Capítulo dezessete

3.7K 437 111
                                    

@MacacoLouco Perguntar "você tá sentindo cheiro de pipoca?" depois de peidar, fazendo todo mundo dar aquela cafungada. #DicasDeUmaMenteMaligna
@Lucasdisse para @MacacoLouco VOCÊ É O PIOR.
@WesterosLaw para @MacacoLouco DURMA DE OLHO ABERTO!


- Alice, por que você não vai trocar de roupa antes que o restante dos seus primos chegue? - perguntou a mãe, sem esperar resposta. - Coloque um vestido, de preferência um corte triângulo, ou então vista calças, querida.

- Eu estou de calça - reclamei, enxugando a segunda leva de louças que vó Ana lavou.

A cozinha estava cheia de mulheres. Vó Ana, três de suas filhas, duas cunhadas e dois bebês gêmeos (as coisinhas mais fofas em toda casa). Passava de uma hora da tarde e já havíamos feito pelo menos duas refeições que não eram almoço, mas quase. Pela porta de vidro da cozinha eu podia ver meninos brincando, correndo de um lado para outro, tios e primos mais velhos cercando vô Cláudio na churrasqueira e adolescentes comandando a trilha sonora (para decepção coletiva de qualquer um acima de dezoito e menor de onze anos).

- Oh, querida, leggings não são calça - interrompeu tia Marta. Ela estava picando cebolas com tanta dignidade que não conseguia desgrudar os olhos dela. Nenhuma lágrima, postura perfeita sobre a bancada, avental pristino, unhas avermelhadas contra o branco esmiuçado sobre uma tábua de madeira. Se ela fosse um quadro, seria chamado "Estudo de uma dona de casa, 1965". Ela apontou a comprida faca de inox em minha direção, brandindo-a levemente. - Leggings são meia-calça com mais fios, você não deveria sair por aí vestida desse jeito, especialmente com esses quadris.

- Minha blusa é comprida o suficiente para tampar meus quadris - defendi-me sobre o barulho de bebês chorando e mulheres conversando, ignorando-os solenemente.

- Sua camisa, saída da sessão de toalhas de piquenique, poderia ser muito bem de um menino na puberdade, Alice - disse a mãe, cortando cenouras em rodelas perfeitas e uniformes. - Eu vi um de seus primos com a mesma roupa, até achei que fosse você... Pedro? Paulo?

- Patrick - corrigiu uma cunhada. - Acho que ele é filho do primeiro casamento de Fernando.

- Tem certeza? Eu achei que fosse filho da tia Regina, irmã da mãe - disse tia Marta, cerrando os olhos ao retraçar sua árvore genealógica. Ela desistiu, me encarando com desdém. - O que importa é Alice subir e trocar essa roupa o mais rápido possível.

- E colocar sapatos - acrescentou a mãe, olhando reprovadoramente para meus pés descalços.

Eu estava pronta para defender a liberdade dos meus dedões, quando tia Débora apareceu na cozinha, trazendo às suas costas quatro homens, três mulheres e um sem número de crianças. Todos distribuíram beijos, abraços e saudades, enquanto me afastei o máximo possível, tentando me embutir em móveis e eletrodomésticos.

- Alice, meu Deus, como você está comprida! - disse tia Débora, me puxando do canto da cozinha para seus braços pequenos, gordinhos e afetuosos. - Não achou que conseguiria passar despercebida com esse tamanho e essa beleza toda, não é mesmo, minha menina?

Ela beijou minhas bochechas duas vezes em cada lado, sua marca registrada.

- Mãe, Alice não está um amor de menina? - perguntou tia Débora à vó Ana, me guiando para o mesmo lugar de que eu havia saído. - Como você está, me conte tudo!

- Ela está ótima - respondeu minha mãe, sem dar chance de me manifestar. - Tudo ótimo na universidade e no trabalho na loja.

- Rhaíza também está ótima. - Tia Marta respondeu à pergunta que ninguém fez. - Trabalho, universidade, academia, namorado maravilhoso... tudo o que alguém poderia pedir em uma filha.

Duas vezes amorOnde histórias criam vida. Descubra agora