Permanecer ou partir

Medo vencido

Retoco o batom e estico minha saia com a mãos. Verifico cada detalhe da minha aparência. Hoje, especificamente agora, será um grande momento. Estou indo até a sala do meu chefe, Ricardo, para avisa-lo de que ele se tornou meu ex-chefe. Me sinto livre.
Bato na porta, e ouço sua voz áspera solicitando que eu entre. Assim faço. Ele me olha levemente admirado. Imagino que ele nunca tenha me visto arrumada da forma que estou agora. Ele indaga:

-Olá Kristine. A que devo sua interferência?

Ricardo larga a papelada na mesa e me olha nos olhos. Respondo:

-Eu vim pedir demissão.

Sua expressão fica confusa e ele indaga:

-Como assim? Decidiu que irá morrer de fome ou vai voltar para morrer na guerra em Belta?

Com ironia, respondo:

-Obrigado pela preocupação mas, na verdade, eu encontrei um emprego melhor e um chefe mais decente.

Ele ri de maneira debochada. Eu me sinto aliviada de saber que agora ficarei longe deste homem rude, áspero e frio.
Ricardo abre sua gaveta, retira um envelope pardo, estende-o até a ponta da mesa e fala:

-Aqui seu último pagamento.

Me aproximo da mesa e digo:

-Pode ficar para você. Você precisa mais do que a 'refugiada' aqui. Usa isso para comprar um pouco de amor, compaixão e educação.

Ele me olha assustado. Pela primeira vez, eu o afetei de verdade. Em seguida, pego o envelope com o dinheiro e falo:

-Na verdade, essas coisas não se compram então, eu fico com dinheiro!

Sorrio e me despeço:

-Adeus Sr. Ricardo. Espero que você aprenda o básico da educação para tratar melhor seus funcionários. Ao mesmo tempo, obrigado.

Seu rosto fica em total confusão. Com o envelope, me retiro de seu escritório e espero nunca mais ter que voltar ali.
Me sinto liberta.
Me sinto como um passarinho com a gaiola aberta.
A sensação de ser refém me abandona totalmente.
Começo a correr. Corro e dou risadas escandalosas pelos corredores. Meus cabelos esvoaçam e por pouco não deixo o envelope cair. Um segurança, ao ver minha aparente loucura, grita:

-Ei moça!! Algum problema?

Ofegante, respondo:

-Na verdade, acabo de me livrar de um problema.

O segurança ri e eu continuo correndo e rindo. Chego a portaria e, em seguida, estou do lado de fora. Abandono de vez este prédio.
Ofegante e sorrindo, me sinto leve.

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-Seja simpática com os clientes e os ouça atentamente. Anotações detalhadas de seus pedidos são muito importantes.

É meu primeiro dia no meu novo emprego. Anoiteceu e o restaurante abrirá daqui a pouco e Thiago, irmão de Theo, está me orientando e ensinando noções básicas da minha tarefa aqui.
Meu uniforme é uma calça social preta justa e uma blusa social branca de manga curta, que contrasta com minha pele escura.
Presto detida atenção aos informes de Thiago:

-Quando terminar de anotar o pedido, sorria novamente e diga que em pouco tempo o pedido deles estará na mesa. Leve o pedido até aquela bancada.

Ele aponta para a bancada. Eu pergunto:

-E depois?

-Aí é com o chef da cozinha, no caso eu, junto com os outros cozinheiros fazemos de tudo para agilizarmos o preparo das comidas. E você se certifica de que não há outra mesa para ser atendida, caso tenha, você repete o processo, caso não, você apenas aguarda.