempo para relembrar do passado. Mal sabia que relembrar do passado, reescrevê-lo e listar tudo o que fiz de errado era um dos hobbies favoritos da minha mente antes de dormir.

- Vocês são meus melhores amigos e eu me recuso a vê-los novamente naquele poço de depressão, odiando a si mesmos. Eu me recuso a assistir a vocês brigando sem parar, me recuso a perder meus amigos, Alice, entendeu?

- Você não perdeu a gente, Lucas...

- Perdi sim, Alice - afirmou, brandindo as mãos para o teto branco. - Quando você e Henrique pararam de se falar, e você deixou nosso grupo, nada foi o mesmo. Não havia ninguém para equilibrar as brincadeiras estúpidas de Flávio. Não havia ninguém para fazer Henrique sorrir e ser menos robótico. Não havia ninguém com quem Rafael pudesse contar histórias e segredos enquanto jogasse videogame. Não havia mais ninguém para fazer nada comigo.

- Nós fazíamos muitos nada, hein? - tentei sorrir ao lembrar dos momentos que passamos juntos, lado a lado no sofá. Ele lia enquanto eu jogava videogame. Às vezes passávamos horas inteiras sem pronunciar uma única silaba, aproveitando apenas a presença do outro ali. Esses momentos me enchiam de alegria, mas eu não conseguia transparecer esse sentimento. A dor de perdê-los, tanto os momentos com Lucas, quanto com os outros garotos, ainda estava recente em minha memória.

- E as coisas saíram do controle de uma forma que demorou anos para voltar ao normal - ele continuou - e só voltaram para valer quando você passou a falar com a gente de novo.

Duas vezes amorOnde histórias criam vida. Descubra agora