A noite foi um misto de confusão, brigas, choro e despedidas.
Eu estava exausta. As lágrimas secaram em algum momento da noite quando adormeci. Não consigo me lembrar de como fui parar dentro daquela carruagem a caminho da propriedade Seymour.
O caminho é longo. Muito longo. Tem quase um dia inteiro que estamos viajando.
As estradas não são as melhores, estou enjoada de tanto buracos. Como se isso não bastasse...
- ei! -chamei o cocheiro. - por que o senhor parou?
Aconteceu muito rapidamente, três homens me arrancaram de dentro da carruagem e me jogaram lá no chão. O cocheiro ainda ajudou eles... Ou melhor estava junto com eles.
Os bandidos fugiram levando a carruagem e todos os meus pertences... Roupas, jóias, livros...
- meus livros... - choraminguei.
Eu estava no chão, meu vestido branco estava laranja pelo pó do barro vermelho da estrada e ainda não tinha nada por perto, nem sinal de civilização.
Lágrimas quentes rolaram por meu rosto enquanto eu me levantava. Não teria outra alternativa, eu teria que andar até encontrar ajuda.
Caminhei por horas a fio, e cada vez mais cansada e com sede eu estava. Meu cabelo estava grudando na minha pele suada, e meu belo penteado já havia desmontado. Eu não sabia se chorava ou praguejava enquanto retirava meus sapatos que deram bolhas em meus pés.
O caminho se estendia por muitos quilômetros ainda, mas eu ja podia ver algum sinal de civilização. Eram plantações, moinhos e bem ao longe cachorros latindo.
Eu me arrastava por aquela estrada miserável, meus pés doíam de tantas bolhas e de tanto pisar em pedras pelo caminho. Em minhas mãos estavam meu sapatos com o fundo gasto e meu chapéu enfeitado que agora mais parecia um monte de retalhos. Meu vestido estava com a barra rasgada, além de ter uma coloração completamente diferente de quando saí de casa.
Está escurecendo eu preciso me apressar e chegar aquela maldita cidade antes que algo pior aconteça.
Estou desidratada de tanto chorar, cansada de tanto caminhar, com fome, sede e muito triste. O que mais pode me acontecer?
Era início de noite quando finalmente cheguei aos portões da cidade. Entrei e me senti uma pedinte vendo a riqueza e a beleza das casas e do comércio. Os aromas de comida me deu água na boca e o sons de água me fizeram querer implorar por um pouco.
As pessoas me olhavam estranho enquanto eu caminhava para o interior da cidade, quando eu tentava me aproximar de alguém para pedir ajuda eles corriam. Será que dá para piorar?
Um homem a cavalo vinha em minha direção. Eu não sei se ele estava me vendo pois vinha em alta velocidade e não parecia querer parar.
A poucos mestros de mim tive certeza que ele não iria parar, então me joguei para o lado onde caí dentro de um cocho de água para cavalos.
- QUE INFERNO! -praguejei.
O homem então percebendo o que fez desceu do cavalo e veio me ajudar.
- a senhorita está bem?-perguntou ele enquanto me ajudava a me levantar.
Eu olhei para ele furiosa, como... como...
- VOCÊ! -gritei.
Sem nem pensar duas vezes, dei o tapa mais forte que eu pude na cara dele. Minha mão latejou.
- ME TIRE JÁ DAQUI!-gritei novamente.
- mas... como? É você mesmo? Helena?
- QUEM MAIS SERIA? A RAINHA? - gritei mais.
Dorian caiu na gargalhada ao me ver naquele estado deplorável, eu estava tão furiosa que comecei a chorar de novo.
- isso tudo é culpa sua!-resmunguei.
- você parece uma pedinte! -disse ele secando as lágrimas de tanto rir.
Esperei que ele parasse de rir de mim e falei:
-agora que ja riu da minha desgraça, vai me ajudar?
Minha voz estava rouca e falhava por causa do choro.
- o que aconteceu com você? -perguntou ele finalmente esboçando uma reação parecida com interesse.
- saqueadores. Levaram tudo, a carruagem, meus pertences... Vestidos, jóias e meus livros... Inclusive o cocheiro estava junto com eles! -reclamei voltando a chorar.
- eu... - começou ele.
- estou na miséria Dorian. Levaram meus livros...
- você está preocupada com os livros? - perguntou ele incrédulo.
- não faça essa cara, não ver que estou sofrendo? -perguntei irritada.
- é que... livros? Sério?
- você vai ou não vai me ajudar? Eu estou um trapo... Andei por quilômetros. Estou suja, cansada, com sede e fome. E agora você simplesmente me jogou no cocho dos cavalos... Tudo isso é culpa desse maldito casamento arranjado.
Ele me encarou por alguns segundos, balançou a cabeça e sorriu como se tivesse lembrado algo engraçado.
- vêm, vou te tirar daqui!-disse ele subindo no cavalo e me estendendo a mão.
- ah nem pensar! -reclamei. - não subo nesse cavalo com você!
- vamos senhorita, pare de reclamar!
- exijo um cavalo só para mim!-falei.
- sabe cavalgar? -perguntou ele curioso.
- obviamente! -falei dando de ombros.
- vamos senhorita, não temos a noite toda!
- não saio daqui sem um cavalo!
- ótimo, então terá que andar até encontrar minha casa. Boa sorte.
Ele saiu com o cavalo me deixando ali, plantada no meio do nada, suja, molhada e sem conhecer ninguém.
Comecei a chorar novamente, mas dessa vez era raiva o que me fazia tremer, e obviamente um pouco de frio, estamos no outono e já faz frio a noite.
Caminhei pelo caminho que vi o cavalo desaparecer, seguindo por ruas movimentadas até encontrar uma ponte de pedras que levava a um caminho iluminado até um enorme gramado de onde se erguia uma casa monumental, cheia de requinte e beleza.
Sem a menor cerimônia caminhei a passos largos até a escada, subi e esmurrei a porta da frente. Não dou a mínima para a etiqueta ou qualquer coisa, eu só quero descansar.
Uma mulher de meia idade, com cabelos negros presos em um coque firme, pele branca e olhos castanhos, com um vestido preto liso e cinto cinza abriu a porta e me encarou penalizada.
- pobre moça, tão bela e nas ruas. Aguarde aqui, vou ver se te arranjo algumas sobras do jantar. - disse ela achando que eu era pedinte.
- NÃO SOU UMA PEDINTE! -gritei ofendida.- NÃO QUERO SOBRAS!
- ah eu não estou entendendo. Por favor saia da propriedade ou serei obrigada...
- OBRIGADA A QUE? EU NÃO VOU SAIR! SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?
Eu estava tão furiosa que eu só sabia gritar e gritar com a mulher.
- a senhorita é louca. Queira sair por favor! -disse ela tentando fechar a porta.
Eu segurei a porta e continuei gritando:
- EU SOU A NOIVA DO SENHOR IAN SEYMOUR!
- saia daqui sua louca! SOCORRO! -gritou a mulher.
Rapidamente apareceram o Senhor e Senhora Seymour juntamente de seus dois filhos, Dorian e Ian. O senhor Seymour segurava uma arma.
- mas o que está acontecendo aqui? -perguntou o Senhor Seymour.
- já tava na hora!-resmunguei.
Ele me encarou por alguns segundos até que Dorian falou:
-sua noiva chegou Ian!
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Casamento Arranjado [Completo]
Historical FictionEla sempre sonhou em casar por amor, mas ao descobrir que foi prometida em casamento para unificar os negócios das famílias mais poderosas de Londres, fez seus sonhos ruirem e se tornarem seu pior pesadelo, fazendo com que ela acredite que o amor é...