-Helena! -chamou meu pai bem cedo.
Desci as escadas um tanto tropega de sono e me dei conta que não era a única pessoa acordada de camisola. Todos estavam com roupas de dormir.
- muito bem, hoje receberemos para o almoço um velho amigo da nossa família. Virá ele, sua esposa e seus filhos, por isso quero a casa impecável.
- sim papai! -falei um tanto sonolenta.
- quero também um almoço delicioso ao qual nunca irão esquecer.
- o que gostaria de oferecer meu marido? -perguntou minha mãe.
- não sei bem, talvez cordeiro... Fica a seu gosto minha querida, sua comida é dos deuses. Só exijo que a sobremesa seja feita por Helena, e capriche.
-sim papai...
- outra coisa importante, quero todos muito bem vestidos. Principalmente você Helena, coloque aquele vestido branco com flores lilases que te comprei esta semana.
Antes que papai mudasse de ideia e me mandasse fazer algo mais, subi as escadas com a intenção de me atira na cama e dormir mais uma hora.
Eu estava exausta, fiquei lendo até tarde da madrugada.
Meus planos foram desfeitas no momento em que Louise entrou no meu quarto com sua flauta desafinada e começou a pular em cima da minha cama.
- A MAMÃE MANDOU EU VIR TE CHAMAR!
Ela pulava e gritava em cima da minha cama.
Não teria outra saída, fui ajudar minha mãe a preparar o almoço e a sobremesa.
A manhã passou muito rapidamente, quando me dei por mim ja era hora do almoço.
Estavam todos impecáveis. Minha mãe usava um vestido de cetim verde esmeralda com preto. Louise estava com um vestido azul bebê com um grande laço azul escuro nas costas, seus cachos loiros eram lindos.
Papai estava muito formal assim como Joseph que estava uma fofura de suspensórios.
Eu estava com o vestido que papai me mandou usar. Ele era branco, com a saia em camadas, cheio de florzinhas lilases e com uma renda delicada. O corpete era liso e bem apertado me deixando um pouco sem ar. As mangas eram fofas e aparentava graciosidade. Meu cabelo estava preso em um penteado bem elaborado e minha maquiagem estava bem natural. Coloquei uma gargantilha dourada e me senti bem.
- você não está muito simples não? -perguntou meu pai.
- queremos passar uma imagem de boa moça, serenidade e inocência. A simplicidade é a última moda entre as donzelas. - disse minha mãe.
Algo está muito errado nessa história.
- você quem sabe querida. Eu mandaria ela colocar mais jóias ou mais maquiagem.
- meu bem ela tem que aparentar inocência, porque quando abrir a boca...
- controle seu temperamento Helena, não quero você se exibindo e nem humilhando os convidados. Péssima hora em que ensinei você a ler!
Eu estou muito confusa, todos parecem ter algo a me dizer mas ninguém diz, estão escondendo algo de mim.
Batidas firmes soaram na porta, e eu dei um pulo de susto.
- coloque um sorriso nesse rosto e não tire por nada!-disse meu pai.
Ele foi atender a porta enquanto nós posicionamos para receber as visitas.
Entraram pela porta como se fossem donos da casa, olhando tudo de cima a baixo observando a casa inteira e pousando seus olhos em mim.
Primeiro entrou o casal. Eram muito elegantes. Ele me recordo de outras visitas feitas ao meu pai é o Senhor Seymour.
A mulher tinha longos cabelos negros, olhos de um azul profundo e usava um elegante vestido vinho. Ela me olhou minuciosamente enquanto eu sorria discretamente.
Em seguida entrou dois rapazes de idades próximas. O mais velho era um tanto sorridente e descontraído, sorriu ao encontrar meu olhar. Ele era bonito, tinha cabelos negros e olhos azuis, seu nariz era reto e seus dentes brancos em um sorriso sedutor.
O outro garoto era alguns centímetros mais baixos, tinha os olhos azuis e cabelos negros igualmente aos da mãe, porém ele era mais sério, rígido e frio. Seu rosto parecia o de um anjo, totalmente perfeito e iluminado, mas sua aspereza o deixava sombrio. Apesar da beleza herdada, ele me pareceu ser bem rude, não sorriu e não encarou ninguém. Seus olhos azuis quando encontraram os meus se desviou me ignorando completamente.
Minha bochecha estava doendo de tanto sorrir. Depois de breves cumprimentos, meu pai nos chamou para o almoço.
Minha mãe e a Senhora Seymour pareciam velhas conhecidas, trocavam elogios e conversavam sobre os filhos.
Meu pai e o Senhor Seymour pareciam se entender muito bem, hora estavam sérios outras horas sorrindo.
Enquanto isso eu, Louise e os irmãos Seymour comíamos em silêncio, mas como nada é perfeito Louise resolveu abrir a boca.
- você é casado?- perguntou ela com a voz mais meiga do mundo.
Minha cara foi no chão. O que essa menina ta fazendo?
Ela havia se dirigido ao mais novo o irmão de olhos azuis, que parou a taça de vinho no meio do caminho.
Ele sorriu um pouco antes de falar.
- por que Senhorita?
A voz dele era muito interessante, firme, decidido e um tanto aborrecido.
- porque estou procurando um noivo. Estou quase na hora de casa!-disse minha irmã.
- Louise, que modos são esses? -perguntei irritada.
- e quantos anos você tem pequenina? -perguntou o mais velho.
- tenho dez anos e sete meses!-respondeu ela.
O mais velho sorriu.
- acho que é um tanto jovem para pensar em casamento...
- mas eu gostei dele...- disse Louise manhosa .
- se comporte Louise! -pedi.
- Mas quero me casar logo e não ficar solteira como você Helena.
Senti meu rosto queimar de tanta vergonha, não acredito que estou sendo envergonhada pela minha irmã mais nova.
- você é uma graça Louise! -disse o mais novo.- Mas infelizmente ja tenho uma noiva!
- ah eu queria tanto casar com você!
- Eu estou solteiro Louise. Não quer casar comigo? -perguntou o mais velho.
- a mais eu queria ele!- disse Louise apontando para o mais novo.
- nossa, fui passado para trás pelo meu irmão cassula. Nunca mais vou me apaixonar novamente! -disse ele.
- sua noiva é bonita? -perguntou Louise animada.
- não sei. Ainda não a conheço! -disse o garoto.
- como não? Você não fez a corte? - perguntou minha irmã apavorada.
- infelizmente não! -respondeu ele.- Meu casamento foi arranjado.
- como assim? -perguntou minha irmã.
Por incrível que pareça eu estava gostando que ela fizesse essas perguntas, porque eu também queria saber as respostas.
- hoje em dia é mais comum do que se parece. - respondeu o mais velho.
- e se ela for feia?-perguntou minha irmã.
Não consegui conter uma risada.
Eles olharam pra mim. O mais velho sorriu e o mais novo não achou graça.
- e se ela parecer uma bruxa?
- não tem outro jeito, ele vai ter que casar!-disse o mais velho.
- Helena, sirva a sobremesa por favor! -disse meu pai.
Depois de pedir licença eu servi tortinhas de morangos, e logo em seguida meu pai foi tomar um conhaque com o Senhor Seymour enquanto as mulheres foram cuidar de Joseph.
Ficamos nós ali sentados na sala, todos se encarando.
Louise estava sentada ao lado do irmão mais novo enquanto eu estava observando o que eles conversavam.
O mais velho se aproximou e sentou ao meu lado.
- Senhorita?
- Helena. - falei sorrindo angelical.
Ele beijou delicadamente minha mão e disse:
- Dorian Seymour, a seu dispor!
- encantada...- respondi.
- diga-me senhorita, é comprometida? -perguntou ele categórico.
- não senhor! - respondi encabulada.
- como não? Uma Senhorita tão graciosa. Quantos anos tem?
- fiz dezesseis há alguns meses.- respondi.
- Eu não lembro do seu baile de debutante...-disse ele pensativo.
- ah eu não debutei...-respondi.
- por que não? É prometida a alguém?
- não... Acho que não! -respondi.
- curioso...
Fez-se um silêncio constrangedor. Louise estava falando como nunca com o garoto que eu até fiquei com cede.
- gostariam de algo para beber? -ofereci.
- não precisa, obrigado! -disse o mais velho.
Fiquei constrangida ao notar os olhares estranhos que os irmãos Seymour me lançavam.
- você toca piano?-perguntou Dorian apontando para o piano de cauda branco.
- as vezes!
- toque para nós! -pediu ele.
Olhei para o irmão dele que revirou os olhos. Que audácia. Só por isso vou tocar.
- será um prazer...
Toquei algumas músicas enquanto eles estavam sentados observando, eu estava tão concentrada que não reparei que Dorian tinha sentado ao meu lado.
- a Senhorita toca lindamente!
- obrigada!
Ele me observou curioso.
- diga-me o que gosta de fazer? -perguntou ele.
- gosto de tocar, mas principalmente de ler!-falei.
- ler? Como assim? Livros? -perguntou ele sorrindo.
- sim... Qual o problema? -perguntei irritada.
- o problema é que mulheres não devem ler...
- como assim? O que quer dizer com isso?
- mulheres não devem ler, elas começam a ter ideias, começam a pensar!-disse ele irônico.
- isso é uma afronta. Mulheres podem sim ler e ter ideias. Não vejo problemas nisso. Os homens estão acostumados a serem obedecidos e ser os mais inteligentes, mas as mulheres também podem ser inteligentes! -falei irritada.
- está explicado porque ainda está solteira. Você é muito atrevida! -disse ele sorrindo debochado.
- que afronta. Vir até minha casa e me chamar de atrevida na minha cara. Eu exijo respeito! -falei.
- a imagem angelical e inocente ruiu senhorita. É uma garota irritante e que não sabe respeitar os homens. Por isso não arranjou marido.
Irritada, dei um tapa na cara dele.
O estalo foi tão alto que Louise e o irmão de Dorian olharam para nós. O rosto de Dorian estava com a marca da minha mão vermelha. Ele sorria enquanto eu estava furiosa. Minha irmã estava apavorada com o que eu fiz e o irmão dele sorriu brevemente.
Saí de perto do Dorian e o ignorei pelo resto da tarde.
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Casamento Arranjado [Completo]
Ficción históricaEla sempre sonhou em casar por amor, mas ao descobrir que foi prometida em casamento para unificar os negócios das famílias mais poderosas de Londres, fez seus sonhos ruirem e se tornarem seu pior pesadelo, fazendo com que ela acredite que o amor é...