- QUE LUGAR É ESSE DORIAN? -gritei ofendida.
- bem vinda a Taverna do Joe.
- eu não acredito...- eu estava tão furiosa que não conseguia formular uma frase.
- o que achou? -perguntou ele sorrindo.
- eu...Eu não acredito! Você me trouxe pra um... um... antro de perdição! -resmunguei.
- eu pensei que você quisesse liberdade, ser igual aos homens. Pensei que fosse mais moderna...
- esse discurso não me convenceu Dorian. Quero ir embora...
- só alguns minutos Helena, prometo que te protejo!
-Eu vou te matar Dorian Seymour. - respondi bufando.
Dorian me arrastou para dentro do estabelecimento que estava cheio para uma espelunca.
Eu estava odiando aquele lugar, tudo era tão nojento e repulsivo que meu estômago se embrulhou.
Enquanto entrávamos, pude reparar nas instalações do lugar, era um ambiente pequeno como uma caverna subterrânea, pouco iluminado por tochas já bastante usadas, o teto era muito baixo e o local não tinha janelas para circular o ar. A única corrente de ar vinha da porta que vez ou outra era aberta. Para um lugar assim, cada vez mais gente entrava.
O lugar inteiro fedia. Era uma mistura de odores que embrulhava meu estômago. Suor, vinho, cerveja, excrementos, vômito e carne assada se misturavam ao ar da taverna minúscula e cheia de corpos.
O lugar era muito barulhento, uma musica horrorosa e desafinada soava animadamente aos fundos, e os homens cantavam, outros gritavam e conversavam em voz excessivamente alta por causa da bebida. Os barulhos emitidos ali eram de diversos tipos, alguns eu não queria nem imaginar.
As pessoas no local em sua grande parte eram homens, grandes, sujos, barbudos, velhos, caolhos, carecas, gordos, magros, anões... Todos eram asquerosos e se vestiam de forma parecida, roupas velhas, a maioria deles barbudos e muito sujos.
Apesar deles ocuparem grande parte da taverna, eu pudesse identificar uns poucos senhores de respeito da cidade, todos elegantes e limpos.
Haviam muitas mulheres, mas não eram mulheres respeitáveis como eu, todas elas eram mulheres públicas, meretrizes que se sentavam no colo daqueles homens, se esfregavam e lambiam eles. Elas usavam vestidos de cores berrantes, com muito pouco ou quase nenhum tecido, algumas delas nem usavam vestidos, estavam só de combinação. A maquiagem era carregada, e os cabelos eram presos no alto.
Em um canto meio escuro, um casal se beijava ferozmente, ela estava só de combinação e ele estava tentando tirar o cinto de sua calça.
- não fique olhando! -sussurrou Dorian em meu ouvido.
Eu não sabia qual a expressão do meu rosto mas não era boa, porque minha boca estava doendo de tanto fazer careta.
Nossa entrada naquele antro não podia ter sido mais discreta, o barulho cessou imediatamente. A taverna ficou silenciosa a não ser pela música que tocava.
As pessoas ficaram encarando, todos com olhares que iam de curiosidade, raiva, confusão a luxúria e desejo. Me encostei mais em Dorian e escondi meu rosto em seu ombro.
- Ei Joe, duas cervejas por favor!-gritou Dorian me assustando.
Meu corpo tremia, não sei se era frio, medo ou algo pior.
- relaxa, ninguém aqui te fará mal. Está comigo, eu te protejo.
Dorian nos levou até a parte mais funda da taverna, onde havia uma mesa quadrada de madeira muito gasta, e quatro homens sentados a sua volta. Em cima da mesa haviam canecas de cerveja, moedas de ouro e cartas de baralho.
Os homens sentados ali eram assustadores. Todos quatro eram corpulentos, tinham a barba longa e sujeira no rosto.
O mais alto nos olhou de canto de olho. Percebi que ele tinha uma enorme cicatriz no rosto, que ia desde a sobrancelha esquerda até o canto direito da boca. Seus olhos eram de um castanho escuro e pareciam ferozes.
Dois dos homens saíram da mesa, restando o da cicatriz e um outro um pouco menos assustador, ele era menor, mas seus traços também eram amedrontadores, sua barba ruiva tinha trancinhas, seus olhos pareciam verdes mas eu não podia ver direito e ele tinha um dente de ouro quando sorria diabolicamente.
Dorian me sentou de um lado da mesa e ele foi para o outro ficando de frente para mim.
- Garett esta é uma amiga minha, Helena.- disse Dorian me apresentando para o da cicatriz.
Eu dei um sorrisinho nervoso que ele retribuiu com uma carranca.
- e Doc esta é Helena.
Doc sorriu de maneira fria para mim.
- Suas amigas geralmente estão em cima de você Dorian! -disse Garett o da cicatriz.
A voz dele parecia um trovão, me assustou.
- essa é especial! -disse Dorian piscando para mim.
Um homem baixinho e barrigudo veio até nós é deixou duas canecas de cerveja.
Dorian nem esperou, virou a dele imediatamente e pediu outra enquanto eu fiquei encarando aquela caneca de alumínio toda amassada, com uma sujeira grudada que não parece querer sair.
- onde encontrou essa boneca? -perguntou Doc.
- por aí!-disse Dorian.
- ela sabe que isso é cerveja? -perguntou Doc rindo.
- vamos garota, beba!-incentivou Garett.
Com a mão trêmula peguei a caneca e bebi o seu conteúdo. Era amargo e me fez engasgar.
Os três começaram a rir. Rir de mim.
Virei a cerveja de uma vez e pedi outra ao Joe.
- vai com calma boneca! -disse Doc.
- não me chame de boneca! Meu nome é Helena!-falei irritada.
- ela tem personalidade! -disse Doc.
- então vamos jogar? -perguntou Dorian.
Garett e Doc se entreolharam e sorriram.
- tem certeza? Que quer jogar com a mocinha?-perguntou Garett.
- claro que sim!
- você já é um perdedor, pretende ser humilhado jogando com uma garota?-perguntou Doc.
- não me subestimem!-falei baixo.
- disse alguma coisa boneca?-perguntou Garett.
- eu disse para não me subestimar! -falei alto.
- nossa, a boneca está brava!-disse Doc.
- tudo bem então. O que vão apostar? -perguntou Garett.
Apostar? Fiquei confusa. Mas o ouro que Dorian colocou sobre a mesa me fez entender.
Uma mulher só de combinação e batom vermelho, chegou e se sentou no colo de Dorian.
- Carmen! -disse Dorian.
- Dorian querido, que tal uma rapidinha? -perguntou ela.
Fiquei boquiaberta.
- por mais tentador que seja Carmen, hoje não dá. Estou acompanhado. - disse Dorian apontando para mim.
A mulher me encarou furiosa e me mediu de cima a baixo, depois sorriu e disse:
- não me importo em dividir, desde que me de o que quero primeiro! Gosto de plateia!- disse ela.
Minha cara esquentou. Fiquei com vergonha e raiva ao mesmo tempo. Vou matar Dorian.
- por mais tentador que seja, hoje não! -disse ele dando um tapa no traseiro dela.
Ela levantou e ia saindo.
- se me esperar posso te dar o que precisa! -disse Garett.
- me esquece Fera!-disse a mulher enojada e abandonando a mesa.
Segundos depois a mulher foi esquecida, as cartas foram colocadas na mesa e eu era incrivelmente boa nesse jogo.
Eu estava me sentindo eufórica, depois da quinta cerveja eu parei de contar, estava muito animada, mas meu estômago parecia um tanto embrulhado. Eu o ignorei.
Gargalhadas e xingamentos eram ouvidos, nós estávamos nos divertindo, todos pareciam bem.
- passa pra cá! -falei pegando o ouro.
- vamos embora Helena? -perguntou Dorian.
- agora? A não, não saio daqui até tirar todo o ouro que eles possuem!-falei sorrindo.
Recebi os sorrisos assustadores de Garett e Doc, era engraçado, mas percebi que apesar da aparência medonha, eu gosto deles.
- essa é das minhas! -disse Garett.
- ela é um achado Dorian. É pra casar!-disse Doc.
Minha cabeça estava girando, mas eu não ia admitir isso, não quero ir embora. Não agora.
- Garett, por que ela te chamou de Fera?-perguntei com um soluço.
- não é óbvio? -perguntou Doc.
- Por que é feio?-perguntei confusa.
- além disso!-disse Doc gargalhando.
- quer mesmo saber boneca? -perguntou Garett.
- Diz que não!- implorou Dorian.- Ele adora contar essa história.
- quero saber sim!-falei desequilibrada.
Quase caí da cadeira mas Garett me segurou e me colocou de volta no lugar. Só então percebi que suas unhas pareciam garras afiadas.
Comecei a rir. Na verdade a gargalhar.
- sabe boneca, eu era caçador. O melhor de toda Londres. Um dia estava na floresta e fui atacado por um urso. Eu estava desprevenido, só tinha uma faca no momento. Ele me atacou e recebi essa cicatriz, mas eu consegui matar ele. Hoje esse urso virou o tapete da minha sala de estar. O apelido Fera surgiu depois que matei alguns homens do mesmo jeito que um urso, usando só os dentes e as garras! -disse ele exibindo um sorriso maníaco e as unhas afiadas.
Comecei a rir.
- não acredita em mim?-perguntou ele.
Tentei ficar séria mas não conseguia, acabei gargalhando.
- acho que ela já bebeu de mais!-disse Dorian.
- está com medo Dorian? -perguntei.
- medo? Desse cara?-disse Dorian rindo.
Fera rosnou para Dorian que quase caiu da cadeira me fazendo rir ainda mais.
- e você? -perguntei. - Doc! Por que Doc?
- sou um médico! -disse ele simplesmente.
Comecei a rir loucamente.
- não acredita em mim?-perguntou ele rindo também.
- você não parece muito com um médico! -falei rindo.
- não sou esse tipo de médico! -disse Doc.
- que tipo então? -perguntei.
- um tipo que não nos interessa. Vamos pra casa Helena! -disse Dorian.
- ah mas eu quero saber!-me lamentei.
Doc sorriu diabólico.
- sou um médico diferente...-disse Doc.
- como assim?-perguntei.
- eu não salvo as pessoas! -disse ele.
- seja específico Doc, a garota quer saber. Se ela não tem medo de mim, imagina de você!-disse Fera.
- eu mato pessoas. Sou um doutor da morte. Conheço todos os venenos e antídotos que existem e domino todas as técnicas de desmembramento de corpos!
Eu olhei bem para ele. Não parecia um assassino, tinha mais cara de fazendeiro. Então comecei a rir.
- ou ela é muito corajosa ou está muito bêbada! -disse fera gargalhando.
- eu estou bêbada! -falei rindo.
- vamos Helena, ou teremos problemas! -disse Dorian me arrastando pelo braço.
- espero rever a Senhorita! -disse fera.
- até logo boneca! -disse Doc.
- Fera, Doc... Um prazer conhecer vocês! -falei com uma reverência.
Todos começaram a rir.
- nós gostamos muito de conhecer você boneca, venha mais vezes! E se precisar de nossos serviços estamos as ordens!-disse Doc.
- Ela não vai precisar. Obrigado!-disse Dorian.
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Casamento Arranjado [Completo]
Historical FictionEla sempre sonhou em casar por amor, mas ao descobrir que foi prometida em casamento para unificar os negócios das famílias mais poderosas de Londres, fez seus sonhos ruirem e se tornarem seu pior pesadelo, fazendo com que ela acredite que o amor é...