Capítulo vinte e nove

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@ElementoX postou uma foto. Desculpem a falta de atualização! Objetos cortantes assassinam minha capacidade de criar desenhos novos para vocês.
@ElementoX para @MacacoLouco Tem sorvete na geladeira.
@ElementoX para @MacacoLouco É de chocolate e biscoito.
@ElementoX para @MacacoLouco Tem seu nome escrito. ;)


Encarei a porta de madeira do meu quarto pela terceira vez em cinco minutos, tentando me convencer a sair e caminhar até onde alguém fazia barulhos metálicos abafados por portas e paredes.

Naqueles cinco minutos os barulhos cessaram, mas tinha certeza de que Henrique ainda estava na cozinha, pois a porta de seu quarto não havia aberto ou fechado.

Respirei fundo, repeti a mim mesma que deveria fazer aquilo, que não podia mais procrastinar e que se tudo desse errado, e Henrique realmente não quisesse mais falar comigo, pelo menos minha mão estava bem melhor e meu corpo completamente recuperado, apesar dos roxos que se tornaram esverdeados ao redor. O importante era ter saúde, certo?

Pela quarta vez, respirei fundo e abri a porta do quarto. Para minha surpresa, meu alvo estava na minha frente, com o punho fechado na frente do peito, pronto para me acertar ou bater na porta. A segunda opção era a mais provável. Demorei meus olhos nos dele, apesar da escuridão do apartamento às duas horas da manhã. A falta de luz não era exatamente um problema, pois quando se mora em uma cidade como esta, sempre há luz de prédios vizinhos, postes de luz elétrica ou farol de helicópteros entrando pela janela.

- Gostei do roupão - comentei, sem saber bem o que dizer.

Henrique vestia uma peça comprida, até o meio de suas coxas, que poderia passar por casaco, se não fosse uma faixa desamarrada no meio de sua cintura, que pendia nas laterais de seu corpo. O robe-em-parte-casaco estava aberto, deixando aparecer uma camiseta branca e uma calça escura por baixo.

- Não é um roupão! - exclamou, com a voz baixa. - Eu já cansei de repetir... é um casaco feito de lã de ovelha merino, extremamente confortável e delicioso ao toque, experimenta.

Eu não precisava esperar um segundo convite para tocá-lo. Deslizei as pontas dos dedos pelas complicadas tramas do casaco e percebi que era ainda mais gostoso do que Henrique havia descrito. Vestir um daqueles equivaleria a andar um dia inteiro com uma cama quentinha nas costas.

- Nada mal - concordei, levando as duas mãos ao casaco, tanto pela maciez quanto para poder sentir a rigidez de seu peito, mesmo sob algumas camadas de tecido. - De onde veio esse conhecimento acumulado de lã?

- Veio de uma rápida consulta ao Google, quando minha irmã me deu essa maravilha de presente, em sua última viagem ao Brasil - disse Henrique. Ele tomou minha mão esquerda na sua e me guiou pelo corredor até a cozinha, onde a lanterna do celular era outra vez o meio preferido de iluminação.

Sobre a bancada havia a mesma bagunça de sempre, vasilhas e talheres sujos, tábua de madeira, saco de farinha de trigo aberto, sal e vários temperos. O último ingrediente me dizia que talvez não teríamos sobremesa no dia seguinte, mas algo salgado. Henrique se abaixou na frente do fogão, fazendo a barra de seu casaco arrastar-se no chão. Ele inspecionou o conteúdo do forno, do qual só vi parte de uma forma antiaderente ao acender a luz amarela.

Ele não parecia pronto para discutir tudo o que deveríamos discutir, tampouco eu estava, então comecei a guardar os ingredientes em cima da bancada, para, quem sabe, diminuir as brigas entre Rafael e ele pela manhã.

- Aveia? Farinha de trigo integral? - indaguei, ao reparar nos ingredientes que guardava inconscientemente no armário. - Você está tentando nos envenenar com toda essa comida saudável?

Duas vezes amorOnde histórias criam vida. Descubra agora