@MacacoLouco Um, dois, Flávio vai te pegar! Três, quatro, é melhor a porta do quarto trancar! Cinco, seis, agarre o seu crucifixo!
@MacacoLouco Sete, oito, é melhor ficar acordado até tarde! Nove, dez, não durma nunca mais.
@ElementoX para @MacacoLouco Você sabe que eu não tenho medo de Freddy Krueger?
@MacacoLouco para @ElementoX Mas @Lucasdisse sim.
- Você usa óculos - eu disse, boquiaberta, quando Henrique entrou no quarto sorrateiramente e fechou a porta atrás de si. Ele percorreu os dedos pelos móveis e, passando por mim, abriu a cortina da janela ao lado da cama em que eu estava deitada. Ele estava sério (mas não por causa dos óculos), e parecia completamente diferente (mas não ao estilo Clark Kent vs. Super-Homem) vestindo calça de moletom escuro e camisa simples de algodão.
Henrique retirou as pantufas marrons de cedo ao sentar-se no parapeito da janela aberta, com uma perna para fora. Sua atenção estava no céu e no horizonte de estrelas brilhantes e muito mais bonitas que as de casa. Levantei da cama e me apoiei no parapeito ao seu lado. Seus cabelos estavam molhados, pingando nos ombros da camiseta, e seu perfil àquela luz fazia meus olhos doerem.
Eu não queria um ombro amigo. Especialmente quando aquele amigo parecia tanto com o Henrique de anos atrás.
- Normalmente eu tiro as lentes antes de dormir - explicou Henrique, sem se virar.
- Eu não sabia que você precisava de óculos.
- Dois anos atrás o oftalmologista me diagnosticou com miopia... nada demais. - disse. Eu não comentei que pela espessura dos óculos era uma miopia e tanto. Nós ficamos em silêncio porque não havia palavras que combinassem com o desconforto entre nós. Ele não me encarava, mas eu não conseguia retribuir a cortesia e era impossível desviar os olhos de sua barba por fazer ou das gotas que marcavam sua camisa. Eu queria tocá-lo para saber se faria me coração parar de disparar, mas Henrique estava decidido a dar sua atenção ao mundo lá fora, mesmo tendo sido ele quem veio me visitar.
- Obrigada por me trazer aqui - eu disse sinceramente. - Obrigada por se preocupar com os avós, obrigada por faltar a aulas e ao seu trabalho... espero que seu pai não pegue muito pesado quando você voltar.
E isso foi o suficiente para Henrique fitar-me. Ele assentiu e puxou minha mão boa para si, me fazendo levantar da beirada da cama.
- Ele vai pegar, é claro - Henrique bufou, entretendo-se com minha mão. Cada segundo que sua mão suave se demorava em meus dedos, meu corpo enfraquecia-se, cedendo a tentação que era Henrique. - Mas nem tanto, já que Tatiana está em casa... eles estão ocupados demais ouvindo todas as notícias, causos da viagem e tentando convencê-la de que deveria morar no Brasil e dar netos a eles assim que possível.
- Eles não conhecem a própria filha - eu disse, sorrindo. Tatiana e crianças pertenciam a dois mundos diferentes. Até quando era uma, Tatiana detestava as outras crianças.
Ela e Henrique costumavam ser completamente diferentes. Ela era a mais velha, mais animada, mais confiante, mais cheia de vida. Ele era o caçula, tímido, estudioso e "à margem". Não de um jeito ruim. Henrique era aquele que sentava no parquinho e observava as outras crianças brincando... até alguém, cheia de machucados no corpo, empurrá-lo para brincar com ela e com seu irmão mais velho.
- Ainda quer ter um time de futebol? - perguntei com um sorriso malicioso. Quando éramos adolescentes ele dizia que só se casaria com alguém capaz de a luz à um time de futebol. Flávio dizia que ele acabaria com um time de futebol de gatos se continuasse com aquelas ideias.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Duas vezes amor
Chick-LitAssim como a maioria dos primeiros amores, o de Alice terminou com um coração partido. Para ser sincera, terminou com um coração esmigalhado pelo Martelo do Thor (foi tão ruim assim). Ela não perdeu apenas um amor, mas também seus melhores amigos. ...