Não quero te perder

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Está anoitecendo. Em minutos, o restaurante abrirá para os clientes. Theo ainda não chegou o que é estranho considerando que ele é sempre um dos primeiros a chegar. Fico preocupada. Pergunto para Michele, mãe de Theo:

-Por que o Theo ainda não chegou?

Ela responde, tranquilamente:

-Não se preocupe, ele me avisou que iria resolver algumas coisas sobre a documentação do restaurante então, podemos abrir sem ele mas, acredito que ele já deve estar chegando.

-Ok. Vou esperar por ele lá fora.

Caminho até o lado de fora do restaurante e olho de um lado para o outro para tentar ver se Theo está vindo. Percebo que não. Apenas fico parada em pé.
De repente, sobrevoando o céu está um helicóptero barulhento. A lembrança dos ataques aparece em minha mente vividamente. Me lembro de quando fomos bombardeados. Barulhos de explosão, gritos e choros invadem minha mente.
Sinto falta de ar. Por mais que eu busque por ar, ele não vem. Levo as mãos ao peito como se isso de alguma forma fosse me ajudar. Obviamente, não ajuda.
Com esforço, começo a caminhar voltando ao restaurante. Tapo meus ouvidos com as mãos para bloquear o barulho no entanto, o helicóptero já se foi e o barulho está sendo projetado por minha mente e por meus traumas.
Isso tem que parar.
Vejo Marcus chegando para trabalhar mas, ao me ver naquela situação, ele não entra no restaurante e vem em minha direção. Ele segura meus braços e indaga:

-O que está acontecendo com você?

Não consigo responder. Ele insiste:

-Kristine, diz alguma coisa.

Minha voz sumiu. Por mais que eu abra a boca, não consigo articular nada. Marcus diz:

-Vem comigo, vamos entrar.

Ele põe um braço ao redor dos meus ombros e começa a me guiar até o restaurante. Quero protestar, dizer que não preciso de ajuda, dizer que posso ir sozinha mas, além de não conseguir falar nada, isso seria uma mentira.
Quando entramos pela porta do restaurante, os outros funcionários nos encaram. Com certeza, meu rosto deve estar expressando meu pânico. Alguns se aproximam e perguntam coisas que não consigo entender. Permaneço muda.
Marcus entra no escritório de trabalho do Theo e me pergunto por quê ele escolheu justamente este lugar. Ele puxa uma das cadeiras que estão na sala e me coloca sentada nela. Marcus se senta numa cadeira próxima a minha. Ficamos em silêncio.
Aos poucos meu coração se acalma, minha respiração fica leve e o ar flui. Ao ver minha expressão mais tranquila, Marcus pergunta:

-Está tudo bem agora? O que aconteceu?

Não quero dividir meu trauma com ele então, respondo:

-Não foi nada, só passei mal. Obrigado por me ajudar! Estou melhor agora, acho que já posso voltar ao trabalho.

Começo a me levantar porém, ele diz:

-Não! Você precisa ficar aí até estar totalmente recuperada! Eu vi como você estava mal, você precisa relaxar um pouco mais. Espera um pouquinho aí, vou te trazer água.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, Marcus sai do escritório. Sinto-me recuperada o suficiente para voltar ao trabalho mas, decido esperar que ele me traga a água. Levanto-me da cadeira e começo a olhar o escritório de Theo. Imagino que ele não gostará de saber que Marcus entrou aqui em seu espaço. Observo em sua mesa, um porta retrato com uma linda foto de nós dois. Sorrio.
Marcus entra novamente no escritório, trazendo o copo com água:

-Aqui sua água Kristine!

Ele se aproxima para me entregar o copo mas, esbarra na cadeira e derrama toda a água em cima do meu uniforme. Ele começa a se desculpar:

Permanecer ou partirOnde histórias criam vida. Descubra agora