Permanecer ou partir

Novo pesadelo

3 dias depois, sou liberada do hospital. Sinto-me aliviada por estar em casa. Faço uma ligação para os meus pais que ficam aliviados em saber que me recuperei. Enquanto eu estava desacordada, Theo ligou para eles informando o ocorrido. Felizmente, o pior já passou.
Aproximo-me da janela do meu quarto e olho para o horizonte. Tento organizar meus pensamentos. Ouço Rosalinda bater na porta:

-Kris, já terminou a ligação? Posso entrar?

Sento na beirada da minha cama e respondo:

-Sim, pode entrar.

Rosalinda abre a porta e entra, sentando-se ao meu lado. Ela diz:

-Se você quiser entender o que aconteceu, posso te contar agora.

-Claro, quero muito entender! Theo disse que me contaria depois mas, sinto que ele não está muito animado para isso.

-Ele sente um pouco de culpa pelo que aconteceu então, é melhor que eu conte.

Rosalinda olha ao redor como se buscasse as palavras certas e começa a contar:

-No dia em que você se demitiu do trabalho na empresa do Ricardo, você disse certas coisas ruins a respeito dele.

-Sim, mas tudo que eu disse era verdade! Ele mereceu ouvir muito mais que aquilo!

-Eu não sei exatamente o que você disse, Kris mas, o telefone do seu chefe estava ligado e ele não sabia então, o seu cliente mais importante ouviu tudo o que você disse de ruim e cancelou um contrato milionário. Certamente, era um cliente de muita boa moral.

Rosalinda faz uma pausa, creio que para deixar-me assimilar as informações, e retorna a falar:

-O seu ego ferido somado a fortuna que ele havia perdido, o fez querer vingança. Mas, ele não sabia como, afinal, você não tinha dinheiro para oferecer. Então, ele contratou Markus para te vigiar e descobrir uma forma de te prejudicar. Era ele quem  ficava nos observando pelo lado de fora! Aquela sensação de estar sendo vigiada era real!

Uma fúria toma conta de mim, levanto-me e começo a andar de um lado para o outro no quarto. Digo:

-Aquele desgraçado! Como ele pôde ser tão horrível!? Ele se infiltrou no meu trabalho e na minha vida!

-Calma, Kris. Deixe-me contar tudo logo de uma vez!

Sento-me novamente aonde estava e Rosalinda volta a contar:

-Markus descobriu que você namora o Theo, dono de um restaurante e aí, ele viu a oportunidade de arrancar dinheiro. O plano inicial era ganhar sua amizade para depois te sequestrar e pedir muito dinheiro ao Theo como resgate. No entanto, ele não conseguiu isso então esperou pacientemente por um momento em que você estivesse completamente sozinha, e por isso, tudo aconteceu.

-Como vocês descobriram isso?

-Ele confessou tudo para o Theo antes de fugir.

Fico em silêncio devido ao choque de realidade. Sinto-me uma idiota. O perigo esteve tão perto de mim e eu não percebi.
Rosalinda diz:

-Eu sinto muito, minha querida. Eu fiquei com tanto medo de te perder!

Ela me puxa para um abraço forte e acaricia meus cabelos com sua mão enrugada.
Digo:

-Vou arrumar minhas coisas para ir trabalhar amanhã.

-Na verdade, Theo dispensou você.

-Como assim?

-Ele está preocupado e quer ter certeza de que você está totalmente recuperada antes de voltar ao trabalho.

-Isso é um absurdo! Não quero ficar em casa, quero voltar para minha rotina normal! Já bastam os dias no hospital.

Abro meu armário e pego algumas peças de roupa e minha escova de cabelo. Rosalinda pergunta:

-Por que vai se arrumar? Aonde você vai?

-Estou indo na casa de Theo, preciso conversar com ele sobre isso.

Entro no banheiro e rapidamente começo a me arrumar. Enquanto isso, Rosalinda diz:

-Kris, pare de ser teimosa! Ele decidiu isso porque te ama e quer cuidar de você! Por favor, fique em casa!

Já pronta, saio do banheiro e digo:

-Tarde demais, tchau.

Ela revira os olhos. Eu pego a chave e vou a pé até a casa de Theo.
Ao chegar lá, não é necessário tocar a campainha pois, Theo já está do lado de fora lavando o seu carro. Quando ele me vê, se espanta. Ele diz:

-Amor, o que aconteceu? Você veio andando até aqui e sozinha? Você devia estar de repouso!

-Eu sei, eu sei mas eu fiquei sabendo que fui dispensada do meu trabalho e vim entender essa história.

-Kris, você acabou de sair do hospital, você não vai voltar para o trabalho.

-Mas, eu estou bem!

-Mas, precisa de tempo!

Desisto de tentar convencê-lo por agora. Pego uma esponja grande, mergulho no balde e digo:

-Vou te ajudar a lavar o carro.

-Sem chance Kris, eu já estou terminando. A única coisa que você deveria fazer é descansar.

-Eu me sinto ótima.

Me abaixo e começo a esfregar um dos pneus, ignorando seu pedido. Theo vem até mim e, com os braços inteiramente molhados, agarra minha cintura e me levanta no alto. Começo a rir bem alto. Ele diz, entre risos:

-Avisei que não precisava de ajuda!

-Me põem no chão Theo!

-Só se me prometer que vai ficar em casa descansando amanhã!

-Não!

Theo, ainda me segurando, se abaixa e enche uma das mãos com a água do balde e ameaça:

-Se não mudar de ideia vou te molhar mais ainda!

Atrás de nós, Thiago abre a porta e pergunta:

-Que barulho é esse?

Digo:

-Thiago, me ajuda! O Theo está me ameaçando!

Continuamos rindo e Thiago diz, sarcasticamente:

-Ah é, parece mesmo que você precisa de ajuda e quer que alguém te salve do Theo!

Theo diz, sorrindo:

-Tem razão, meu irmão. Pode ir, ela vai ficar bem.

Digo:

-Me coloca no chão Theo!

Thiago diz:

-Bem, eu vou entrar.

Ele entra. Decido ceder:

-Tudo bem, Theo. Não precisa jogar água em mim, eu fico em casa amanhã!

Ele ri e diz:

-Muito bem, boa menina.

Ele me coloca no chão, abre os braços e diz:

-Vem cá, me dá um abraço.

Assim faço e me aconchego em seu corpo até que ele vira sua mão com água em meu cabelo, me molhando. Digo:

-Não acredito que você fez isso!

-Não tem problema, você continua linda meu amor.

-Vamos ver se seu carro vai continuar lindo se eu entrar molhada dentro dele.

-Calma aí Kris, vamos conversar.

Rindo, corro e abro a porta do banco de trás de seu carro. Entro e me jogo no banco. Theo faz o mesmo e, entre risos, nos beijamos.

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É tarde da noite. Theo me deixou em casa.
Quando finalmente adormeço, tenho um pesadelo. Desta vez, não é um pesadelo com bombas e explosões. Desta vez, estou me afogando.