Permanecer ou partir

Sem saída

-É muito simples, eu quero vingança.

Marcus apoia as mãos nas laterais da janela do carro. Não compreendo o que está acontecendo, não sei o que ele quis dizer com "vingança" afinal, nunca fiz nada ruim com ele, no entanto, minha mente arquiteta uma forma de escapar disso. Tento distraí-lo:

-Como assim? Se vingar do quê?

No momento em que ele começa a explicar, deslizo rapidamente para o banco do carona e abro a porta em questão de segundos. Sem opções, corro floresta a dentro.
No chão desnivelado, sinto dificuldade ao correr. Ouço Marcus correndo atrás de mim. Ele grita:

-Você não vai poder correr para sempre, gata! Melhor desistir!

Esbarro em árvores, galhos e tropeço em pedras mas, não desisto de correr. Corro rápido como se estivesse em Belta fugindo de ataques. A diferença é que agora não sei exatamente do que estou fugindo. O que Marcus quer?
Olho para o céu em busca de luz mas, nesta noite, não há estrelas luminosas no céu e nem lua cheia, apenas escuridão.
Meu coração anseia que, como na noite em que eu estava prestes a ser assaltada, Theo apareça e me livre disso. Doe saber que isso não acontecerá.
Em meio à escuridão, esbarro no que acho ser uma pedra e sou lançada contra o chão. Meu corpo inteiro doe. Agora, sinto arder diversas partes do meu corpo que foram feridas ao longo de minha corrida. Não consigo me erguer.
Marcus aparece atrás de mim com um olhar vitorioso. Ele segura meus braços com força e me ergue do chão sem cuidado algum, me fazendo deixar escapar um leve grito de dor. Com a respiração ofegante, desvio meus olhos de seu rosto. Não quero encara-lo.
Marcus diz:

-Olha só para nossa imigrante assustada. Você nem me deixou dizer nada e saiu correndo. Isso não foi muito corajoso da sua parte não é?

-ME DEIXA EM PAZ, MARCUS!!

Ele ri e fala:

-Pode gritar o quanto quiser, ninguém te ouvirá, nem mesmo o seu Theo. Você achou que ele estivesse aqui mas ele não está!

Preciso sair daqui! Estou num beco sem saída! Na minha frente, o insano do Marcus e atrás de mim, percebo agora, está aquele lago fatal que vi quando estava aqui com Theo.

-O que você quer, Marcus?! Eu vou acabar com você se não me soltar agora! Eu vou arruinar sua vida!

Ele aperta ainda mais forte os meus braços.

-Fique quieta!! Eu preciso te contar o motivo de você estar aqui.

O deboche em sua voz me deixa enjoada. Ele diz:

-Aliás, se você não quer que nada aconteça com a vovó Rosalinda ou com Theo, você deveria se comportar melhor.

Ouvi-lo dizer isso me enche de raiva. Eu tento me soltar de seus braços mas, quanto mais me movo, mais ele aumenta intensidade com que me segura.
Indago:

-Como você sabe sobre Rosalinda?!

Dou-me conta de um fato. Digo:

-Então, era você! Era você que espionava nossa casa!!

-Até que enfim você usou a mente!

-Você é louco! Eu vou acabar com você!

-Você não vai fazer nada Kristine. Você só vai vir comigo para o carro e facilitar o meu lado.

Firmo os pés no chão e digo:

-Não vou para lugar nenhum com você! Você vai me largar agora!

Ele me empurra para trás, na direção do lago.

-Você não tem escolha Kristine!

Tento empurra-lo, tento me soltar e chuto-o. O máximo que aconteceu, foi ele revirar os olhos.
Marcus diz:

-Quer saber? Eu cansei de você! Faz dias que estou tentando e planejando tudo para dar certo mas, não funcionou, já chega! Ricardo que se vire com você!

Ricardo? Meu ex-chefe? Indago:

-O que o Ricardo tem haver com...

Antes que eu termine a pergunta, Marcus usa toda sua força para me empurrar para dentro do lago.
Na minha mente, relembro a seguinte conversa com Theo:

-É muito lindo não é? Porém, é muito perigoso então, ninguém entra aí. 
-Como assim? É só um lago!
-Mas ele é muito fundo. Muitas pessoas já morreram aí.

Em poucos segundos, meu corpo se afunda na imensidão do lago. As feridas em meu corpo doem ao entrar em contato com a água tão fria. Engulo água. Me afogo.
Não vejo nada. Apenas sinto meu corpo pesado indo cada vez mais fundo.
Penso nas pessoas que amo.
Penso em Theo.
Por que isso está acontecendo?
Não há escapatória para mim.
Acabou.