Sem festa, por favor

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-Como assim não vai querer uma festa?!

Argumento:

-Não quero esbanjar dinheiro, pois não tenho muito e o que tenho quero usar para ajudar minha família. Uma festa seria cara demais.

Rosalinda reluta em aceitar minha decisão. Por outro lado, eu não tenho dúvida alguma sobre minha decisão. Como eu poderia ostentar uma festa de casamento enquanto minha família vive às escondidas de ataques, e agora, de rebeldes? Eles estão como animais fugindo do predador. Eu não posso fazer isso.
O que eu quero é amar o Theo para sempre. Ter uma festa ou não, jamais mudará isso.
Por fim, digo:

-Nós podemos fazer apenas uma cerimônia simples.

-Tudo bem, querida. Mas, essa decisão não é só sua, você precisa saber o que Theo acha disso. Afinal, o casamento é dele também.

-Sim, eu sei disso. Nós dois vamos nos ver daqui a pouco. Ele disse que tem algo para me mostrar. Vou aproveitar e conversar sobre isso com ele.

Temo que Theo não entenda minha decisão mas prefiro não concluir nada antes de conversar com ele.
Penso em outro assunto: vou me casar e será que existe alguma chance de minha família estar presente? A resposta é óbvia mas, decido manter a esperança.

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-Nem tente espiar!

-Theo, isso é loucura! Me deixa tirar isso!

-Nada disso, senão isso não será uma surpresa!

Theo e eu estamos no carro. Ele dirige enquanto eu estou ao seu lado de olhos vendados. Acredite em mim, é muito ruim não saber e nem ver para onde estamos indo. Nem sei mais se gosto de surpresas, só quero arrancar essa venda e descobrir logo aonde estamos indo mas, Theo parece muito animado e, por isso, decido manter este jogo até o fim.

-Kris, chegamos!

-Até que enfim! Já posso tirar a venda? É horrível ficar com isso!

Theo ri e fala:

-Nada disso, ainda não! Espera um pouco.

Ouço o barulho da porta de Theo sendo aberta, ele sai do carro e fecha a porta. Em seguida, sinto o vento soprar em mim quando Theo abre a minha porta. Ele diz:

-Kris, estou bem aqui na sua frente e vou te ajudar a andar.

-Espera! Quer dizer que vou ter que andar de olhos vendados também?! Sem chance, não quero cair e me quebrar toda nas vésperas do nosso casamento!

-Fica tranquila, você não vai cair. Confia em mim!

Suspiro mas, acabo por confiar e fazer o que Theo me pede. Ele segura minhas mãos e me ajuda, vagarosamente, a sair do carro. Em pé, ainda sem fazer a mínima ideia de onde estou, questiono:

-Agora você vai me contar aonde estamos?

-Ainda não, faltam só alguns passos.

Guiada por Theo, ando mais alguns passos. Finalmente, ele diz:

-Pronto, agora nós chegamos!

Sinto as mãos de Theo tirando a venda dos meus olhos. Agora, a luz do dia incomoda um pouco meus olhos mas, assim que meus olhos ganham foco, fico encantada pelo lindo sobrado em nossa frente. Ele é branco, tem uma linda varanda com um banco de madeira e um lindo vaso de plantas. Sinto paz e felicidade ao observar esta linda casa e um sorriso fica esboçado em meu rosto.
Theo pergunta:

-O que achou dessa casa?

-É linda! É perfeita! Olha só para isso!

Ele sorri e diz:

-Que bom que gostou porque essa é sua casa. Melhor dizendo, essa é nossa casa.

Paro completamente incrédula e não digo uma palavra. Apenas olho para Theo achando que ele dirá que é apenas uma brincadeira. Ele não diz isso. Pelo contrário, ele confirma:

-Ouviu, Kris? Essa é a nossa casa.

Sinto uma emoção muito forte tomar conta do meu coração. Me jogo no colo de Theo e o abraço muito forte. Sussurro um "muito obrigado" e sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto.
Ele diz:

-Vamos entrar! Estou louco para que você veja ela!

Caminhamos eufóricos até a porta. Theo puxa uma chave do bolso e diz:

-Quer ter a honra?

-Claro!

Pego a chave, coloco na fechadura e abro a porta da nossa casa. Aos poucos, vou conhecendo cada cômodo da casa. Ainda faltam algumas coisas para finalizar nossa casa. Na sala, falta uma televisão, na cozinha, uma geladeira e no banheiro um espelho.
O quarto é o cômodo que eu mais gostei. Nele, já tem uma foto de nós dois.
Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei que um dia estaria em Viana, me casando e indo morar numa casa linda como esta.

-Theo, está tudo muito lindo! Não vejo a hora de começar a trazer nossas coisas para cá e decorar tudo!

-Você ainda nem viu o nosso quintal nos fundos! Vem ver!

Vamos até lá e quando vejo o quintal, só consigo pensar no quanto ele é lindo e em tantas coisas que poderemos fazer nele: almoço em família, uma horta, um jardim ou colocar uma piscina. Porém, Theo pensa em outra coisa que poderemos fazer aqui, algo que nem surge na minha mente, pois não são meus planos mas, evidentemente, são os de Theo.
Ele diz:

-Nosso quintal tem espaço suficiente para fazer nossa festa de casamento aqui!

Sem saída, tenho que dizer:

-Theo, sobre esse assunto, tenho algo que preciso te dizer.

Empolgado, ele fala:

-Pode dizer. É por que você já achou um outro lugar para fazer nossa festa?

-Na verdade, não é isso.

-Kris, aqui dá para fazermos uma festa muito linda, ainda mais sendo ao ar livre ao invés de um lugar fechado. Nós podemos colocar uma pista de dança bem aqui no meio e...

Interrompendo-o, digo:

-Theo, eu não quero fazer uma festa.

Pasmado, ele me olha e pergunta:

-Como assim? Você não quer fazer a festa aqui no quintal? Sem problemas, podemos fazer em outro lugar.

-Não, Theo. Você não está me entendendo, eu não quero fazer nenhuma festa! Nem aqui, nem em lugar nenhum. Eu não quero festa.

Permanecer ou partirOnde histórias criam vida. Descubra agora